São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2005

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França registra "boom" de autores e títulos do Brasil

KÊNYA ZANATTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A temporada brasileira na França tem estimulado a publicação de livros ligados ao Brasil. De acordo com um levantamento feito pela reportagem, 55 novos títulos já chegaram às livrarias desde o início de 2005. Esse número já ultrapassa a média anual dos últimos três anos, de aproximadamente 50 lançamentos, segundo dados da revista "Infos Brésil".
As novidades incluem livros sobre a história, a sociedade e a música brasileiras, com destaque para títulos sobre os índios e a Amazônia, além de catálogos de exposições e álbuns de fotografias.
As relações entre a França e o Brasil são outro filão explorado, de textos e litografias de Jean-Baptiste Debret sobre os índios brasileiros até romances de escritores franceses que se inspiraram no Brasil.
As traduções literárias compreendem, entre outros, Chico Buarque, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Patrícia Melo e Raduan Nassar, passando pela poesia de Ana Cristina Cesar e por uma coletânea de literatura de cordel, além de várias reedições.
"Nós concentramos os lançamentos porque isso cria um efeito de massa, chama a atenção do leitor nas livrarias, mostra que há uma diversidade na literatura brasileira", explica a editora Anne-Marie Métailié, que lançou neste ano livros de Luiz Ruffato, Lya Luft, Betty Mindlin e Tabajara Ruas e também reeditou clássicos de Machado de Assis e Lúcio Cardoso.
Christine Villeneuve, da editora Des Femmes [Das Mulheres], comemora o Ano do Brasil com livros de Clarice Lispector e Nélida Piñon. "O Brasil é um país emergente em literatura, e na França estamos percebendo isso. Queremos encontrar novas autoras brasileiras para publicá-las."

Saturação
Especializado no domínio lusófono, o editor Michel Chandeigne, que edita até o fim do ano oito títulos ligados ao Brasil, acredita que o impulso é passageiro: "O Ano do Brasil na França acelerou um pouco as coisas, mas, em contrapartida, teremos dois ou três anos com menos livros depois dessa saturação. O interesse dessas manifestações é que elas mobilizam a imprensa e permitem ganhar leitores".
O temor de que as publicações se tornem escassas após o final dessa manifestação se baseia no que aconteceu após o pico de lançamentos, em 1998, quando o país foi homenageado pelo Salão do Livro de Paris, chegando a 50 títulos lançados apenas durante o mês do evento.
Por isso, hoje a palavra de ordem é continuidade. "O aumento do número de títulos é real. Mas é preciso continuar a publicar, até o momento em que a literatura brasileira fará parte da paisagem literária do leitor francês como a literatura em língua espanhola ou inglesa", analisa Gustavo Guerrero, responsável pelo setor de literatura sul-americana da editora Gallimard.
Michel Riaudel, professor na Universidade Paris 10 e diretor da revista "Infos Brésil", acredita que, a longo prazo, a valorização da literatura brasileira na França passa pelo ensino do português, em declínio nos últimos anos. "Precisamos de pessoas capazes de ler a literatura na fonte e funcionar como tradutores ou intermediários junto aos editores franceses."

Português
"Nós, editores, conhecemos bem o inglês mas não necessariamente o português", confirma a editora Joëlle Losfeld, que contou com indicações de "pessoas de confiança" para lançar este ano livros de Adriana Lunardi e Giselda Leirner.
Outro obstáculo para a penetração da literatura brasileira seria a falta de autores conhecidos. "Houve uma época em que o sucesso de Jorge Amado ajudava a promover a literatura do Brasil. Hoje, os franceses não sabem citar um grande autor brasileiro vivo. É importante colocar alguns rostos sobre a literatura brasileira contemporânea", avalia Riaudel.
Convidados para os grandes festivais de literatura na França, escritores brasileiros como Bernardo Carvalho, colunista da Folha, Milton Hatoum e Luís Fernando Veríssimo, entre outros, têm vindo encontrar o público francês.
"A presença dos escritores é muito importante para a comunicação e a percepção da literatura", diz Marie-Dominique Blondy, responsável pelo setor de livros e colóquios do Ano do Brasil na França, que aposta em uma estratégia educativa: "As escolas e as bibliotecas municipais organizaram todo um programa em torno da literatura do Brasil, para estimular a curiosidade".
Um subsídio especial do governo francês para a edição de algumas obras consideradas essenciais faz parte das medidas para difundir a literatura nacional.
"Quero incluir o Brasil no meu catálogo, mas não poderia publicar todos esses livros se não fossem os subsídios", afirma Paul Noirot, da editora Maisonneuve et Larose, que lança ainda neste ano livros de João Cabral de Melo Neto e José Almino, além de obras de especialistas brasileiros em diversas áreas.


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