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CORTINA DE FUMAÇA
Cabrera Infante explica sua escrita nada séria e comenta a relação entre Fidel Castro e intelectuais
"Não peço perdão por nada que escrevo"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir a continuação da
entrevista com o escritor Guillermo Cabrera Infante.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Folha - Saramago, um dos aliados
intelectuais de Fidel, fez barulho
mundo afora este ano quando também rompeu com ele. Como o sr.
acompanhou o episódio?
Cabrera Infante - O fato é que Fidel não ficará sozinho por enquanto. Não enquanto existir
García Márquez, escritor mais
importante que Saramago e defensor mais encarniçado e fanático de Fidel, por razões que algum
dia se saberão. Fidel não vai durar
muito. Está muito doente e só se
mantém pela luxúria do poder.
Folha - Ele não está mais fumando charutos, não é?
Infante - Parou de fumar com
uma explicação muito engraçada.
Disse que era para que a humanidade se livrasse desse vício. E Cuba estava exportando mais charutos do que nunca. Parou, na verdade, por recomendações médicas. Ele fumava um atrás do outro. E não é assim que se fumam
"habanos".
Folha - Quantos o sr. fuma por
dia?
Infante - O certo é um depois do
almoço, outro depois do jantar.
Como não estou almoçando, por
problemas de saúde, tenho fumado só pela noite.
Folha - "Fumaça Pura" foi o primeiro livro que o sr. escreveu diretamente em inglês. O sr. já declarou em uma entrevista que prefere
seus textos escritos nesse idioma. É
isso mesmo?
Infante - Não, era brincadeira.
Acho apenas que escrever em inglês é muito gratificante em comparação com escrever em espanhol. As regras são outras e permitem que se fabrique com mais
facilidade os trocadilhos. O espanhol é péssimo para isso, é de uma
seriedade extraordinária. Isso
precisa ser mudado. Quando escrevo procuro não ser tão sério.
Folha - Em português (e também
em inglês) se usa muito a expressão "com o perdão do trocadilho".
Por que se costuma pedir desculpas por jogos de palavras?
Infante - Não sei. Acho que é um
mau costume. Não peço perdão
por nada que escrevo. Se o leitor
entende o que faço, magnífico. Se
não entende, que entenda outras
coisas. Quem pede desculpas por
trocadilhos é quem acha que seus
trocadilhos foram malfeitos. Isso
me incomoda. Prefiro um trocadilho ruim do que a falta da piada.
Folha - O sr. fala rapidamente no
livro sobre os charutos brasileiros.
Eles são "uma piada" ou vale a pena acendê-los?
Infante - Não os conheço muito
bem. Fumei alguns da marca
Suerdick por quatro meses quando estava em Hollywood nos anos
70, fazendo o filme "Vanishing
Point", e achei que eram muito
agradáveis. Mas só os encontrei
por lá. Aqui na Inglaterra nunca
topei com charutos brasileiros.
FUMAÇA PURA. Autor: Guillermo
Cabrera Infante. Tradução: Mario Pontes.
Editora: Bertrand Brasil . Quanto: R$ 49
(420 págs.).
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