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LIVROS
Esse obscuro objeto do desejo
Caixa com quatro livros reúne 12 histórias divididas em alguns dos temas mais recorren tes do gênero: sexo espacial, deflorament o, gays e transa animal
DE SÃO PAULO
Elas são politicamente incorretas, preconceituosas,
repletas de piadas grosseiras
e palavrões infames, com cenas de mau gosto, gays caricatos, mulheres sem caráter
e velhos tarados. Elas são as
revistinhas de sacanagem.
Para começar, elas não recorrem ao eufemismo das
chamadas revistas masculinas, que se dizem eróticas.
As revistinhas de sacanagem
não são eróticas. São pornográficas mesmo. E isso não
lhes tira o brilho, na opinião
do editor da Peixe Grande,
Toninho Mendes, que escolheu as histórias e organizou
a edição.
"Por que resolvi editar pornografia agora, aos 56 anos?
Primeiro porque esse tipo de
pornografia tem muito a ver
com minha formação como
homem. Minha e de várias
gerações de brasileiros. Depois, porque durante toda a
minha carreira percebi que
esse material é sistematicamente desprezado como se
não tivesse qualidade", afirma Mendes.
Ele aponta, por exemplo, a
historinha "A Primeira Noite". O argumento é tacanho,
afirmando a necessidade
machista de o homem se casar com uma mulher virgem
e recatada. Mas os desenhos
são de rara qualidade. O gibi
é assinado por Rosco, apenas
um entre dezenas de pseudônimos de artistas que temiam
ter seus nomes associados à
pornografia.
Os anais dessa história registram que os primeiros catecismos chegaram ao Brasil
no início do século 19, com a
vinda da família real.
Eram edições francesas,
em geral com 24 páginas. "O
principal modelo de revistas
desse gênero, porém, foram
os "dirty comics", quadrinhos
de sexo explícito criados por
desenhistas americanos e
impressos no México, razão
pela qual também eram conhecidos como "tijuana bibles'", escreve Worney Almeida de Souza na introdução do livro 2 dos "Quadrinhos Sacanas".
A produção brasileira começou mesmo nos anos 50,
feita por artistas amadores e
impressas em gráficas de pequeno porte. Sempre em preto e branco, os catecismos tinham até 32 páginas, em geral folhas sulfite dobradas e
grampeadas.
As tiragens variavam entre
2.000 e 5.000 exemplares. A
queda começou nos anos 70,
com a chegada das fotonovelas eróticas suecas e, depois,
do mundo todo.
"Muitas dessas histórias
não são obras-primas; alguns desenhos são meio
grosseiros", admite Mendes.
"O que me leva a editá-los é
que acredito artisticamente
nesse trabalho e sou um admirador do que se critica como cultura brega. Porque eu
acho que essa é a verdadeira
cultura brasileira, na medida
em que pelo menos 75% deste país é brega."
Foi especialmente para
editar esse tipo de material
que Toninho Mendes criou a
Peixe Grande. Editor dos
quadrinistas Angeli, Laerte e
Glauco desde os anos 80,
Mendes define assim sua nova aventura: "Um mergulho
na história da pornografia,
da imprensa, do humor e do
quadrinhos". Ou seja, vem
mais sacanagem por aí.
(IVAN FINOTTI)
QUADRINHOS SACANAS
ORGANIZAÇÃO Toninho Mendes
EDITORA Peixe Grande
DISTRIBUIDORA Comix (tel. 0/xx/
11/3951-5037, ou pelo e-mail
distribuicao@comix.com.br)
QUANTO R$ 69 (a caixa com quatro
livros de 112 págs.)
LANÇAMENTO 5 de julho
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