São Paulo, sexta, 19 de junho de 1998

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CINEMA - ESTRÉIAS
"For All' traduz fascínio americano

BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha

"For All" é um auto-retrato. Em metalinguagem. O filme trata de uma base militar americana em Natal durante a Segunda Guerra, de suas influências na vida brasileira e do fascínio dos habitantes locais pela cultura americana.
E bastam alguns minutos para o espectador perceber que o que vê na tela sofre desse mesmo fascínio, sob o pretexto de ironizá-lo.
"For All" é o auto-retrato de um certo cinema brasileiro sem personalidade, sem estilo ou identidade possível, que tenta acompanhar um ritmo que na realidade não sabe dançar -e que ouviu, mas também não sabe bem onde.
Um certo cinema brasileiro reminiscente da era Embrafilme e que, embora estilisticamente nulo, e ao que tudo indica morto, insiste em ressuscitar.
Sob o verniz da mais asséptica e convencional das produções americanas (em associação com a Columbia Pictures e a Sony Corporation of America), se esconde a pobreza do roteiro (aliás, surpreendentemente premiado junto com o filme no último Festival de Gramado), servindo de base para uma imagem anódina na sua falta de imaginação e inventividade.
É mais ou menos como na cena em que uma habitante local prefere seguir esmagando seus alimentos manualmente com um pilãozinho, embora dentro do liquidificador desligado -ou que já não funciona- que acabou de ganhar dos americanos.
A aparência é de "alta qualidade técnica", mas no fundo tudo (conteúdo e resultado) é mesmo um lixo.
"For All" quer passar por alguma coisa que não é -e que nem sabe bem ao certo o que seja.
Como quando um sujeito de capa e chapéu, com cara de ator de novela brasileira, aparece e começa a ser chamado de "Mr. Bogart" pelos atores à sua volta. O espectador demora para entender do que estão falando. De tão incongruente que é a cena.
"For All" é como um filme em "playback", à imagem dos cantores de auditório que mexem a boca, mas não emitem sons, enquanto um disco toca ao fundo.
É curioso que Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues apareçam como figurantes, o que garante de certa forma ao filme um aval corporativo, ainda que somente pela lembrança distante de um antigo cinema autoral que a presença física dos dois cineastas representa.
Seria um pouco demais achar que essas participações possam ter influenciado o júri na premiação do filme em Gramado. Porque aí já seria caso de polícia. O mais provável é que os jurados tenham sido mesmo isentos, guiando-se apenas pelo próprio mau gosto.

Filme: For All
Produção: Brasil, 1997 Direção: Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz Com: Betty Faria, José Wilker Quando: a partir de hoje, nos cines SP Market Cinemark 5, Olido 3 e circuito


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