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São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

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CORTINA DE FUMAÇA

Cabrera Infante explica sua escrita nada séria e comenta a relação entre Fidel Castro e intelectuais

"Não peço perdão por nada que escrevo"

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir a continuação da entrevista com o escritor Guillermo Cabrera Infante.
(CASSIANO ELEK MACHADO)

Folha - Saramago, um dos aliados intelectuais de Fidel, fez barulho mundo afora este ano quando também rompeu com ele. Como o sr. acompanhou o episódio?
Cabrera Infante -
O fato é que Fidel não ficará sozinho por enquanto. Não enquanto existir García Márquez, escritor mais importante que Saramago e defensor mais encarniçado e fanático de Fidel, por razões que algum dia se saberão. Fidel não vai durar muito. Está muito doente e só se mantém pela luxúria do poder.

Folha - Ele não está mais fumando charutos, não é?
Infante -
Parou de fumar com uma explicação muito engraçada. Disse que era para que a humanidade se livrasse desse vício. E Cuba estava exportando mais charutos do que nunca. Parou, na verdade, por recomendações médicas. Ele fumava um atrás do outro. E não é assim que se fumam "habanos".

Folha - Quantos o sr. fuma por dia?
Infante -
O certo é um depois do almoço, outro depois do jantar. Como não estou almoçando, por problemas de saúde, tenho fumado só pela noite.

Folha - "Fumaça Pura" foi o primeiro livro que o sr. escreveu diretamente em inglês. O sr. já declarou em uma entrevista que prefere seus textos escritos nesse idioma. É isso mesmo?
Infante -
Não, era brincadeira. Acho apenas que escrever em inglês é muito gratificante em comparação com escrever em espanhol. As regras são outras e permitem que se fabrique com mais facilidade os trocadilhos. O espanhol é péssimo para isso, é de uma seriedade extraordinária. Isso precisa ser mudado. Quando escrevo procuro não ser tão sério.

Folha - Em português (e também em inglês) se usa muito a expressão "com o perdão do trocadilho". Por que se costuma pedir desculpas por jogos de palavras?
Infante -
Não sei. Acho que é um mau costume. Não peço perdão por nada que escrevo. Se o leitor entende o que faço, magnífico. Se não entende, que entenda outras coisas. Quem pede desculpas por trocadilhos é quem acha que seus trocadilhos foram malfeitos. Isso me incomoda. Prefiro um trocadilho ruim do que a falta da piada.

Folha - O sr. fala rapidamente no livro sobre os charutos brasileiros. Eles são "uma piada" ou vale a pena acendê-los?
Infante -
Não os conheço muito bem. Fumei alguns da marca Suerdick por quatro meses quando estava em Hollywood nos anos 70, fazendo o filme "Vanishing Point", e achei que eram muito agradáveis. Mas só os encontrei por lá. Aqui na Inglaterra nunca topei com charutos brasileiros.


FUMAÇA PURA. Autor: Guillermo Cabrera Infante. Tradução: Mario Pontes. Editora: Bertrand Brasil . Quanto: R$ 49 (420 págs.).


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