São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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CINEMA

Crítica/"Casa da Mãe Joana"

Comédia sobre malandragem brasileira perde força com estrutura de sitcom

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Das tentativas do cinema nacional para incorporar o tema da malandragem e do jeitinho brasileiro, os filmes de Hugo Carvana são aqueles em que o tipo carioca por excelência e brasileiro por generalização têm sua mais gentil representação. Depois de fundá-lo na matriz de "Vai Trabalhar Vagabundo" (1973), o ator e diretor soube mantê-lo vivo por meio de transformações. E em "Casa da Mãe Joana" sua generosidade alcança o ápice ao sair de cena para deixá-lo reencarnar na figura de quatro amigos. Juca, PR, Montanha e Vavá são, cada um ao seu modo, facetas do Secundino Meireles que Carvana inventou em "Vai Trabalhar Vagabundo", um tipo com alergia ao trabalho oficial e que sobrevive à custa de pequenos golpes, sem chegar a ser exatamente um fora-da-lei. Desta vez eles dividem um apartamento em Copacabana, graças às benesses de uma madame que utiliza os serviços sexuais do garanhão PR (Paulo Betti, à vontade no papel de cafajeste que lhe cai tão bem). O tom da abertura do filme, chupado da série de comédias "A Pantera Cor-de-Rosa", de Blake Edwards, é o suficiente apenas para prender a atenção e apresentar os lemas seguidos pelo grupo de personagens. Em seguida, o filme se concentra em demasia no apartamento, com a entrada em cena de personagens acessórios. E reconquista fôlego ocasional com as aparições de Agildo Ribeiro no papel de bicha velha, um clássico engraçadíssimo do humor machista brasileiro. Apesar de partir de um roteiro feito como uma sucessão de piadas conduzida com tesão pelo elenco, o efeito de "Casa da Mãe Joana" é o mesmo que afeta as produções Globo Filmes. A estrutura de esquetes cômicos carrega um molde que funciona na TV, mas perde eficácia no cinema. A sitcom, como diz o nome, é comédia de situações em que cada piada tem um efeito imediato. Rimos e partimos para a próxima graça. Ao ser transferido para o cinema, tal molde de humor se desgasta ao longo da duração de um filme, sem que ocorram peripécias que o mantenham interessante, salvo a aparição de Juliana Paes e Fernanda de Freitas no papel de gostosas. É o que ocorre com "Casa da Mãe Joana", que começa delicioso, desenvolve um barrigão antes da metade e se arrasta quase sem graça até o final.

CASA DA MÃE JOANA
Produção: Brasil, 2008
Direção: Hugo Carvana
Com: José Wilker, Paulo Betti, Pedro Cardoso, Juliana Paes e Malu Mader
Onde: estréia hoje nos cines Anália Franco, Bristol e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: regular



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