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DANÇA/CRÍTICA
Balé Teatro Guaíra investiga a perda da memória
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
O Balé Teatro Guaíra (BTG),
dirigido por Carla Reinecke,
fez duas estréias na sexta-feira.
Duas peças que abordam a percepção do real: "Verschwindend
Kleine Welt" ("Pequeno Mundo
Desaparecido", rebatizado só de
"Pequeno Mundo" ), com coreografia e cenário do alemão Felix
Landerer, aborda a perda da memória; e "Caixa de Cores", do brasileiro Luiz Fernando Bongiovanni, trabalha o sentido da visão, como compreensão do mundo.
No início de "Pequeno Mundo",
paira sobre o centro do palco um
gigantesco espelho quadrado,
quebrado em pedaços. Sobre o
chão, sua sombra acentua as fissuras. Sozinho, no centro do palco, um homem olha para o alto.
Na segunda cena, várias ilhas
quadradas de luz dividem o piso.
Surgem seis homens, todos
iguais, de terno preto sem camisa,
executando seqüências de movimentos, em tempos sucessivos.
(Não se pode deixar de dizer: nos
momentos em que todos dançam
em conjunto, a fragilidade do grupo fica aparente, pela falta de unidade dos gestos -seja pela irregularidade de tempo, seja pelo desenho do corpo no espaço.)
Todos os bailarinos vêm do fundo do palco e se vão no escuro
sem fim. Depois é a vez das mulheres, com direito a vários duos.
O figurino de Paulinho Maia cria
novas formas no espaço, com
saias vermelhas e cinzas, para homens e mulheres. Em certos pontos, a sobreposição de movimentos redobra a sensação dramática
de desnorteamento.
Trilha musical variada: de Fazil
Say (pianista clássico turco) e
Henryk Górecki a Christian Wallumroed Ensemble, Vasks e The
Notwist. Ressalte-se o duo final,
quando a coreografia ganha nova
força, nos limites de um quadrado
de luz. Aqui se vê a qualidade dos
intérpretes de forma mais expressiva: um corpo passa pelo outro,
acentua a música no detalhe do
gesto, encontra os rastros deixados pelo movimento anterior.
"Caixa de Cores", de sua parte,
tem movimentação muito rica.
Bongiovanni dá visualidade à
música de Vivaldi, articulando
uma peça onde a linguagem dos
gestos clássicos ganha outra fluidez. Tempos lentos e rápidos se
contrapõem na construção coreográfica; por exemplo, no solo de
um bailarino de laranja, todo
acentuado, contraposto ao casal
do fundo, de vermelho e amarelo,
que cria amplas linhas para em seguida quebrá-las e entrar no ritmo do outro.
A trilha inclui também música
de Mano Bap e de Ricardo Iazzetta e incorpora comentários verbais sobre as cores, calcanhar de
Aquiles da peça. Pois se a própria
narrativa coreográfica é rica de
detalhes e insinuações, a simplicidade de comentários como "Me
lembra o mar" ou "É vibrante"
compromete seu efeito. A luz ressalta os painéis coloridos e as caixas iluminadas do cenário. E os figurinos tiram proveito das massas de cores para construir um sinuoso desenho no palco.
Tudo somado, com as estréias o
BTG sinaliza caminhos concretos
para a continuidade e renovação
da companhia. O que é boa notícia para eles, e para todos nós.
Avaliação:
A jornalista Inês Bogéa viajou a convite
do Centro Cultural Teatro Guaíra
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