São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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MANTIQUEIRA/SCHNEIDER
Orquestras são destaque

CARLOS CALADO
especial para a Folha

A Maria Schneider Jazz Orchestra e a Banda Mantiqueira foram os maiores destaques da programação das salas New Directions e Club, sexta-feira, na estréia do Free Jazz paulista.
Maria Schneider já assistira a Mantiqueira no Rio e fez questão de ouvi-la novamente. A expressão de surpresa da regente durante todo o concerto dizia tudo.
Nem mesmo a indesejável substituição de três músicos fundamentais na formação diminuiu o impacto da performance da banda paulistana, que superou o nervosismo inicial e saiu vitoriosa do palco Club.
Números como o samba "Linha de Passe" (de João Bosco, em arranjo do maestro Proveta) ou a jazzística "Cubango" (do baixista e arranjador Edson Alves) excitaram a platéia.
Se a Mantiqueira impressionou pela garra e energia, a orquestra de Maria Schneider conquistou o público com as delicadas texturas sonoras criadas pela arranjadora e compositora.
Um dos números mais aplaudidos foi o arranjo suave do tema do filme "Spartacus" com belo solo do sax tenor Rich Perry.
Aliás, solistas talentosos não faltam à banda, qualidade evidente nas aparições do saxofonista Rick Margitza e do pianista Bill Mays (em "Coming About"), ou no solo vigoroso do trompetista Greg Gisbert (na suíte "El Viento"), muito aplaudido pelo público.
Impressionante também é a precisão e riqueza dos gestos de Maria Schneider na regência, cuja corpo transmite dinâmicas e estímulos interpretativos.
Última atração da noite, o saxofonista Johnny Griffin confirmou seu status de grande solista, apesar de ter trazido um trio de acompanhantes (especialmente o baterista Joe Farnsworth, convencional demais) inferior à sua bagagem musical.
Com um repertório recheado de standards, como "Just One of Those Things" e "If I Should Loose You", Griffin exibiu toda sua maestria na arte do improviso. E, na original versão de "Night in Tunisia" (de Dizzy Gillespie), provou que, aos 70 anos, seu sax ainda faz jus à fama de gatilho mais rápido do bebop.
Já o pianista Marc Cary foi a decepção da noite. Sua versão retrô do jazz eletrificado dos anos 70, com direito a teclado Mini Moog e incenso aceso no palco, soa completamente extemporânea. Ao dispensar o neobebop da geração Marsalis, Cary parece ter perdido o rumo.



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