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CINEMA
Pauline Kael, 80
A maior crítica de cinema dos Estados Unidos neste século, que influenciou atores e diretores, só começou a carreira aos 34 anos
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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Pauline Kael (pronuncia-se
"quêiul"), a mais importante crítica de cinema dos EUA neste século, que chega hoje aos 80 anos de
idade, começou sua carreira em
1953, surpreendentemente tarde.
A maioria dos críticos se aventura na profissão mal saída dos primeiros filmes que vê. Apesar de ter
começado na atividade já madura,
ela se transformou, na expressão
de seu editor na revista "The New
Yorker", William Shawn, numa
"cinemateca ambulante".
"É improvável que alguém no
mundo tenha escrito sobre mais
filmes do que ela. Também é improvável que alguém no mundo
carregue na cabeça mais informações sobre filmes do que ela", dizia
Shawn.
É lendária sua capacidade de
lembrar e descrever cenas, sequências, imagens, efeitos, gestos de
atores. Mas, ainda segundo Shawn,
isso é apenas o ponto de partida
para avaliar Pauline Kael.
Eloquente, apaixonada, original,
dona de estilo claro, ao mesmo
tempo conciso e completo, suas
opiniões foram tão importantes
para cineastas e atores que seus
textos influenciaram a própria
evolução da arte cinematográfica
na segunda metade do século.
Ainda vai se estudar como as críticas de Kael alteraram a concepção e a realização de artistas importantes. Quando isso ocorrer,
com certeza se verificará que sua
contribuição para a melhoria de
muitos deles não foi pequena.
Até os 34 anos, Kael, filha de imigrantes poloneses estabelecidos na
Califórnia (Costa Oeste dos EUA),
estudou filosofia, trabalhou como
cozinheira, costureira, balconista
de livraria e editora de livros, casou-se e teve uma filha, Gina.
Sua primeira crítica foi publicada em 1953, numa publicação de
pequena circulação em Boston,
Massachusetts (Costa Leste do
país). Depois, escreveu para revistas mais acadêmicas ou profissionais do que de grande público.
A experiência inicial com uma
publicação de circulação nacional
foi frustrante: Kael foi demitida da
"McCall's" depois de ter arrasado
sem piedade o imensamente popular "A Noviça Rebelde" (primeiro filme em 26 anos a quebrar os
recordes de bilheteria de "...E o
Vento Levou", Oscar de melhor filme e melhor diretor de 1965).
"Nós nos tornamos idiotas emocionais e estéticos quando nos ouvimos cantarolando essas músicas
doentiamente melosas", escreveu
Kael sobre as canções de Richard
Rodgers e Oscar Hammerstein.
A passagem pela "McCall's" deu
visibilidade a Kael. Pouco tempo
depois de sua demissão, viria a
oferta de Shawn para o feliz casamento que teria durante décadas
com a revista "The New Yorker".
A publicação, que até pouco tempo fazia jus ao seu slogan publicitário ("provavelmente a melhor
revista do mundo"), lhe ofereceu a
independência e o espaço que o talento ensaístico e a liberdade de espírito de Kael exigiam.
"O leitor está sempre no meu
processo de raciocínio" foi o mote
do trabalho de Kael na "The New
Yorker". A "objetividade palerma"
era o seu principal inimigo, dizia.
Além de sua colaboração semanal na "The New Yorker" (leia
mais sobre a publicação em texto
ao lado), Kael escreveu vários livros, alguns com compilação de
suas resenhas e outros monotemáticos.
Aposentada de empregos fixos a
partir de 1991, ela continuou a escrever eventualmente para publicações importantes e a compilar
seus escritos para coletâneas.
Kael vive numa casa de pedra, lotada de livros, nas montanhas
Berkshire, em Great Barrignton,
no interior de Massachusetts.
Sofre do mal de Parkinson em estágio moderado, teve meningite no
final do ano passado, mas seu estado geral de saúde é bom.
Sua memória não é tão prodigiosa como na descrição de Shawn,
mas ela tem se dedicado a escrever
a autobiografia. Além disso, não se
recusa a atender jovens cineastas
que querem ouvir a opinião de
"Lady Kael" sobre seus filmes.
Alguns, como Wes Anderson, diretor de uma comédia chamada
"Rushmore", que está sendo lançada este ano nos EUA, dão graças
a Deus por Kael não estar mais na
ativa: ela os teria destruído, como
o próprio Anderson reconheceu
após tê-la visitado e lhe ter mostrado o filme. Mesmo assim, o jovem
Anderson aprendeu com Kael. Como muitos antecessores.
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