São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2001

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Dupla fala sobre revisionismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Um tema que Rita Lee e Roberto de Carvalho não podem escapar é o do ambiente revisionista em que artistas de sua faixa etária costumam se embrenhar: é mais fácil emplacar sucessos dos Beatles ou "Ovelha Negra" do que com inéditas como as do disco do ano passado, "3001".
"Não que não sinta, mas eu, particularmente, sinto bem menos tesão em fazer músicas inéditas", admite Roberto. "Não é que dê insegurança ou medo, mas, quando você faz a música e mostra, está mostrando sua intimidade, permitindo que ela seja visitada, invadida, contemplada. Se grava Beatles e fica ruim, pelo menos a música não é sua."
Rita interfere: "Eu não acho, sabe? A gente não pára de fazer música, é uma delícia. Vou voltar a fazer. No "3001" estava muito contente, mas a gravadora me perturbou muito. Eu já vinha com certa leveza, que os Beatles vieram confirmar. Esta é a primeira vez que fazemos um disco de MPB, repare só. Para mim é revolucionário".
"Aqui, Ali, em Qualquer Lugar" marca a inauguração do estúdio próprio da dupla, que Rita comenta: "Para nós é uma situação inédita. Lá podemos fazer experimentações que nunca mais havíamos feito. Nunca mais. Hoje estou me sentindo absolutamente livre. Há muito não sentia isso, desde quando não sabia se ia fazer veterinária ou música".
"Aprendi neste CD que, se você não coloca nada de expectativa num trabalho, ele fica mais legal. Isso eu só tinha nos Mutantes, quando não se esperava nada, não se sabia o que ia acontecer. Era só querer dar certo, querer fazer sucesso, o vulcão criativo que se tem dos 20 aos 40 anos."
O assunto toma prumo filosófico. "No meio dos 40 e antes de chegar aos 50, há um balanço existencial bravo. Você já teve os filhos que quis, criou sua construção. Pode reparar, é só olhar para uma pessoa com mais de 50 para saber se ela morreu nessa fase ou não. Ali ou você renasce, apaga tudo e vai embora ou fica na sala de espera da morte. É fácil saber se uma pessoa de mais de 50 está morta ou não", descreve Rita.
"E há o segundo retorno de Saturno, dos 56 aos 58, uma época em que você tem de se libertar de todas as estruturas inadequadas, dar uma zerada em tudo, deixar o que é básico e essencial. O ego deixa de ter importância", completa Roberto.
Ele com 49, ela com 54 anos, dizem que, sim, continuam vivos. "Estou sentindo que está ficando mais bacana do que jamais foi", suspira Rita Lee. (PAS)



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