São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010

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LIVROS

Esse obscuro objeto do desejo

Caixa com quatro livros reúne 12 histórias divididas em alguns dos temas mais recorren tes do gênero: sexo espacial, deflorament o, gays e transa animal

DE SÃO PAULO

Elas são politicamente incorretas, preconceituosas, repletas de piadas grosseiras e palavrões infames, com cenas de mau gosto, gays caricatos, mulheres sem caráter e velhos tarados. Elas são as revistinhas de sacanagem.
Para começar, elas não recorrem ao eufemismo das chamadas revistas masculinas, que se dizem eróticas.
As revistinhas de sacanagem não são eróticas. São pornográficas mesmo. E isso não lhes tira o brilho, na opinião do editor da Peixe Grande, Toninho Mendes, que escolheu as histórias e organizou a edição.
"Por que resolvi editar pornografia agora, aos 56 anos? Primeiro porque esse tipo de pornografia tem muito a ver com minha formação como homem. Minha e de várias gerações de brasileiros. Depois, porque durante toda a minha carreira percebi que esse material é sistematicamente desprezado como se não tivesse qualidade", afirma Mendes.
Ele aponta, por exemplo, a historinha "A Primeira Noite". O argumento é tacanho, afirmando a necessidade machista de o homem se casar com uma mulher virgem e recatada. Mas os desenhos são de rara qualidade. O gibi é assinado por Rosco, apenas um entre dezenas de pseudônimos de artistas que temiam ter seus nomes associados à pornografia.
Os anais dessa história registram que os primeiros catecismos chegaram ao Brasil no início do século 19, com a vinda da família real.
Eram edições francesas, em geral com 24 páginas. "O principal modelo de revistas desse gênero, porém, foram os "dirty comics", quadrinhos de sexo explícito criados por desenhistas americanos e impressos no México, razão pela qual também eram conhecidos como "tijuana bibles'", escreve Worney Almeida de Souza na introdução do livro 2 dos "Quadrinhos Sacanas".
A produção brasileira começou mesmo nos anos 50, feita por artistas amadores e impressas em gráficas de pequeno porte. Sempre em preto e branco, os catecismos tinham até 32 páginas, em geral folhas sulfite dobradas e grampeadas.
As tiragens variavam entre 2.000 e 5.000 exemplares. A queda começou nos anos 70, com a chegada das fotonovelas eróticas suecas e, depois, do mundo todo.
"Muitas dessas histórias não são obras-primas; alguns desenhos são meio grosseiros", admite Mendes.
"O que me leva a editá-los é que acredito artisticamente nesse trabalho e sou um admirador do que se critica como cultura brega. Porque eu acho que essa é a verdadeira cultura brasileira, na medida em que pelo menos 75% deste país é brega."
Foi especialmente para editar esse tipo de material que Toninho Mendes criou a Peixe Grande. Editor dos quadrinistas Angeli, Laerte e Glauco desde os anos 80, Mendes define assim sua nova aventura: "Um mergulho na história da pornografia, da imprensa, do humor e do quadrinhos". Ou seja, vem mais sacanagem por aí.
(IVAN FINOTTI)


QUADRINHOS SACANAS

ORGANIZAÇÃO Toninho Mendes
EDITORA Peixe Grande
DISTRIBUIDORA Comix (tel. 0/xx/ 11/3951-5037, ou pelo e-mail distribuicao@comix.com.br)
QUANTO R$ 69 (a caixa com quatro livros de 112 págs.)
LANÇAMENTO 5 de julho



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