São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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OS ÚLTIMOS MODERNOS

Em bate-papo em SP, trio discute sua influência

"Fotografia era intragável e antiquada", diz Farkas

Eduardo Salvatore/Divulgação
"Retrato em Off" (1972), que integra a exposição de Eduardo Salvatore no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo


FREE-LANCE PARA A FOLHA

Reunidos a pedido da Folha após "um século", segundo Thomas Farkas, sem se verem, os amigos Eduardo Salvatore, German Lorca e o próprio Farkas se encontraram para um bate-papo regado a memórias, fotografias, café e bolo de chocolate no apartamento de Salvatore, em São Paulo, na tarde da última terça.
Animados com suas exposições e o reconhecimento de seus trabalhos, falaram também de projetos atuais: Salvatore mostrou orgulhoso o livro de fotografias do neto Luiz Eduardo Salvatore, a quem ensinou a fotografar e emprestou suas câmeras. Farkas segue trabalhando com afinco na edição das fotos de uma expedição realizada em 1974 pelo Rio Negro, na Amazônia, e Lorca cuida do seu acervo pessoal e busca viabilizar a publicação de fotos inéditas tendo por tema o parque Ibirapuera. À conversa. (EC)
 

Folha - Vocês tinham noção, quando fundaram o Foto Cine Clube Bandeirantes, em 1939, que aquelas reuniões de amigos terminariam por alterar completamente o rumo da fotografia brasileira?
Thomas Farkas -
Meu pai era dono da Fotóptica que ficava ao lado do fotoclube. Acabei chegando lá pela proximidade. Achava a fotografia que era praticada naquela época uma chatice. Era intragável e antiquada. A gente conversava e queria fazer uma coisa diferente.

German Lorca - Havia uma mudança muito clara de postura. Quando fiz a primeira foto tremida, as pessoas não entendiam nada, diziam que a gente estava louco. No início, nossas fotos não eram bem aceitas nos concursos.

Eduardo Salvatore - Ainda bem que insistimos. A gente não tinha noção que estava alterando a história, mas isso ficou claro.

Folha - Nos anos 40 havia um clima para se quebrar barreiras, não?
Salvatore -
Sim, na arte havia esse clima. O que mais me impressionou quando comecei a fotografar foi descobrir que aos poucos eu percebia um mundo que era só meu. Comecei fotografando o mundo visível e depois fui me apaixonando pelas linhas e formas dos objetos. Não havia tema, e sim uma nova forma de enxergar o mundo independentemente do que fotografávamos.

Lorca - Foi uma mudança muito clara de postura. De repente apareceu o Geraldo de Barros riscando e recortando negativo. Ficamos doidos. Era muito divertido.

Farkas - Ao eleger um enquadramento, a gente tinha uma postura nada acadêmica. Acho mesmo que a gente plantou uma semente.

Folha - Há quanto tempo vocês não se viam?
Farkas -
O Eduardo fazia um século que eu não via.

Folha - Um século?
Farkas -
Filho, na nossa idade tudo faz um século que as coisas aconteceram...


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