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CINEMA/ESTRÉIA
Em "O Escorpião de Jade", ambientado nos anos 40, cineasta assume de novo o vaudeville hollywoodiano
Woody em transe
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Mais surpreendentes do
que a aparição de Woody
Allen no Festival de Cannes deste
ano foram as farpas que soltou, na
coletiva de imprensa realizada a
propósito do lançamento de
"Hollywood Ending" (obra ainda
inédita no país), contra os cinéfilos que vivem da eterna nostalgia
da velha Hollywood. "Não se deve
mistificar a "idade de ouro" do cinema americano, dos anos 30 e
40, quando há obras-primas muito raras comparadas aos filmes
realizados no período", dizia ele.
A contradição não estava apenas no fato de Allen ser, ele próprio, um incurável nostálgico, como prova boa parte de sua obra, a
exemplo deste "O Escorpião de
Jade". A contradição também está
no fato de o vaudeville hollywoodiano, gênero que não foi muito
profícuo em obras-primas, mas
que representa, como poucos, o
espírito daquela época, ser o alvo
principal da nostalgia de Allen.
Passada a pretensiosa fase bergmaniana dos anos 70/80, superada (não sem sequelas) a febre felliniana, Allen recupera, pouco a
pouco, a despretensão de sua proposta original: ser um herdeiro de
Groucho Marx e Bob Hope na tradição do vaudeville americano.
"O Escorpião de Jade" está mais
para Hope do que para Marx. É
como se uma velha estrela do vaudeville protagonizasse um filme
noir: o argumento é pífio, as situações não convencem muito, mas a
presença e as tiradas de Allen seguram. E, afinal de contas, não vamos ao cinema senão para vê-lo
-sua arte, aliás, reside um pouco
nesse talento para, mesmo nos
momentos de menor inspiração,
não nos desencorajar a ver um
próximo filme seu.
Allen é o investigador de uma
companhia de seguros (personagem típico do noir) que, na Nova
York dos anos 40, vê-se às voltas
com uma série de roubos de jóias
e com a competição de uma nova
colega de firma (Helen Hunt).
Allen envelheceu mais do que a
sua persona cinematográfica. Aos
que ainda acham um constrangimento ver, em "O Escorpião de
Jade", um senhor de 65 anos às
voltas com moças de 20 e 30 anos,
Allen responde com uma vitalidade insuspeita e a velha auto-ironia. Desnecessário dizer que Allan
Stewart Konigsberg (seu verdadeiro nome) continua a ser a melhor versão de Woody Allen.
O Escorpião de Jade
The Curse of the Jade Scorpion
Direção: Woody Allen
Produção: EUA/Alemanha, 2001
Com: Woody Allen
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Cinearte, Jardim Sul e circuito
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