|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dupla fala sobre revisionismo
DA REPORTAGEM LOCAL
Um tema que Rita Lee e Roberto de Carvalho não podem escapar é o do ambiente revisionista
em que artistas de sua faixa etária
costumam se embrenhar: é mais
fácil emplacar sucessos dos Beatles ou "Ovelha Negra" do que
com inéditas como as do disco do
ano passado, "3001".
"Não que não sinta, mas eu,
particularmente, sinto bem menos tesão em fazer músicas inéditas", admite Roberto. "Não é que
dê insegurança ou medo, mas,
quando você faz a música e mostra, está mostrando sua intimidade, permitindo que ela seja visitada, invadida, contemplada. Se
grava Beatles e fica ruim, pelo menos a música não é sua."
Rita interfere: "Eu não acho, sabe? A gente não pára de fazer música, é uma delícia. Vou voltar a
fazer. No "3001" estava muito contente, mas a gravadora me perturbou muito. Eu já vinha com certa
leveza, que os Beatles vieram confirmar. Esta é a primeira vez que
fazemos um disco de MPB, repare
só. Para mim é revolucionário".
"Aqui, Ali, em Qualquer Lugar"
marca a inauguração do estúdio
próprio da dupla, que Rita comenta: "Para nós é uma situação
inédita. Lá podemos fazer experimentações que nunca mais havíamos feito. Nunca mais. Hoje estou
me sentindo absolutamente livre.
Há muito não sentia isso, desde
quando não sabia se ia fazer veterinária ou música".
"Aprendi neste CD que, se você
não coloca nada de expectativa
num trabalho, ele fica mais legal.
Isso eu só tinha nos Mutantes,
quando não se esperava nada,
não se sabia o que ia acontecer.
Era só querer dar certo, querer fazer sucesso, o vulcão criativo que
se tem dos 20 aos 40 anos."
O assunto toma prumo filosófico. "No meio dos 40 e antes de
chegar aos 50, há um balanço
existencial bravo. Você já teve os
filhos que quis, criou sua construção. Pode reparar, é só olhar para
uma pessoa com mais de 50 para
saber se ela morreu nessa fase ou
não. Ali ou você renasce, apaga
tudo e vai embora ou fica na sala
de espera da morte. É fácil saber
se uma pessoa de mais de 50 está
morta ou não", descreve Rita.
"E há o segundo retorno de Saturno, dos 56 aos 58, uma época
em que você tem de se libertar de
todas as estruturas inadequadas,
dar uma zerada em tudo, deixar o
que é básico e essencial. O ego deixa de ter importância", completa
Roberto.
Ele com 49, ela com 54 anos, dizem que, sim, continuam vivos.
"Estou sentindo que está ficando
mais bacana do que jamais foi",
suspira Rita Lee.
(PAS)
Texto Anterior: Rita x Beatles Próximo Texto: "Aqui, Ali, em Qualquer Lugar" Rita reflete sobre seu passado cantando Beatles Índice
|