São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Apesar de percurso interessante, dupla de diretores mostra tropeços em filme

A atriz Tainá Medina em cena do filme "A Alegria", nova obra dos diretores Felipe Bragança e Marina Meliande

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"A Alegria" é, até certo ponto, o filme da geração do "fim da história", do sentimento de nada a fazer, nada por que combater, nada a obter. Representada por quatro amigos, a geração opõe-se ao nada que lhe é oferecido e dispõe-se a lutar contra.
É, também, o filme de uma cidade que experimenta o fantasma do próprio extermínio, da submersão, do fim sob uma onda de violência, a saber, o Rio de Janeiro.
Unir os dois temas não é simples. O primeiro envolve uma atitude existencial, uma disposição diante de como o mundo se apresenta a jovens de determinado momento. O segundo diz respeito a uma experiência urbana.
O produto de ambos talvez seja esse grupo de adolescentes em busca de si mesmos diante de uma realidade que se apresenta bastante hostil.
Diante dela, o grupo de amigos estará com Luiza, sua aparente líder, que menciona uma "política da alegria", talvez a única viável ao grupo (e à geração).
Essas questões já se encontravam no filme anterior da dupla Felipe Bragança e Marina Meliande, "A Fuga da Mulher Gorila". Talvez não seja inexato dizer que estavam colocados de maneira mais eficaz lá, na trajetória da garota que se transformava numa assustadora gorila.
Aqui certos elementos retornam: as máscaras, a menção ao fantástico (um tanto incompreensível) ao final, compondo a estranha e fascinante colagem de imagens ora coloquiais, ora poéticas, ora realistas, ora alegóricas.
A aproximação entre esses registros gera uma incômoda sensação de obscuridade (para a qual colaboram decisivamente as deficiências do som e da direção de atores).
Sem paternalismo, os tropeços podem ser vistos como parte do percurso muito interessante escolhido pelos realizadores, de um grupo que se opõe ao comercialismo (o sucesso de bilheteria como fim) do cinema brasileiro.
Talvez essa trajetória se torne mais clara quando observarem que a limpidez de algumas de suas imagens é mais significativa do que os momentos em que a necessidade de buscar a originalidade parece se interpor entre os autores do filme e seu objeto.

A ALEGRIA
DIREÇÃO Felipe Bragança e Marina Meliande
PRODUÇÃO Brasil 2010
COM Tainá Medina e Clara Barbieri
ONDE Espaço Unibanco Augusta
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular


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