Seleção feita pelo curador Fernando Cocchiarale apresenta artistas que despontaram na construção da capital

Exibição no CCBB tem obras de nomes como Athos Bulcão, Lygia Clark, Franz Weissmann e Hélio Oiticica

JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA

A cena proposta é a praça dos Três Poderes, no centro da capital do país, mergulhada em obras construtivistas. Coloridas ou não, retorcidas ou com curvas suaves.
O cenário, existente só na imaginação, pode ser visto na mostra "Brasília e o Construtivismo, um Encontro Adiado", a partir desta terça (dia 20), na sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.
A exibição reúne esculturas e quadros de artistas concretos e neoconcretos brasileiros, que despontavam na construção da capital.
Entre eles, Athos Bulcão, Lygia Clark, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Luiz Sacilotto e Lygia Pape.
O curador Fernando Cocchiarale diz que, apesar de serem de vanguarda e combinarem com o espírito da capital, esses artistas foram excluídos da composição. O construtivismo evoluiu sobre o choque do realismo pós-Revolução Russa, com influência da estética industrial.
"A cidade não traz o que havia de mais radical da arte no período. Não é que não possa ter o [Alfredo] Ceschiatti [que tem obras em Brasília], só não entendo por que não tem Amilcar de Castro e Hélio Oiticica", indaga.
Cocchiarale lista o que considera algumas das razões para a escolha de nomes fora do construtivismo.
Elas vão de questões ideológicas -"a esquerda brasileira sempre considerou que a arte figurativa se prestava mais às ideias políticas"- a uma preferência geracional da parte de Oscar Niemeyer.
Não é só pela inovação, porém, que a cidade e o construtivismo se aproximam, continua. Nas formas, também se parecem -o que se pretende mostrar, comparando as esculturas externas com o edifício do CCBB.
Concluindo, o curador diz que "ainda há tempo" para a união dessa manifestação artística com a capital.
E dá uma dica: a área livre do Museu da República ficaria mais atraente com as obras de Franz Weissmann.