São Paulo, sexta, 19 de junho de 1998

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ACONTECE NO RIO
Público viaja no tempo na pop "Time Rocker"

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

Ópera que uniu a música do poeta underground de Nova York Lou Reed e a estética teatral contemporânea do badalado diretor norte-americano Bob Wilson, "Time Rocker" é a grande atração cultural deste final de semana no Rio.
Por quatro dias, de hoje a segunda, no Teatro Municipal, os espectadores poderão conferir o último trabalho da trilogia montada por Bob Wilson com a companhia alemã Thalia Theater, de Hamburgo.
Ícone de Nova York desde que formou a lendária banda The Velvet Underground, em plena efervescência da pop art, nos anos 60, Lou Reed compôs 16 músicas para "Time Rocker" ao ler "The Time Machine", de H.G. Wells.
Nesta ópera moderna -que pretende levar o público por fantástica viagem pelo Egito do século 17, pela Londres do século 19 e pela atual Kansas City (EUA)- se misturam o inglês das canções de Lou Reed e o alemão do autor do texto, Darryl Pinckney.
Os espectadores poderão acompanhar o texto pelas legendas em português exibidas em um painel eletrônico em cima da boca de cena. Mas, sendo um espetáculo de Bob Wilson, é bom ficar bem ligado na movimentação no palco.
Durante entrevista que concedeu anteontem, no Teatro Municipal, o texano Robert Wilson lembrou sua aversão ao teatro com pretensões intelectuais, como por exemplo, o alemão.
Wilson comparou o seu trabalho ao de um coreógrafo que vai construindo um espetáculo a partir da movimentação em cena dos bailarinos. Uma das coisas que mais o incomoda são os exercícios tradicionais em que atores ficam meses lendo e falando um texto.
"Talvez o mais importante no teatro seja ouvir. E se ouve com todo o corpo", disse, completando: "Para o meu trabalho, a consciência do corpo é importante".
Movimento, dança, música, texto e uma visão particular do transcorrer do tempo se misturam nesse espetáculo em que Wilson mostra, durante duas horas e meia, a história do desaparecimento do mestre dr. Procopius, na Londres do século 19. Acusados pela morte, Nick e Priscilla fogem por um túnel do tempo, viajando em um esqueleto gigante de peixe voador.
Os movimentos em cena podem ser lentos ou até mesmo estacionários. Mas, segundo Wilson, sempre haverá movimento. "Não existe ausência de movimento. Mesmo quando os atores param de andar, estão em movimento."
Para ele, não há como conceituar o tempo. "Tudo está acontecendo a cada segundo", afirma. Em cima de um palco, então, a realidade é outra. Wilson considera a movimentação na cena teatral algo particular.
Algo que não tem a ver com as cenas do dia-a-dia do mundo real. Por isso, rejeita a pretensão do chamado teatro naturalista de copiar a vida como ela é.
"O palco é diferente de qualquer outro espaço. Tudo é diferente: a luz, o piso, o ar, a maneira como se fala, como se move. Talvez a coisa mais difícil de aprender no palco seja como ficar em pé nele."


Espetáculo: Time Rocker
Direção: Bob Wilson
Onde: Teatro Municipal do Rio de Janeiro (pça Floriano s/nš, Cinelândia, centro, tel. 021/297-4411)
Quando: de hoje a segunda (hoje, sábado e segunda, às 20h; domingo, às 17h)
Quanto: de R$ 15 a R$ 450



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