São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
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SAMBA
Martinho mantém fidelidade ao estilo

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local


À diferença de outros sambistas de estirpe que ultimamente têm se rendido às convenções do pagode de linha de montagem -como Alcione e Leci Brandão-, Martinho da Vila até hoje preferiu se manter fiel ao samba matreiro que ele próprio estabeleceu, em fins dos anos 60.
É o que ele faz em "O Pai da Alegria" -menos nas faixas "Luz do Meu Luar" (de Maria da Paz e Papacaça) e "Amor pra Valer" (de Salgadinho), que o próprio discurso contraditório do artista contra "preconceito" ajuda a tornar inconvincentes.
Melôs antes de sambas, as duas saem do contexto e tiram uma estrela e um naco de integridade do CD. É comparar o coro "sambeiro" da faixa-título com o do Katinguelê, em "Amor pra Valer".
No mais é, em boa forma, o Martinho dos últimos anos, década de 80 em diante, menos inspirado que o franco-atirador de clássicos do samba como "Casa de Bamba", "Quem É do Mar Não Enjoa", "Xô, Chuva Miúda", "Requenguela", "Disritmia", "Canta, Canta, Minha Gente", mas ainda certeiro e brejeiro.
Vêm plenas de sabedoria malandra -e de samba no duro, ao fundo- "Pro Amor Render", "Eu Vi Seu Ex-Amor", "Coração de Louça", outras várias.
Melhor, ele reabilita o hábito de dar sua leitura malandra a clássicos do samba, elegendo agora Pixinguinha e Noel Rosa.
Nas de Noel, demonstra a capacidade que tem de tornar suas, por coquetes e zombeteiras que as faz, autorias clássicas de artistas clássicos (não é por outra que "Batuque na Cozinha", que ele gravou em 72, parece quase sua, embora seja de João da Baiana). É o que sabe fazer um artista de personalidade -e desde que o alvo não seja o Katinguelê.


Avaliação:   

Disco: O Pai da Alegria Artista: Martinho da Vila Lançamento: Sony Quanto: R$ 18, em média

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