São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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Peyroux canta Billie Holiday em MG

Americana interpreta repertório da jazzista hoje, no principal concerto do festival Tudo É Jazz, na cidade de Ouro Preto

Show tem participação da cantora Mart'nália e do baixista Ron Carter; evento deixa de cobrar por ingressos em sua 8ª edição

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Num ano difícil para muitos festivais de música, o Tudo É Jazz, que abriu ontem sua oitava edição em Ouro Preto (MG), enfrenta os efeitos da crise econômica mundial com uma arriscada mudança de formato. Depois de perder seu maior patrocinador, decidiu exibir suas atrações ao ar livre, sem cobrar ingressos.
Seu principal concerto está marcado para a noite de hoje, no palco erguido no largo do Rosário. Um tributo a Billie Holiday (1915-1959), a maior cantora de jazz de todos os tempos, destaca os vocais da norte-americana Madeleine Peyroux, sua discípula, e da brasileira Mart'nália, com uma banda de craques do gênero que inclui Ron Carter (baixo), Bucky Pizzarelli (guitarra) e Mulgrew Miller (piano), entre outros.
"As canções gravadas por Billie são tantas que seria impossível representar cada período de sua carreira. Seria o mesmo que, no caso de Picasso, tentar representar cada fase de sua obra", compara Peyroux, 36, que fez a seleção do repertório com o maestro israelense Oded Lev-Ari, responsável pelos arranjos.
Segundo a cantora, os dois optaram por "canções mais conhecidas por representarem quem Billie é, canções que carregam uma mensagem completa de seu caráter".
"Se formos bem sucedidos, quem sabe poderemos ver a própria Billie brilhar através das canções que estamos interpretando", diz Peyroux.
Além de destacar a atitude inovadora de Billie Holiday, artista que "tornou o jazz mais acessível aos nossos ouvidos, criando uma conexão entre o jazz e a canção popular", Peyroux aponta sua faceta política. "Ela contribuiu para mudar as atitudes sociais em relação aos artistas negros, às cantoras ou às canções politizadas e suas interpretações da sociedade", comenta Peyroux.
"Também acredito que Billie foi uma grande feminista, que abriu o diálogo, ou o monólogo, seja qual for o caso, para discutir os direitos das mulheres e denunciar os casos de violência doméstica, numa época em que isso não era falado, muito menos reconhecido. Billie não tinha medo de dizer a verdade."
Peyroux, que chegou a ser criticada no início da carreira por emular o estilo e o timbre vocal de sua mentora musical, diz que hoje se relaciona de outra maneira com as canções de Billie, graças à experiência que acumulou nos últimos anos, como intérprete.
"Eu me sinto mais madura como pessoa. Isso me permite ser uma intérprete melhor do que quando eu era uma cantora mais jovem. Hoje, me sinto mais capaz de me identificar com o lado trágico de Billie e de dividir sua dor com ela."

Cavaquinho
Apreciadora da música brasileira, com a qual estreitou os laços em três visitas anteriores ao país, Peyroux conta que até já encontrou um professor de cavaquinho em Nova York, onde vive, mas ainda não teve tempo para iniciar as sonhadas aulas.
"A grandeza da música brasileira nunca me abandona. Ainda considero Elis Regina minha cantora favorita. E confesso que ouço João Gilberto quase toda semana, como se eu já tivesse encontrado a chave de seu mistério, finalmente, mas isso ainda não aconteceu", diverte-se.


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