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França registra "boom" de autores e títulos do Brasil
KÊNYA ZANATTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A temporada brasileira na França tem estimulado a publicação
de livros ligados ao Brasil. De
acordo com um levantamento feito pela reportagem, 55 novos títulos já chegaram às livrarias desde
o início de 2005. Esse número já
ultrapassa a média anual dos últimos três anos, de aproximadamente 50 lançamentos, segundo
dados da revista "Infos Brésil".
As novidades incluem livros sobre a história, a sociedade e a música brasileiras, com destaque para títulos sobre os índios e a Amazônia, além de catálogos de exposições e álbuns de fotografias.
As relações entre a França e o
Brasil são outro filão explorado,
de textos e litografias de Jean-Baptiste Debret sobre os índios
brasileiros até romances de escritores franceses que se inspiraram
no Brasil.
As traduções literárias compreendem, entre outros, Chico
Buarque, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Patrícia Melo e Raduan Nassar, passando pela poesia de Ana
Cristina Cesar e por uma coletânea de literatura de cordel, além
de várias reedições.
"Nós concentramos os lançamentos porque isso cria um efeito
de massa, chama a atenção do leitor nas livrarias, mostra que há
uma diversidade na literatura
brasileira", explica a editora Anne-Marie Métailié, que lançou
neste ano livros de Luiz Ruffato,
Lya Luft, Betty Mindlin e Tabajara
Ruas e também reeditou clássicos
de Machado de Assis e Lúcio Cardoso.
Christine Villeneuve, da editora
Des Femmes [Das Mulheres], comemora o Ano do Brasil com livros de Clarice Lispector e Nélida
Piñon. "O Brasil é um país emergente em literatura, e na França
estamos percebendo isso. Queremos encontrar novas autoras brasileiras para publicá-las."
Saturação
Especializado no domínio lusófono, o editor Michel Chandeigne, que edita até o fim do ano oito
títulos ligados ao Brasil, acredita
que o impulso é passageiro: "O
Ano do Brasil na França acelerou
um pouco as coisas, mas, em contrapartida, teremos dois ou três
anos com menos livros depois
dessa saturação. O interesse dessas manifestações é que elas mobilizam a imprensa e permitem
ganhar leitores".
O temor de que as publicações
se tornem escassas após o final
dessa manifestação se baseia no
que aconteceu após o pico de lançamentos, em 1998, quando o país
foi homenageado pelo Salão do
Livro de Paris, chegando a 50 títulos lançados apenas durante o
mês do evento.
Por isso, hoje a palavra de ordem é continuidade. "O aumento
do número de títulos é real. Mas é
preciso continuar a publicar, até o
momento em que a literatura brasileira fará parte da paisagem literária do leitor francês como a literatura em língua espanhola ou inglesa", analisa Gustavo Guerrero,
responsável pelo setor de literatura sul-americana da editora Gallimard.
Michel Riaudel, professor na
Universidade Paris 10 e diretor da
revista "Infos Brésil", acredita
que, a longo prazo, a valorização
da literatura brasileira na França
passa pelo ensino do português,
em declínio nos últimos anos.
"Precisamos de pessoas capazes
de ler a literatura na fonte e funcionar como tradutores ou intermediários junto aos editores franceses."
Português
"Nós, editores, conhecemos
bem o inglês mas não necessariamente o português", confirma a
editora Joëlle Losfeld, que contou
com indicações de "pessoas de
confiança" para lançar este ano livros de Adriana Lunardi e Giselda
Leirner.
Outro obstáculo para a penetração da literatura brasileira seria a
falta de autores conhecidos.
"Houve uma época em que o sucesso de Jorge Amado ajudava a
promover a literatura do Brasil.
Hoje, os franceses não sabem citar
um grande autor brasileiro vivo. É
importante colocar alguns rostos
sobre a literatura brasileira contemporânea", avalia Riaudel.
Convidados para os grandes
festivais de literatura na França,
escritores brasileiros como Bernardo Carvalho, colunista da Folha, Milton Hatoum e Luís Fernando Veríssimo, entre outros,
têm vindo encontrar o público
francês.
"A presença dos escritores é
muito importante para a comunicação e a percepção da literatura",
diz Marie-Dominique Blondy,
responsável pelo setor de livros e
colóquios do Ano do Brasil na
França, que aposta em uma estratégia educativa: "As escolas e as
bibliotecas municipais organizaram todo um programa em torno
da literatura do Brasil, para estimular a curiosidade".
Um subsídio especial do governo francês para a edição de algumas obras consideradas essenciais faz parte das medidas para
difundir a literatura nacional.
"Quero incluir o Brasil no meu
catálogo, mas não poderia publicar todos esses livros se não fossem os subsídios", afirma Paul
Noirot, da editora Maisonneuve
et Larose, que lança ainda neste
ano livros de João Cabral de Melo
Neto e José Almino, além de obras
de especialistas brasileiros em diversas áreas.
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