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TV
Canais internacionais miram estrangeiros e brasileiros que moram fora e já são ótimos negócios para as redes
Globo e Record disputam audiência da África ao Japão
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um motoqueiro estatelado na
marginal Tietê e o congestionamento causado pelo acidente interessam a alguém que não more
em São Paulo? É um paradoxo,
mas o "Cidade Alerta", jornalístico local de mundo cão, que registra essencialmente as tragédias
paulistanas, é sucesso em Maputo, capital de Moçambique.
O programa é transmitido em
países da África pela Record Internacional, que conta com nove
retransmissoras no continente.
Africanos de territórios de língua portuguesa são, ao lado de
portugueses e brasileiros que moram fora, um mercado de ouro
para Record e Globo, que distribuem suas programações internacionalmente. Os dois canais
apresentam basicamente os mesmos programas do Brasil, com alguns exclusivamente produzidos
para fora e pequenas variações de
horário em razão do fuso. Jogos e
o jornalismo são ao vivo, o que faz
com que o "Jornal Nacional", por
exemplo, vá ao ar à tarde nos EUA
e de madrugada na Europa.
Antes vistos como investimento
para o futuro, os canais são hoje
produtos prioritários, com lucro e
potencial de crescimento. Assim,
a disputa por telespectadores e
anunciantes cruza fronteiras e vira batalha de Miami (EUA) a
Luanda (Angola). A Globo distribui o canal preferencialmente por
assinatura e a Record abre o seu
gratuitamente na maioria dos países. O faturamento da Globo Internacional é 80% de assinantes e
20% de publicidade, enquanto o
da Record com assinatura é insignificante perto dos anunciantes.
Nos EUA, os dois canais são pagos. O da Record custa U$ 14,99
por mês e conta com 30 mil clientes, enquanto o da Globo, a US$
20, já foi vendido a 56 mil.
Além de bons negócios para as
TVs, as redes divulgam o Brasil no
exterior e são vistos com bons
olhos pelo governo federal (que
deve lançar um exemplar estatal).
Em Moçambique, apesar de a
fala ser mais próxima à de Portugal, termos usados só no Brasil começam a ser adotados, segundo
José Roberto Procopiak, 49, conselheiro da Embaixada do Brasil
em Maputo. "Para se referir a "fila", as pessoas diziam "bicha", como em Portugal. Com as TVs brasileiras, já se usa "fila'", afirma ele,
que mora há dois anos no país e
tem em casa Globo e Record.
"A TV fez muita coisa do Brasil
virar sucesso entre os moçambicanos. É o caso de novelas, futebol, música e até de personalidades, como Netinho [Record]", diz
Procopiak, casado com uma sul-africana que vê novelas da Globo.
Segundo ele, o "Cidade Alerta"
(Record) causou até polêmica.
"Disseram que os criminosos daqui se inspiravam no programa."
Uma das vantagens das TVs
brasileiras para os africanos é a
agilidade do jornalismo, na avaliação do angolano Francisco Manoel, 44, segurança da Embaixada
do Brasil em Luanda. Em Angola
há só dois canais locais, ambos estatais. "A TV Globo traz notícias
antes das nossas", diz ele, também
fã do "Sítio do Picapau Amarelo".
A Globo Internacional completa cinco anos. Hoje com a mesma
grade horária para os 63 países
em que é sintonizada, lançará três
diferentes, a fim de se adaptar aos
diferentes fusos: um para América, outro para Europa/África e um
terceiro para o Japão. Além disso,
acaba de fechar contrato com a
norte-americana Comcast Cable,
maior operadora de TV a cabo do
mundo, com alcance de 21 milhões de domicílios. O acordo levará o canal às duas principais cidades da colônia brasileira nos
Estados Unidos: Miami e Boston.
Também emplacou seu sinal
em 150 mil residências no México
graças a uma parceria fechada
neste mês com a Sky e a Cablevisión, as duas maiores do país. Segundo dados oficiais, está presente em 1,8 milhão de domicílios no
mundo, com aproximadamente
sete milhões de espectadores.
A Record, há três anos no ar,
afirma ser difícil calcular seu alcance mundial, já que em muitos
países é aberta. Além dos 30 mil
nos EUA, diz estar presente em
cinco milhões de domicílios em
Portugal, 24 milhões no Reino
Unido, 3,5 milhões nos outros
países europeus e 10 mil no Japão.
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