São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

O esconderijo de Antônio Nunes

Fim do mistério: descobrimos o homem que o "Pânico" tentava reencontrar há um ano e que virou até personagem da eleição


A foto do reencontro comNunes, enviada à Folha quando o mistério foi desvendado

Em outubro de 2009, um homem gordo e sem camisa bebericava na praia do Meirelles, em Fortaleza, quando foi abordado pelos repórteres Vesgo e Polvilho, do programa "Pânico na TV". Convidado a se apresentar, o homem vociferou: "Antônio Nuuunes!". A história teria morrido se, em seguida, ele não houvesse batido a palma da mão na perna direita.

 


Deu-se então um diálogo entre entrevistado e entrevistadores, em que "Antonio" e "Nunes" foram ditos 15 vezes, pontuados sempre pelo espalmar na perna: "Antonio Nunes? (Palma)." "Antonio Nunes. (Palma)." "Antonio Nunes? (Palma)." "Antonio Nuuunes! (Palma)."

 


O vídeo teve mais de 1 milhão de acessos no YouTube. O "Pânico" então inventou o "Antônio Nunes Game", em que o competidor deve gritar "Antônio Nunes!" e bater na perna da pessoa ao lado. Lançou o quadro "Procurando Antônio Nunes", em que um repórter roda o Brasil em busca do personagem. Após um ano de buscas, Nunes virou o Bin Laden do humorístico: onde o "Pânico" estiver, ele não estará.

O programa também convida celebridades a bradarem "Antônio Nunes!". Há um mês, o pedido foi acatado pelo ídolo juvenil Justin Bieber ("Por que eu faria isso?", ele perguntava à apresentadora Sabrina Sato, batendo na perna). Em SP, o fenômeno chegou à campanha de Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) ao Senado. Em um comício, em agosto, Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Guilherme Afif Domingos (DEM-SP) bateram na perna duas vezes ao apresentá-lo. "Outro dia, estava falando para milhares de evangélicos, quando um menininho na última fila gritou "Aloysio Nuuunes!'", diz o candidato.

 


Com a fama, toda aparição pública de Antônio Nunes passou a ser documentada no YouTube. Em março, ele foi visto num restaurante em Fortaleza. Em 18 de abril, torcia pelo Ceará, no estádio do Castelão, e a torcida gritou "Uh, eô, Antônio Nunes é Ceará-Amor".

 


Várias músicas foram criadas em homenagem ao personagem. Uma, do grupo dominicano Los Tiburones, indaga, em portunhol: "Por onde anda?/Pra onde é que ele foi?/Será que Alemanha,/Paris, ou Nova York?"

 


Os repórteres Roberto Kaz e Adriana Küchler apuraram que Antônio Nunes não está em nenhum dos locais supracitados, mas em uma plataforma de petróleo no mar da Noruega. Na certidão de nascimento, Nunes se chama Ove Nordeide. Ele é norueguês, funcionário de uma multinacional do ramo petrolífero e costuma visitar a cidade de Fortaleza duas vezes por ano.

No dia 10 de setembro, a Folha telefonou para a plataforma em busca de Nordeide. Ao saber que a ligação vinha do Brasil, o atendente, em inglês, concordou em chamá-lo. E berrou, animado: "Antonio Nuuunes!".

 


Nordeide disse que não poderia dar declarações sem a aprovação prévia do "Pânico". Disse que veio a SP em fevereiro de 2010 e discutiu com a equipe do programa políticas de privacidade. No dia 12, enviou um e-mail: "Hello! I have talked with Amanda and she said no possible to talk with me. I'm sorry [Olá! Conversei com a Amanda (Stys, coordenadora de produção do Pânico) e ela disse não ser possível conversarmos. Lamento]."

 


Alan Rapp, diretor do "Pânico na TV", confirmou que o programa conhece o paradeiro de Nunes e que o reencontro dele com os repórteres Vesgo e Polvilho já foi filmado. "A gente recebeu a informação de que ele estava em um hotel, em SP. Foi totalmente inesperado." A cena deve ir ao ar em breve: "Alguém pode pensar: "Ah, eles já acharam o cara e continuam exibindo os vídeos como se estivessem procurando". Mas a gente não está enganando. É uma novelinha, como quando a Odete Roitman [da antiga novela "Vale Tudo"] morreu. O público sabe, mas só vai vê-la morrer no último capítulo."

 


Se Antônio não se chama Antônio Nunes, de onde vem seu nome? Quem explica é o cinegrafista Renato Pereira, amigo do norueguês, que trabalhava no programa "Forrogodó", de uma TV de Fortaleza: "Ele quis conhecer o programa." Nordeide deu uma cueca vermelha de presente, no ar, ao apresentador Tony Nunes. Saiu batendo a mão na perna, uma mania antiga, e repetindo a vinheta da atração: "Tony Nuuunes".

 


Um mês depois, Nordeide foi interpelado na praia pelo Pânico e gritou o "Antonio Nuuuunees!". "Faço muita matéria na rua. O gringo tinha bebido e confundiu o pessoal comigo. Pensou que participava do meu programa", diz Tony Nunes -que incorporou o sucesso do norueguês à sua campanha. Ele concorre a deputado estadual e o jingle de sua propaganda começa com um grito: "An-Tony Nuuunes".


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