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CINEMA MOSTRA DE SP
"Sou Positivo" provoca ao tratar da Aids
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
"Sou Positivo", segundo longa
de Cristiano Bortone, diretor italiano formado nos Estados Unidos, trata a Aids de maneira provocante. A comédia de humor negro que tem sua estréia mundial
na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, vem causando
polêmica na Itália antes mesmo
de seu lançamento comercial.
O filme conta a história de um
"marido", sua "esposa", "o irmão" gay dela e "o amigo" aproveitador recolhido pelo casal,
uma família pouco usual. A descoberta de que cada um dos personagens caricatos é portador do
vírus força a revelação de um intrincado jogo de relações que extrapola a formalidade dos papéis
sociais estabelecidos.
Um pouco como "A Vida é Bela" de Roberto Benigni, "Sou Positivo" trata um assunto sofrido
com irreverência. Aqui, a epidemia do fim do século serve de mote para mostrar não o definhar
terrível, inevitável e previsível dos
portadores do vírus, mas para um
movimento que os libera das
obrigações de uma existência
convencional, hipócrita e infeliz.
Sem deixar de ironizar a incapacidade da ciência médica em solucionar o problema da doença, ou
de denunciar o alijamento social a
que os aidéticos são em geral submetidos, o filme opta por uma
narrativa leve sobre saídas individuais - e familiares - possíveis.
"Sou Positivo" não flui de maneira regular. O filme começa
bem e cai. Mas volta a crescer na
última parte, quando na impossibilidade de derrotar a doença
com o tradicional bombardeio
medicinal, os personagens reinventam suas relações e incorporam a convivência com o vírus em
seu cotidiano.
Segundo Daniele Mazzocca,
produtor e representante do filme
na Mostra, "Sou Positivo" causa
polêmica porque lida com pré-conceitos culturais e de formato.
Essa combinação não foi bem recebida no Festival de Veneza, que
não aceitou o filme por considerá-lo comercial.
A produção independente e barata destoa do padrão grandioso
que caracteriza a cinematografia
italiana. Mazzocca define o trabalho como um "filminho" porque
foi rodado em apenas três semanas e às custas da colaboração dos
atores, que não receberam salários - um pouco ao estilo da produção independente nova-iorquina. O filme só obteve apoio
institucional na atual fase de distribuição.
"Sou Positivo" tem vários pontos de contato com o Brasil. A segunda e mais divertida parte da
história, que se passa em um paraíso tropical, foi rodada em Angra dos Reis. O projeto de fazer
um filme que tratasse da Aids surgiu depois do fracasso de uma iniciativa do diretor de fazer um documentário sobre um travesti
brasileiro na Itália.
Talvez a maior provocação seja
a de retratar paroxismos da masculinidade latina, conhecida no
mundo como paradigma de machismo, mas que, como demonstram os altos índices de contaminação de mulheres casadas, contempla a bissexualidade.
Não é fácil falar sobre Aids. A
doença Já foi tratada em inúmeras películas a partir de perspectivas diversas. "Sou Positivo" vale
pelo enfoque original.
Avaliação:
Filme: Sou Positivo (Sono Positivo)
Direção: Cristiano Bortone
Produção: Itália, 1999, 96 min
Onde: hoje, às 16h, no Masp
Outra exibição na mostra: dia 24
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