especial para a Folha


"Noturnos de Hollywood" serve como uma introdução ao universo de James Ellroy. Enquanto não chegam em tradução brasileira os outros três volumes do "quarteto de Los Angeles" (apenas "Los Angeles - Cidade Proibida" foi lançado aqui pela Record), os sete contos resumem a visão antiglamourosa de Ellroy sobre a cidade que inventou o glamour norte-americano.
São histórias sórdidas de policiais violentos e corruptos, golpistas espertos e gananciosos, homens obcecados por vingança, em suma, o material habitual a partir dos quais o escritor reescreve a história de uma cidade e uma época.
O clima paranóico que Ellroy demonstra em suas narrativas mais longas fica, no entanto, um pouco prejudicado; a concisão do formato conto limita o efeito psicótico que frases entrecortadas e repetidas produzem ao longo do tempo.
Os melhores aperitivos à obra de Ellroy são "Do Passado", "O Blues de Dick Contino" e "Já Que Eu Não Tenho Você" . Nas duas primeira histórias, que são relacionadas, os veios autobiográfico e ficcional se mesclam exatamente como o escritor iria fazer em "Meus Lugares Escuros".
A partir de uma memória de infância, ele resgata um personagem real, o acordeonista Dick Contino, e encontra uma coincidência com sua história. Como Ellroy, Contino também pulou fora do exército por medo da guerra: o escritor teve pânico de ir para o Vietnã, o músico, para a Coréia. Ellroy vai em busca de Contino e a conversa dos dois transforma-se no segundo conto, um relato mirabolante de um sequestro forjado.
"Já Que Eu Não Tenho Você", por outro lado, é um exercício de situações e personagens que Ellroy iria desenvolver de forma mais extensa e complexa em "Tablóide Americano". Novamente, o que surpreende é a capacidade de construir universos ficcionais a partir de dados e personagens da realidade ou, por outra, apresentar a ficção como uma realidade tão plausível quanto a que ficou registrada na história.

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