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CINEMA - ESTRÉIAS
"For All' traduz fascínio
americano
BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha
"For All" é um auto-retrato.
Em metalinguagem. O filme trata
de uma base militar americana em
Natal durante a Segunda Guerra,
de suas influências na vida brasileira e do fascínio dos habitantes
locais pela cultura americana.
E bastam alguns minutos para o
espectador perceber que o que vê
na tela sofre desse mesmo fascínio, sob o pretexto de ironizá-lo.
"For All" é o auto-retrato de
um certo cinema brasileiro sem
personalidade, sem estilo ou identidade possível, que tenta acompanhar um ritmo que na realidade
não sabe dançar -e que ouviu,
mas também não sabe bem onde.
Um certo cinema brasileiro reminiscente da era Embrafilme e
que, embora estilisticamente nulo,
e ao que tudo indica morto, insiste
em ressuscitar.
Sob o verniz da mais asséptica e
convencional das produções americanas (em associação com a Columbia Pictures e a Sony Corporation of America), se esconde a pobreza do roteiro (aliás, surpreendentemente premiado junto com
o filme no último Festival de Gramado), servindo de base para uma
imagem anódina na sua falta de
imaginação e inventividade.
É mais ou menos como na cena
em que uma habitante local prefere seguir esmagando seus alimentos manualmente com um pilãozinho, embora dentro do liquidificador desligado -ou que já não
funciona- que acabou de ganhar
dos americanos.
A aparência é de "alta qualidade
técnica", mas no fundo tudo
(conteúdo e resultado) é mesmo
um lixo.
"For All" quer passar por alguma coisa que não é -e que nem
sabe bem ao certo o que seja.
Como quando um sujeito de capa e chapéu, com cara de ator de
novela brasileira, aparece e começa a ser chamado de "Mr. Bogart" pelos atores à sua volta. O
espectador demora para entender
do que estão falando. De tão incongruente que é a cena.
"For All" é como um filme em
"playback", à imagem dos cantores de auditório que mexem a boca, mas não emitem sons, enquanto um disco toca ao fundo.
É curioso que Nelson Pereira dos
Santos e Cacá Diegues apareçam
como figurantes, o que garante de
certa forma ao filme um aval corporativo, ainda que somente pela
lembrança distante de um antigo
cinema autoral que a presença física dos dois cineastas representa.
Seria um pouco demais achar
que essas participações possam ter
influenciado o júri na premiação
do filme em Gramado. Porque aí já
seria caso de polícia. O mais provável é que os jurados tenham sido
mesmo isentos, guiando-se apenas pelo próprio mau gosto.
Filme: For All
Produção: Brasil, 1997
Direção: Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz
Com: Betty Faria, José Wilker
Quando: a partir de hoje, nos cines SP
Market Cinemark 5, Olido 3 e circuito
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