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TEATRO
'Santa Joana 5' ganha clareza e perde humor
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Nas três dezenas de espetáculos
que o centenário de Bertolt Brecht
estimulou, "Santa Joana dos Matadouros" talvez seja o que buscou
mais, esforçou-se mais em achar
"a atualidade de Brecht".
Leituras abertas, apresentações
em toda parte, uma, duas, cinco
versões. Juntou dois diretores,
reuniu estudiosos, ocupou até
uma revista de teatro.
Ao ver a quinta versão, é o caso
de perguntar se valeu tanto esforço para resultado assim modesto.
"Ensaio para Danton", espetáculo anterior do grupo, era, em contraste, tão mais belo -e atual.
Foi-se o rigor na cenografia,
agora lembrando alguma paródia
do "socialismo real", com suas
cores cinzentas e improvisação cenotécnica. Mas não, não são os cenários ou figurinos o problema.
Mudança de foco
Em versão anterior, talvez a terceira, também despojada, "Santa
Joana" trazia todos os sinais do
entretenimento sempre valorizado por Brecht. Estava então concentrada em Bocarra, o vilão.
Ele é o especulador do mercado
da carne, em conflito com os operários em desemprego crescente
-conflito no qual se intromete
Joana, idealista, mas ao final um
joguete na mão de Bocarra.
Naquela versão, o ator Gustavo
Bayer dava a Bocarra atualidade
profunda e humor (e estranheza)
que tornavam a peça uma bela de
uma comédia.
Nesta quinta versão, mudaram-se cenas de lugar, marcações,
diálogos. E Bocarra como que se
escondeu.
As luzes focaram em Joana, que
é o que o texto pede. "Santa Joana" ganhou o didatismo que não
tinha. Tornou-se clara, inteligível,
quase simplista. Mas o impacto
sobre o público já não é o mesmo.
Daí a sensação de um resultado
modesto. Não fosse o espetacular
"Arturo Ui" que passou pelo país,
do grupo Berliner Ensemble,
"Santa Joana" seria o veredicto
contra a atualidade de Bertolt
Brecht.
É preciso dizer que parte da frustração com essa versão supostamente final da peça se deve à atriz
que faz Joana, Deborah Lobo. A
personagem não pede um belo
rosto, mas uma intérprete que
acredite nela -e não a exponha
como uma equivocada, uma desavisada desde a primeira cena.
Talvez o problema esteja também no texto, certamente está em
seu maniqueísmo, mas é algo que
se poderia corrigir na encenação.
A menos que a encenação acredite
que Joana, uma personagem, não
passe mesmo de uma idiota.
Peça: Santa Joana dos Matadouros
Direção: Sérgio de Carvalho e Márcio
Marciano
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Onde: teatro João Caetano (r. Borges
Lagôa, 650, tel. 011/573-3774)
Quanto: R$ 10
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