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Peyroux canta Billie Holiday em MG
Americana interpreta repertório da jazzista hoje, no principal concerto do festival Tudo É Jazz, na cidade de Ouro Preto
Show tem participação da cantora Mart'nália e do baixista Ron Carter; evento deixa de cobrar por ingressos em sua 8ª edição
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Num ano difícil para muitos
festivais de música, o Tudo É
Jazz, que abriu ontem sua oitava edição em Ouro Preto (MG),
enfrenta os efeitos da crise econômica mundial com uma arriscada mudança de formato.
Depois de perder seu maior patrocinador, decidiu exibir suas
atrações ao ar livre, sem cobrar
ingressos.
Seu principal concerto está
marcado para a noite de hoje,
no palco erguido no largo do
Rosário. Um tributo a Billie
Holiday (1915-1959), a maior
cantora de jazz de todos os tempos, destaca os vocais da norte-americana Madeleine Peyroux,
sua discípula, e da brasileira
Mart'nália, com uma banda de
craques do gênero que inclui
Ron Carter (baixo), Bucky Pizzarelli (guitarra) e Mulgrew
Miller (piano), entre outros.
"As canções gravadas por
Billie são tantas que seria impossível representar cada período de sua carreira. Seria o
mesmo que, no caso de Picasso,
tentar representar cada fase de
sua obra", compara Peyroux,
36, que fez a seleção do repertório com o maestro israelense
Oded Lev-Ari, responsável pelos arranjos.
Segundo a cantora, os dois
optaram por "canções mais conhecidas por representarem
quem Billie é, canções que carregam uma mensagem completa de seu caráter".
"Se formos bem sucedidos,
quem sabe poderemos ver a
própria Billie brilhar através
das canções que estamos interpretando", diz Peyroux.
Além de destacar a atitude
inovadora de Billie Holiday, artista que "tornou o jazz mais
acessível aos nossos ouvidos,
criando uma conexão entre o
jazz e a canção popular", Peyroux aponta sua faceta política.
"Ela contribuiu para mudar as
atitudes sociais em relação aos
artistas negros, às cantoras ou
às canções politizadas e suas interpretações da sociedade", comenta Peyroux.
"Também acredito que Billie
foi uma grande feminista, que
abriu o diálogo, ou o monólogo,
seja qual for o caso, para discutir os direitos das mulheres e
denunciar os casos de violência
doméstica, numa época em que
isso não era falado, muito menos reconhecido. Billie não tinha medo de dizer a verdade."
Peyroux, que chegou a ser
criticada no início da carreira
por emular o estilo e o timbre
vocal de sua mentora musical,
diz que hoje se relaciona de outra maneira com as canções de
Billie, graças à experiência que
acumulou nos últimos anos, como intérprete.
"Eu me sinto mais madura
como pessoa. Isso me permite
ser uma intérprete melhor do
que quando eu era uma cantora
mais jovem. Hoje, me sinto
mais capaz de me identificar
com o lado trágico de Billie e de
dividir sua dor com ela."
Cavaquinho
Apreciadora da música brasileira, com a qual estreitou os laços em três visitas anteriores ao
país, Peyroux conta que até já
encontrou um professor de cavaquinho em Nova York, onde
vive, mas ainda não teve tempo
para iniciar as sonhadas aulas.
"A grandeza da música brasileira nunca me abandona. Ainda considero Elis Regina minha
cantora favorita. E confesso
que ouço João Gilberto quase
toda semana, como se eu já tivesse encontrado a chave de
seu mistério, finalmente, mas
isso ainda não aconteceu", diverte-se.
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