São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
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Documentários de Yamagata mostram o que é que a Ásia tem

AMIR LABAKI
enviado especial a Yamagata

O 6º Festival Internacional de Documentários de Yamagata (Japão) abre hoje mostrando ao mundo o que é que a Ásia tem de melhor produzido no gênero. Bienal, o evento fundado há dez anos para celebrar o centenário de uma pequena cidade ao norte de Tóquio tornou-se a capital asiática do cinema não-ficcional.
A ênfase é regional, sobretudo devido à incomparável mostra paralela Novas Correntes Asiáticas, mas a preocupação internacional comprova-se por meio da competição, na qual apenas dois dos 14 longas selecionados vêm da Ásia. É briga de gente grande.
Entre os concorrentes encontram-se os novos documentários do mestre do cinema-verdade Frederick Wiseman ("Belfast, Maine"), do excêntrico Errol Morris ("Mr. Death") e do "enfant terrible" da China Zhang Yuan ("Crazy English").
Wiseman e Zhang, além da peruana radicada na Holanda Heddy Honigmann, são os únicos competidores anteriormente já premiados em Yamagata, ainda que nenhum deles o tenha vencido. O veterano Wiseman recebeu em 97 o Prêmio Especial do Júri por "La Comédie Française" e, em 93, o Prêmio do Prefeito por "Zoo". Esse último prêmio também foi dado a Honigmann em 95 por "Metal e Melancolia".
No mesmo ano, Zhang Yuan levou o prêmio da crítica por "The Square", sobre o cotidiano da Praça da Paz Celestial cinco anos depois do massacre de 1989.
A competição de Yamagata privilegia documentários formalmente originais. Seleciona apenas médias e longas-metragens (não curtas). Cerca de 400 títulos brigam a cada edição por uma das quinze vagas na disputa. Não surpreende que, prêmios à parte, por lá passaram vários dos maiores momentos do gênero na última década: "American Dreams" (Barbara Kopple), "Elegy From Russia" (Alexander Sokurov), "Na Terra dos Surdos" (Nicolas Phillibert), "Hoop Dreams" (Steve James) e "Amsterdam Global Village" (Johan van der Keuken).
O documentário brasileiro marca boa presença na curta história do festival. Das cinco primeiras competições, o Brasil participou de três: "Ori", de Raquel Gerber, em 89, "Que Bom Te Ver Viva", de Lúcia Murat, em 91, e "Carmen Miranda: Banana Is My Business", de Helena Solberg, em 95. Eduardo Coutinho ("Cabra Marcado Para Morrer") participou do júri em 1991.
A honraria repete-se neste ano com Nélson Pereira dos Santos, que terá exibido nesta sexta seu clássico "Vidas Secas" (1963). O júri da crítica conta com outro brasileiro, o jornalista e diretor Nélson Hoineff ("O Dia"). Nenhum filme nacional participa da disputa mas "Mamazônia", de Celso Luccas e Brasília Mascarenhas, ganha projeção dentro do Programa Especial do Mundo.
Um recorde de 48 documentários de 18 países é alcançado pela seleção neste ano do programa Novas Correntes Asiáticas. Disputa-se um prêmio específico, dedicado à memória do realizador japonês Ogawa Shinsuke. A vitrine destaca a crescente produção utilizando câmeras digitais.


O crítico Amir Labaki está em Yamagata a convite da organização do festival


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