São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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TV

Canais internacionais miram estrangeiros e brasileiros que moram fora e já são ótimos negócios para as redes

Globo e Record disputam audiência da África ao Japão

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um motoqueiro estatelado na marginal Tietê e o congestionamento causado pelo acidente interessam a alguém que não more em São Paulo? É um paradoxo, mas o "Cidade Alerta", jornalístico local de mundo cão, que registra essencialmente as tragédias paulistanas, é sucesso em Maputo, capital de Moçambique.
O programa é transmitido em países da África pela Record Internacional, que conta com nove retransmissoras no continente.
Africanos de territórios de língua portuguesa são, ao lado de portugueses e brasileiros que moram fora, um mercado de ouro para Record e Globo, que distribuem suas programações internacionalmente. Os dois canais apresentam basicamente os mesmos programas do Brasil, com alguns exclusivamente produzidos para fora e pequenas variações de horário em razão do fuso. Jogos e o jornalismo são ao vivo, o que faz com que o "Jornal Nacional", por exemplo, vá ao ar à tarde nos EUA e de madrugada na Europa.
Antes vistos como investimento para o futuro, os canais são hoje produtos prioritários, com lucro e potencial de crescimento. Assim, a disputa por telespectadores e anunciantes cruza fronteiras e vira batalha de Miami (EUA) a Luanda (Angola). A Globo distribui o canal preferencialmente por assinatura e a Record abre o seu gratuitamente na maioria dos países. O faturamento da Globo Internacional é 80% de assinantes e 20% de publicidade, enquanto o da Record com assinatura é insignificante perto dos anunciantes.
Nos EUA, os dois canais são pagos. O da Record custa U$ 14,99 por mês e conta com 30 mil clientes, enquanto o da Globo, a US$ 20, já foi vendido a 56 mil.
Além de bons negócios para as TVs, as redes divulgam o Brasil no exterior e são vistos com bons olhos pelo governo federal (que deve lançar um exemplar estatal).
Em Moçambique, apesar de a fala ser mais próxima à de Portugal, termos usados só no Brasil começam a ser adotados, segundo José Roberto Procopiak, 49, conselheiro da Embaixada do Brasil em Maputo. "Para se referir a "fila", as pessoas diziam "bicha", como em Portugal. Com as TVs brasileiras, já se usa "fila'", afirma ele, que mora há dois anos no país e tem em casa Globo e Record.
"A TV fez muita coisa do Brasil virar sucesso entre os moçambicanos. É o caso de novelas, futebol, música e até de personalidades, como Netinho [Record]", diz Procopiak, casado com uma sul-africana que vê novelas da Globo. Segundo ele, o "Cidade Alerta" (Record) causou até polêmica. "Disseram que os criminosos daqui se inspiravam no programa."
Uma das vantagens das TVs brasileiras para os africanos é a agilidade do jornalismo, na avaliação do angolano Francisco Manoel, 44, segurança da Embaixada do Brasil em Luanda. Em Angola há só dois canais locais, ambos estatais. "A TV Globo traz notícias antes das nossas", diz ele, também fã do "Sítio do Picapau Amarelo".
A Globo Internacional completa cinco anos. Hoje com a mesma grade horária para os 63 países em que é sintonizada, lançará três diferentes, a fim de se adaptar aos diferentes fusos: um para América, outro para Europa/África e um terceiro para o Japão. Além disso, acaba de fechar contrato com a norte-americana Comcast Cable, maior operadora de TV a cabo do mundo, com alcance de 21 milhões de domicílios. O acordo levará o canal às duas principais cidades da colônia brasileira nos Estados Unidos: Miami e Boston.
Também emplacou seu sinal em 150 mil residências no México graças a uma parceria fechada neste mês com a Sky e a Cablevisión, as duas maiores do país. Segundo dados oficiais, está presente em 1,8 milhão de domicílios no mundo, com aproximadamente sete milhões de espectadores.
A Record, há três anos no ar, afirma ser difícil calcular seu alcance mundial, já que em muitos países é aberta. Além dos 30 mil nos EUA, diz estar presente em cinco milhões de domicílios em Portugal, 24 milhões no Reino Unido, 3,5 milhões nos outros países europeus e 10 mil no Japão.


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