São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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Fotógrafo fala dos mitos do jazz

ADRIANA ZEHBRAUSKAS
repórter fotográfica

Herman Leonard, o maior fotógrafo vivo de jazz, documentou durante 12 anos, do fim da década de 40 ao começo dos anos 50, as cenas nova-iorquina e parisiense do jazz. Suas fotos, feitas durante shows, sessões de gravação e em seus estúdios em Nova York e Paris, retratam não só os músicos, mas toda uma era, esfumaçada, suada, escura.
Herman falou à Folha em São Paulo, onde esteve para acompanhar a abertura de sua exposição, "Memories of Jazz".
Depois de quase três décadas esquecidas em uma caixa de sapatos, suas imagens, que imortalizaram as faces dos mais importantes músicos da história, fazem hoje parte do acervo do Smithsonian Institute, em Washington.
Leonard começou a fotografar jazz por paixão à música. Trabalhava por conta própria, registrava os músicos que mais gostava, acompanhava ensaios, entrava nos clubes em troca de fotos para os cartazes.
"Foi basicamente um projeto pessoal. Talvez seja por isso que minhas imagens são tão diferentes do trabalho dos outros fotógrafos daquele tempo. A maioria deles não teve a oportunidade de fotografar livremente. Tinham sempre que voltar com fotos que reproduzissem bem nos jornais, o que significa uma luz correta", diz.
"Minha iluminação imprimiria pessimamente no jornal, pareceria um borrão de lama. Mas eu não me incomodava porque não era para lá que elas iriam. As fotos iriam para o meu arquivo pessoal. Podia então experimentar, brincar com a composição, a luz."
A seguir, Leonard fala sobre alguns dos nomes que fotografou.
Miles Davis -"Foi o melhor assunto fotográfico que jamais tive, sempre, em qualquer categoria.E isso pela sua estrutura óssea, a qualidade de sua pele, seu olhar, suas expressões. Para mim, Miles era o Picasso do jazz, pois assim como Picasso ele passeou por vários estilos, do tradicional ao be-bop, ao newer jazz. Ele nunca permaneceu o mesmo."
Sara Vaughan -"Ela tinha o mais incrível instrumento vocal entre todos os cantores e era uma musicista extraordinária. Era sempre uma experiência maravilhosa. Sarah Vaughan era uma amiga muito querida, adorava jogar beisebol, cartas. Ela era uma pessoa muito divertida."
Billie Holiday -"Em 1949, fotografei Billy Holiday logo após ter saído da prisão, onde cumpriu pena por uso de drogas. Ela ficou presa o tempo suficiente para ficar saudável, e estava absolutamente radiante. Logo após, entretanto, voltou para as drogas, perdeu peso e ficou com uma aparência terrível. Eu a fotografei quando ela estava mal mas nunca mostrarei essas fotos para ninguém. Ela parece doente e triste e essa não é a imagem que quero preservar."
Lester Young -"Tinha um estilo relaxado, "easy'. Ele era "soft'. Se um cara tem uma namorada e quer fazê-la sentir-se bem, põe um disco de Lester Young, porque vai acalmá-la. Ele também fumava muito, tinha a pele ruim. Mas como sabia tocar..."



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