São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 2002

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Com o sucesso de seu segundo disco, "Nellyville", o rapper Nelly, 24, desbanca Eminem do topo da parada de hip hop dos EUA

Trono em chamas

Divulgação
Nelly, dono das primeiras colocadas na Bill board


CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

Já ouviu falar em Nelly? Pois ele é o rapper de 24 anos que está tirando o sono de Eminem, 29.
Lançado no final de julho nos EUA e na Europa, seu segundo disco, "Nellyville", beira 1 milhão de cópias vendidas. Há duas semanas o álbum bate "The Eminem Show" em vendas. Nelly é no momento o segundo maior vendedor de CDs do mercado norte-americano, perdendo apenas para "o chefe" Bruce Springsteen.
Entre as dez músicas mais tocadas nos EUA, segundo a Billboard, Nelly ganha disparado de Eminem. São dele as duas primeiras colocadas ("Dilemma", em primeiro, e "Hot in Herre", hit grudento há 17 semanas entre as dez primeiras, em segundo). Eminem aparece na 14ª posição, com "Cleanin" Out My Closet".
Nascido em St. Louis, centro-sul dos Estados Unidos, Nelly não se encaixa nos moldes do rap da Costa Leste (Jay-Z, Wu-Tang Clan) nem da Oeste (Dr. Dre, Tupac, o próprio Eminem).
Bem mais pop do que seu "rival" branquelo, Nelly levou duras críticas de pensadores do rap (como KRS One) por condutas "traidoras" do movimento, como gravar com a boys band 'NSync ou ter um "sitcom" próprio na TV.
Em entrevista à Folha por telefone, o rapper disse não ligar para críticas e contou que não está numa competição por vendagem com Eminem. Sobre o som do concorrente, ele disse, blasé: "Sei lá, nunca ouvi". OK, sr. Nelly. Abaixo, a entrevista.

Folha - Por que você acha que seu disco está indo melhor do que "The Eminem Show"?
Nelly -
Não sei. Não vejo isso como uma competição. Todo mundo quer me colocar numa briguinha com o Eminem, com outras pessoas. Não sei por que um disco vende mais que outro. Tem lugar para todo mundo.

Folha - Certo. Mas você gosta do som do Eminem?
Nelly -
Sei lá, nunca ouvi. Não ouço. Mas tenho certeza de que tem muita gente que escuta e gosta do que ele faz.

Folha - Quem são os rappers que você admira?
Nelly -
Gosto de Jay-Z, Scarface, Outkast, E-40, Tupac, Ice Cube, LL Cool J...

Folha - Você é de St. Louis, então não pertence ao rap da Costa Leste nem da Oeste. É confortável não ter de seguir nenhuma "escola"?
Nelly -
Acho que é uma boa, sim. Mesmo assim sinto que represento o lugar de onde eu vim.

Folha - O que você acha da relação entre rap e violência?
Nelly -
Com o rap, meninos de 17, 18 anos podem virar milionários da noite para o dia. Só que aquela vida difícil que ele viveu, o passado sofrido da infância pobre não vai se apagar com a mesma rapidez. Não dá para pedir que o cara mude de uma hora para outra só porque agora ele tem dinheiro e fama. Daí que o cara se tornou rico, mas sua mentalidade não evoluiu muito. Leva um tempo para a pessoa perceber que todos os movimentos dela serão registrados e podem virar mau exemplo para os garotos. O rapper, em muitos casos, pode ser tachado de malvado só porque disse um palavrão em público. É preciso tomar cuidado para não passar idéias erradas.

Folha - Você estava descrevendo a sua situação na resposta?
Nelly -
Acho que sim. Venho de família pobre e ganhei muito dinheiro com a música.

Folha - Você já participou de um filme ["Snipes"". É verdade que vai ter um "sitcom" próprio?
Nelly -
Não tem nada certo ainda. Tenho que ver se vou ter tempo de fazer...

Folha - Com um programa de TV, carreira no cinema... está seguindo os passos de Will Smith, não?
Nelly -
Não exatamente. Quando Will foi para a TV, a carreira dele como rapper estava bem devagar. Comigo, se eu topar, vou fazer TV no auge da carreira. É diferente.

Folha - Como surgiu a idéia de gravar com o 'NSync? Você sabia que todo mundo ia criticar, não é?
Nelly -
Eles são meus amigos. Recebi um telefonema deles e resolvi aceitar. Vejo isso como um ato revolucionário da minha parte. Quando Run-DMC gravou "Walk This Way" com o Aerosmith, provavelmente foram ridicularizados da mesma forma que eu fui. E sabe o que aconteceu? A música virou um clássico. O que eles fizeram me deu forças para fazer o que eu fiz.

Folha - Você tem atitude de bad boy, mas seu rap flerta com teen pop e r'n'b. Existem dois Nellys?
Nelly -
Minha atitude não tem de estar refletida na minha música. Já vivi a minha parte de gangsta antes de entrar no rap. Minha vida real já foi dura o bastante. Acho engraçado ver alguns rappers falando de crimes... esses caras nem sabem do que estão falando. Escolhi não seguir esse caminho no rap. Se quiser gravar com o 'NSync, dane-se, vou gravar.


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