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25ª MOSTRA BR DE CINEMA DE SÃO PAULO
Desilusão intravenosa
Drama "Réquiem para um Sonho", do nova-iorquino Darren Aronofsky, tem primeira exibição domingo no festival
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Darren Aronofsky. Guarde bem
este nome estranho, porque você
ainda vai ouvir falar muito dele. O
nova-iorquino de 32 anos é um
dos diretores mais criativos em
atividade numa Hollywood cada
vez mais dominada por desgraças
como "Retorno da Múmia" e
"American Pie".
Tão criativo que foi chamado
para adaptar para o cinema a
grande "graphic novel" "Batman:
Ano 1", de Frank Miller, que volta
às origens do super-herói. Este é
seu projeto para 2002. Por enquanto, trabalha em "Last Man",
ficção que tem um quê de "Matrix" no roteiro e a ótima atriz Cate Blanchett no elenco.
Mas o que o traz à Mostra de Cinema de São Paulo é seu excelente
"Réquiem para um Sonho" (Requiem for a Dream), uma história
sobre obsessões com final infeliz
que será exibida neste domingo.
Nele, mãe (Ellen Burstyn, ótima
no papel que lhe valeu a indicação
ao Oscar do ano passado) e filho
(Jared Leto) embarcam numa viagem de substâncias legais (ela) e
ilegais (ele).
Leia a entrevista que Darren
Aronofsky deu à Folha por telefone, conversa feita antes dos ataques do dia 11 de setembro.
Folha - Assim como o personagem de "Réquiem para um Sonho",
você também foi criado no
Brooklyn e é de família judia. Pode-se pressupor que o filme tenha algo
de autobiográfico?
Darren Aronofsky - Acho que toda obra artística tem um componente autobiográfico, não? Claro
que eu não cheguei ao ponto a que
chegam os personagens, mas,
sim, também tive minhas histórias. O principal, porém, é a obsessão. Diria que minha maior ligação com "Réquiem" é o comportamento obsessivo.
Folha - Não fosse por outro motivo, "Réquiem" já tem o grande mérito de ressuscitar a carreira da
atriz Ellen Burstyn. Por que Hollywood trata tão mal as mulheres
conforme elas vão envelhecendo?
Aronofsky - O caso dela é típico.
Ellen é uma das maiores atrizes
norte-americanas, e ponto. Fez
mais de 70 filmes. Mas tem 68
anos, então já morreu para os
grandes estúdios. Chamei-a porque seu papel como a mãe em "O
Exorcista" (1973) é uma referência para minha geração.
Como alguém, um sistema, pode abrir mão de uma pessoa como
ela? Sua mãe solitária, que aos
poucos enlouquece enquanto
tenta emagrecer para entrar num
vestido e participar de um concurso de TV que nunca acontece é
a alma de "Réquiem".
Folha - Uma curiosidade: como
você convenceu uma atriz como
Jennifer Connelly a realizar uma
cena de sexo quase explícito, como
acontece no final de "Réquiem para um Sonho"?
Aronofsky - Jennifer é muito
profissional. Leu o script e adorou, não pediu para mudar nada.
O filme é cheio de cenas intensas,
como a que Jared Leto tem o braço amputado ou a que Marlon
Wayans é preso. Mas o clima era
tão bom durante as filmagens que
todos aceitaram fazer tudo.
Folha - De onde veio a idéia de
juntar a cabala judaica com os fundamentos do pi, como você fez em
"Pi", seu longa de estréia?
Aronofsky - "Pi" é mais um exercício, um desenvolvimento natural de um projeto que eu fiz para a
conclusão de meu curso na Universidade de Nova York com Eric
Watson, que é co-autor e trabalha
sempre comigo desde então, e
Sean Gulette, que também é o
personagem Max, o hassídico.
Por isso escolhi este tema, que
me é muito querido. Se você for
estudar a cabala, verá que é puro
exercício de matemática, assim
como a Bolsa de Valores. Pensei
que seria engraçado juntar tudo
isso num clima sombrio.
Folha - Afinal, "Batman: Ano 1"
foi cancelado ou não?
Aronofsky - Se foi, não me avisaram. Eu e Frank Miller continuamos a trabalhar num roteiro para
a Warner, e o filme continua em
nossas prioridades para o ano que
vem. Não deve ser exatamente
igual à "graphic novel", mas não
acredite em 1% do que você leu
sobre isso na internet.
Folha - Como é o filme em que você trabalha agora, "Last Man"? Ele
lembra o roteiro de "Matrix"?
Aronofsky - Não posso falar do
roteiro, porque o contrato que assinei me proíbe, mas, sim, esta é uma leitura possível... [risos]
Folha - Na festa de encerramento
do Festival de Sundance, você fez
muitos elogios a um dos diretores
mais malditos e criativos do Brasil,
José Mojica Marins.
Aronofsky - Coffin Joe? Tenho alguns filmes dele em casa e acho
que ele é um realizador muito original. Espero que ele esteja se dando bem no Brasil.
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