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CINEMA
Crítica/"Casa da Mãe Joana"
Comédia sobre malandragem brasileira perde força com estrutura de sitcom
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Das tentativas do cinema nacional para incorporar o tema da
malandragem e do jeitinho brasileiro, os filmes de Hugo Carvana são aqueles em que o tipo
carioca por excelência e brasileiro por generalização têm sua
mais gentil representação.
Depois de fundá-lo na matriz
de "Vai Trabalhar Vagabundo"
(1973), o ator e diretor soube
mantê-lo vivo por meio de
transformações. E em "Casa da
Mãe Joana" sua generosidade
alcança o ápice ao sair de cena
para deixá-lo reencarnar na figura de quatro amigos.
Juca, PR, Montanha e Vavá
são, cada um ao seu modo, facetas do Secundino Meireles que
Carvana inventou em "Vai Trabalhar Vagabundo", um tipo
com alergia ao trabalho oficial e
que sobrevive à custa de pequenos golpes, sem chegar a ser
exatamente um fora-da-lei.
Desta vez eles dividem um
apartamento em Copacabana,
graças às benesses de uma madame que utiliza os serviços sexuais do garanhão PR (Paulo
Betti, à vontade no papel de cafajeste que lhe cai tão bem).
O tom da abertura do filme,
chupado da série de comédias
"A Pantera Cor-de-Rosa", de
Blake Edwards, é o suficiente
apenas para prender a atenção
e apresentar os lemas seguidos
pelo grupo de personagens.
Em seguida, o filme se concentra em demasia no apartamento, com a entrada em cena
de personagens acessórios. E
reconquista fôlego ocasional
com as aparições de Agildo Ribeiro no papel de bicha velha,
um clássico engraçadíssimo do
humor machista brasileiro.
Apesar de partir de um roteiro feito como uma sucessão de
piadas conduzida com tesão
pelo elenco, o efeito de "Casa da
Mãe Joana" é o mesmo que afeta as produções Globo Filmes.
A estrutura de esquetes cômicos carrega um molde que
funciona na TV, mas perde eficácia no cinema. A sitcom, como diz o nome, é comédia de situações em que cada piada tem
um efeito imediato. Rimos e
partimos para a próxima graça.
Ao ser transferido para o cinema, tal molde de humor se
desgasta ao longo da duração
de um filme, sem que ocorram
peripécias que o mantenham
interessante, salvo a aparição
de Juliana Paes e Fernanda de
Freitas no papel de gostosas.
É o que ocorre com "Casa da
Mãe Joana", que começa delicioso, desenvolve um barrigão
antes da metade e se arrasta
quase sem graça até o final.
CASA DA MÃE JOANA
Produção: Brasil, 2008
Direção: Hugo Carvana
Com: José Wilker, Paulo Betti, Pedro
Cardoso, Juliana Paes e Malu Mader
Onde: estréia hoje nos cines Anália
Franco, Bristol e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: regular
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