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Fotógrafo fala dos mitos do jazz
ADRIANA ZEHBRAUSKAS
repórter fotográfica
Herman Leonard, o maior fotógrafo vivo de jazz, documentou
durante 12 anos, do fim da década
de 40 ao começo dos anos 50, as cenas nova-iorquina e parisiense do
jazz. Suas fotos, feitas durante
shows, sessões de gravação e em
seus estúdios em Nova York e Paris, retratam não só os músicos,
mas toda uma era, esfumaçada,
suada, escura.
Herman falou à Folha em São
Paulo, onde esteve para acompanhar a abertura de sua exposição,
"Memories of Jazz".
Depois de quase três décadas esquecidas em uma caixa de sapatos,
suas imagens, que imortalizaram
as faces dos mais importantes músicos da história, fazem hoje parte
do acervo do Smithsonian Institute, em Washington.
Leonard começou a fotografar
jazz por paixão à música. Trabalhava por conta própria, registrava
os músicos que mais gostava,
acompanhava ensaios, entrava nos
clubes em troca de fotos para os
cartazes.
"Foi basicamente um projeto
pessoal. Talvez seja por isso que
minhas imagens são tão diferentes
do trabalho dos outros fotógrafos
daquele tempo. A maioria deles
não teve a oportunidade de fotografar livremente. Tinham sempre
que voltar com fotos que reproduzissem bem nos jornais, o que significa uma luz correta", diz.
"Minha iluminação imprimiria
pessimamente no jornal, pareceria
um borrão de lama. Mas eu não me
incomodava porque não era para
lá que elas iriam. As fotos iriam para o meu arquivo pessoal. Podia
então experimentar, brincar com a
composição, a luz."
A seguir, Leonard fala sobre alguns dos nomes que fotografou.
Miles Davis -"Foi o melhor assunto fotográfico que jamais tive,
sempre, em qualquer categoria.E
isso pela sua estrutura óssea, a
qualidade de sua pele, seu olhar,
suas expressões. Para mim, Miles
era o Picasso do jazz, pois assim
como Picasso ele passeou por vários estilos, do tradicional ao be-bop, ao newer jazz. Ele nunca permaneceu o mesmo."
Sara Vaughan -"Ela tinha o mais
incrível instrumento vocal entre
todos os cantores e era uma musicista extraordinária. Era sempre
uma experiência maravilhosa. Sarah Vaughan era uma amiga muito
querida, adorava jogar beisebol,
cartas. Ela era uma pessoa muito
divertida."
Billie Holiday -"Em 1949, fotografei Billy Holiday logo após ter
saído da prisão, onde cumpriu pena por uso de drogas. Ela ficou presa o tempo suficiente para ficar
saudável, e estava absolutamente
radiante. Logo após, entretanto,
voltou para as drogas, perdeu peso
e ficou com uma aparência terrível. Eu a fotografei quando ela estava mal mas nunca mostrarei essas fotos para ninguém. Ela parece
doente e triste e essa não é a imagem que quero preservar."
Lester Young -"Tinha um estilo
relaxado, "easy'. Ele era "soft'. Se
um cara tem uma namorada e quer
fazê-la sentir-se bem, põe um disco de Lester Young, porque vai
acalmá-la. Ele também fumava
muito, tinha a pele ruim. Mas como sabia tocar..."
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