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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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CRÍTICA

Excesso de sexo caminha para o tédio

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Nem bem começou, a nova novela das oito vem causando um pequeno escândalo com a quantidade de sexo e nudez mostrada. Para além das estratégias ditas inovadoras que cercaram a estréia de "Celebridade", a volta que se anuncia triunfal de Gilberto Braga ao filé mignon das novelas não deixou de lançar mão do velho e bom apelo erótico para garantir os picos de audiência.
Só no primeiro capítulo, "Celebridade" exibiu um topless e duas cenas de sexo. Mas, menos do que a quantidade, a falta de papas na língua parece ser a marca de Braga nessa nova ordem sexual televisiva. O autor, que parece acreditar mais em roteiro e história de que seu pares (e, como observou um amigo, leu Balzac), está usando o sexo a serviço de sua trama.
Faz parte, digamos, da construção do personagem já anunciar que tipo de sexo ele faz. Em "Celebridade", garotas boas fazem sexo com amor; garotas más fazem sexo com perversão e garotas nem boas nem más fazem sexo por necessidade ou cálculo. Resta, entretanto, a enervante questão da exposição.

Romantismo
As telenovelas, que guardam uma relação bastante íntima com a liberalização dos costumes operada na sociedade brasileira dos anos 60 para cá, vêm arriscando mais e mais no sentido da exposição.
Não basta, como nos tempos de um romantismo mais ingênuo, encenar a paixão -é preciso mostrá-la. Mais ainda do que o sexo, é necessário exibir os corpos perfeitos e fixá-los como objetos de desejo: mulheres magras e de musculatura definida, homens atléticos e bombados.
O que se deixava à imaginação febril dos telespectadores à época que Sonia Braga subia no telhado de vestidinho curto de chita, hoje acontece sob luzes acesas, como na primeira cena de "amor" da novela, entre a boa moça Maria Clara (Malu Mader) e o príncipe encantado Otávio (Thiago Lacerda), que mostrou a calcinha da protagonista em primeiro plano.

Padrões
O efeito é menos erótico do que pedagógico -como não há mais espaço para a fantasia completar o que está sugerido, trata-se de oferecer um modelo a ser perseguido. O que se reforça com a insistência obsessiva não na sensualidade, mas na correção estética dos corpos.
A perfeição cosmética dos corpos é a isca: assim como o peito deve ser grande, a bunda empinada, o torso musculoso etc., a sexualidade deve ser programaticamente feliz, bem sucedida -e neste caso estamos falando de sujeitos ajustados, do bem. Como se a TV estivesse dizendo a cada um como viver a sexualidade e, sobretudo, o que ela deve significar. Moral à parte, a exposição reiterada de nudez e sexo na TV caminha em direção à banalização e ao embotamento dos sentidos -em resumo, ao tédio.



@ - biabramo.tv@uol.com.br


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