São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2005

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ANÁLISE

Espaço marca a obra do artista

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A grande lide de Franz Weissmann foi a relação de sua obra com o espaço. Nesse sentido, já em 1958, o crítico Mário Pedrosa apontava a característica central que marcou sua carreira: "Sua escultura é de puro espaço, nos antípodas de qualquer lembrança figurativa".
Apesar da rápida passagem pelo figurativismo, como a maioria dos artistas de sua geração, Weissmann ergueu, em mais de 60 anos de carreira, uma das mais fortes obras identificadas com o construtivismo, do qual foi dos primeiros adeptos no Brasil.
Foi em Belo Horizonte, a partir de 1945, quando sai do Rio para escapar "do peso acadêmico imposto na Escola Nacional de Belas Artes", que sua escultura, ainda figurativa, começa a abandonar a idéia de unidade para ressaltar espaços vazios, que passam a fazer parte constante de seu trabalho. Lá, como professor da então Escola do Parque, hoje Escola Guignard, foi professor de Mary Vieira, Farnese de Andrade e Amilcar de Castro, influenciando o trabalho desses escultores.
Na década de 50, com o construtivismo, Weissmann encontra o campo perfeito para o uso dos espaços ao compô-los com formas geométricas, que irão evidenciar toda a sua obra daí em diante, ora em estruturas modulares, ora pelo uso das dobras. Para o crítico Frederico Morais, a escultura "Cubo Vazado", de 1951, "é a primeira escultura rigorosamente concreta realizada no Brasil. Nele, o verdadeiro material não é o aço, mas o vazio".
Ironicamente, Weissmann tem esse trabalho recusado na 1ª Bienal de São Paulo, por "mau acabamento técnico", mas o reparo é feito na edição posterior da mostra, que aceita o trabalho.
Em 1958, ao abandonar o uso de pedestais para as esculturas -e o fez na Galeria de Arte das Folhas, em São Paulo-, Weissmann adianta uma das marcas do "Manifesto Neoconcreto", do qual seria um dos signatários, no ano seguinte. Ao colocá-las diretamente no chão, para que estivessem "como árvores", o artista busca uma organicidade e uma aproximação da arte com a vida. Assim como suas parceiras neoconcretas Lygia Clark e Lygia Pape, entre outros, Weissmann buscava integrar o observador à obra de arte, assim como o próprio ambiente em que ela se insere.
Em 1967, novamente a Bienal paulista, então em sua 9ª edição, funciona como plataforma para nova etapa no trabalho do artista, o uso dar cor, com uma torre vermelha, feita de ripas de madeira, e trabalhos utilizando estruturas primárias da indústria, pintados em azul e amarelo. "A cor tem uma importância essencial em minha escultura de agora. Tudo é luz e cor. Sem luz e cor, nada existe", afirmou na época.
Era a luz solar, aliás, a que melhor poderia, segundo o próprio Weissmann, ativar sua obra: "Minhas esculturas necessitam da luz solar, de grandes áreas. [...] Gostaria de construir minhas esculturas de maneira que permitisse ao espectador entrar dentro delas". Com a sua morte, graças à grande quantidade de obras públicas do artista no país, seu desejo poderá ser cumprido.


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