São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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MÚSICA
Samuel Rosa, do Skank, se apresenta em BH ao lado de Lô Borges depois de desavenças entre músicos de Minas
Show sela as pazes entre os mineiros

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Acabou a guerra. Ao som de guitarras e longe das bombas, o Clube da Esquina e as bandas mineiras de pop-rock que estouraram nos anos 90 selam as pazes hoje com a estréia do show de Lô Borges, 47, e do "skank" Samuel Rosa, 32, em Belo Horizonte.
Lô Borges é um dos muitos remanescentes do disco seminal "Clube da Esquina" (1971) que sobrevivem no mercado fonográfico quase 30 anos depois.
O outro é Samuel, o vocalista e compositor do Skank, principal banda mineira da atualidade. Estourou em 93 com o disco homônimo e, desde então, não deixou mais as paradas de sucesso. "Tenho todos os discos do Lô lá em casa", afirma Samuel.
Há dois anos, uma matéria da Folha foi combustível para a fogueira das vaidades em Minas Gerais. "Na época, estava excursionando no Japão e tinha gente me malhando aqui em Belo Horizonte. Um lojista japonês com o cabelo todo pintado me disse que a juventude do país dele estava ligada no meu som, mas eu infelizmente não podia dizer o mesmo do meu país", reclama Lô.
Ele afirma que, da parte do Clube da Esquina, nunca houve animosidade, embora muitos amigos tenham ficado ressentidos com a reportagem.
"Ficar enterrando os vivos não é minha praia. Se tem gente que está curtindo essa, pode se arrepender porque pode acabar enterrado."
John, 33, do Pato Fu, outra banda mineira de pop que estourou nacionalmente nos anos 90, diz que houve diferenças, mas isso já acabou.
"Quando você é moleque, vai contra o sistema, mas, hoje, é o lado musical que prevalece", afirma.
As novas bandas mineiras parecem apoiar. A banda Zippados regravou há um ano em seu CD independente "Para Lennon e McCartney", uma parceria de dois irmãos Borges com Milton Nascimento, e chamou Lô para dividir os vocais.
Foi o pontapé inicial. Alguns meses depois, Samuel Rosa convidou Lô para participar da festa do selo Chaos e, este ano, em um show quase invisível do Dr. Penetration, projeto paralelo do Skank, ele subiu no palco para mais uma canja.
Samuel Rosa reconhece que o Skank, devido à repercussão nacional, pode ter uma influência sobre as novas bandas que devem surgir em Minas Gerais nos próximos anos.
"Isso acaba sendo um fator de motivação para o garoto que está passando na rua, carregando a guitarra para a aula de música, talvez como eu me sentia ouvindo as músicas do Lô", diz.
O guitarrista Ronaldo Gino, 30, do extinto Virna Lisi, discorda e diz que o show é resultado de um gosto pessoal de Samuel Rosa que não é compartilhado por todos. Sua nova banda, Radar Tantã, busca um lado melódico mais forte, mas sob influência do Jesus & Mary Chain e não do Clube da Esquina.
"O Samuel tem um gosto musical bem mineiro. Acho que o show com o Lô era uma vontade pessoal dele. Minhas referências pessoais são outras, mas vou estar lá (na estréia) para ver", diz o guitarrista.


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