São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

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MODA

Desfiles na cidade têm temporada mais consistente desde o 11 de Setembro

Minimalismo suave dá o tom do verão 2006 em NY

ERIKA PALOMINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Em sua mais consistente temporada desde o 11 de Setembro, a New York Fashion Week encerrou sua versão de verão 2006 com muito assunto e algumas contradições. O que, na moda, significa deslocamento de magma. Ou seja: mudanças à vista.
Com o outono em altas temperaturas, os fashionistas viram desfilar nas passarelas looks para o calor. O mesmo calor que sentíamos na rua. O estilista Marc Jacobs reclamou do que chamou de "beachificação", tipo uma "praificação" de Nova York. Como se, na cidade, todas estivessem vestidas como se à beira-mar. Verdade. De comprimentos curtos, arrastando chinelos, regatinhas, as nova-iorquinas mais parecem estar em Maresias ou no Leblon. "A moda requer um pouco mais de esforço", desdenhou Jacobs.
Ou menos. Por exemplo, é pura simplicidade e total despojamento o verão de Francisco Costa para a Calvin Klein. Em sua sexta coleção à frente da marca-ícone dos EUA, o estilista brasileiro apresentou um estilo suave, com muito voile de algodão, chiffon de seda, piquê e jérsei. As cores: branco, off-white, beges, cinzas e cores-crayola: roxo e verde. Pitadas de anos 60 nas formas, como a estrutura circular dos vestidos e o trapézio quadrado em A são a evolução de seu trabalho de inverno, completando uma coleção inteligente, que tem peças deliciosas, como o falso trench-coat cinzinha, amassado.
Ao assumir, sua tarefa era hercúlea: preservar e inovar o estilo Calvin Klein. O que ele fez foi tornar mais calmo, menos árido, o minimalismo. Como Narciso Rodriguez, também numa cartela de cores neutras e suaves, clara, em que alças finas sustentam vestidos de comprimentos diferentes, quase ao chão ou abaixo do joelho, em grande domínio das proporções e dos materiais. Os recortes, técnicos e sutilmente sensuais, vêm vazados sob o busto, sob os braços, nas costas, com sobreposições aludindo a arquitetura dos biquínis.
São dois desfiles-síntese da temporada. Também pela presença das celebridades, assuntinho obrigatório nas rodas da moda ou nas mesas exclusivas do restaurante japonês Megu (já chamado de "o novo Nobu"). Depois que a editora da "Vogue" América Anna Wintour se levantou do desfile da Calvin Klein (a sala estava um forno e o desfile atrasou), a mídia especializada iniciou intensa discussão sobre celebridades nos desfiles, sobre editores e jornalistas serem preteridos diante dos artistas, sobre apresentações mais voltadas de fato para a mídia de moda e não para ter famosos na primeira fila... A discussão promete esquentar.
Enquanto isso, outro brasileiro, Carlos Miele, segue seu caminho em terras ianques. E ele tem bala. Seu casting deu gosto, com todas as meninas do momento: abrindo com Gemma Ward, seguida de Vlada, Natasha, Marija, Lily, Freja e as brasileiras-da-hora Jeísa, Solange e Carol Trentine. Miele se voltou para um tema multiétnico, sob um tema Península Ibérica. No início, em que se alternavam sofisticados vestidos de renda guipure de crochê conseguiram momentos bonitos e mais leves. Mas numa coisa ele foi mais econômico: nas suas estamparias, que deixou somente para o final, mais "mouro". Em geral, Miele optou por um estilo mais Bloomingdale's, mais adulto. Deve conhecer seu público, tanto que foi bastante aplaudido.
Na linha loucurinhas étnicas, Zac Posen misturou, misturou, mas acertou. Se não em tudo, nos vestidos, nos quais ele tem expertise. Uma das promessas da moda americana, ele cria sempre para a rica e excêntrica jet-setter em férias permanentes. A novidade: aqui está também sua mais consistente coleção para o dia, com tons quentes aquecendo tardes sob grandes chapéus.
E se a supremacia dos neutros, das cores da natureza e dos metalizados já era prevista nesta temporada, ganham força (a partir das araras da Balenciaga na rua 22) o violeta, o lavanda e o roxo. Por isso, atenção para o novo mantra: o lilás é o novo rosa.


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