São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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Gretchen em campanha

Documentário registra os três meses em que cantora-dançarina tentou se converter, de Rainha do Bumbum, a prefeita da Ilha Itamaracá, em 2008

Guga Matos - 29.jul.08/JC Imagem
Gretchen sobe ao palanque com Anne Tavares, então sua candidata a vice-prefeita, nas eleições de 2008

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Três músicas e o rebolado.
Foi com essas armas -e somente com elas- que, escondida sob o pseudônimo Gretchen, a carioca Maria Odete Brito de Miranda, 51, pagou todas as suas contas nos últimos 30 anos.
Dançando em moto-contínuo "Freak Le Boom Boom" (1979), "Conga Conga Conga" (1981) e "Melô do Piripipi" (1982), seus únicos hits nessas três décadas, ela sustentou cinco filhos naturais -de cinco pais diferentes- e, agora, banca o leite do sexto, adotado.
Também foi esse arsenal que pagou as dez lipoaspirações e as cinco próteses de silicone nos peitos que, nos anos seguintes, mantiveram "o mito" sempre rebolando.
E, há dois anos, financiou a campanha eleitoral de sua improvável candidatura à prefeitura da Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, pela coligação PPS-PV.
Dirigido pela gaúcha Eliane Brum e pelo paulista Paschoal Samora, o documentário "Gretchen Filme Estrada" recorta justamente o episódio político para desenhar a biografia da personagem.
Durante três meses, os diretores seguiram Gretchen nas apresentações em circos de pequenas cidades do interior do Nordeste, naquela que seria sua última turnê como cantora-dançarina.
Acompanharam a vida em Itamaracá, onde ela morou por dez anos, e toda a campanha para a prefeitura.
Os comícios, o trabalho de corpo-a-corpo nas comunidades, as instruções dos marqueteiros, o rompimento com a candidata a vice, a derrota nas urnas, com pouco mais de 2% dos votos.

FOLCLORE
Brum afirma que a principal preocupação era não cair na armadilha fácil de transformar a personagem em mera caricatura.
"O que a gente queria era ver a Gretchen sem esse olhar folclórico, que é o jeito mais cretino de não ver alguém", diz. "Queríamos seguir esse rebolado e descobrir a que Brasis ele nos levaria."
Ainda mais radical, Paschoal Samora diz ter percebido, ao longo das filmagens, que todos somos muito mais parecidos com a personagem do que podemos admitir.
Ele descreve Gretchen como "uma mulher extremamente complexa", que acabou dando ao filme uma curva dramática que remete à trajetória do herói trágico.
"Ela cai algumas vezes, mas sempre levanta e continua rebolando", diz. "É o que todos nós fazemos o tempo todo. Isso nos aproxima."
Emergem, entre um tombo e outro, questões políticas importantes -sobretudo às vésperas de outra eleição. A construção do candidato, do discurso, da imagem, a compra de votos.
Por isso, os diretores fizeram questão de apresentar o filme antes de 3 de outubro.
A estreia nacional acontece nesta terça, em sessão única no Espaço Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/ 11/3287-8293), em São Paulo, na terça. O filme segue para o Festival de Cinema do Rio, com projeção na sexta-feira, no Cine Odeon.


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