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MAVIS STAPLES
O soul irresistível de Mavis Staples levanta a platéia
especial para a Folha
Os poucos fãs que já conheciam a
cantora norte-americana Mavis
Staples sabiam bem: ela tinha tudo
para ser a maior surpresa da segunda noite do Free Jazz paulista.
Não deu outra: a irresistível soul
music comandada pela ex-integrante do grupo vocal Staple Singers levantou a platéia, que acompanhou seus últimos números,
dançando, cantando e batendo
palmas.
Nem mesmo a sonorização deficiente da sala New Directions
-um melhor tratamento acústico
tem que estar entre as prioridades
da próxima edição do evento-
impediu que o show virasse baile.
Com seu vozeirão rouco, Mavis
mostrou seu lado "soul", lembrando os maiores sucessos dos Staples
Singers, acompanhada inclusive
pelos "backing vocals" da irmã
Cleotha Staples.
A festa começou com a dançante
"Come Go With Me", seguida por
"Do It Again" -sucesso assinado
pelo "soulman" Curtis Mayfield,
um dos mestres do gênero.
Mas a temperatura subiu mesmo
com "Respect Yourself" e "I'll Take You There", os dois maiores
hits da família Staples, nos anos 70,
época em que gravaram para o influente selo Stax.
²
Mais soul do que gospel
A lamentar só mesmo o fato de
Mavis Staples ter exibido muito
pouco o seu lado "gospel", em favor de sua face mais pop. O público
do Free Jazz perdeu assim a chance
de conhecer uma das cantoras
mais carismáticas da música religiosa afro-americana.
Mesmo assim, quem acompanhou sua emocionante performance de "Reach Out and Touch"
teve uma boa idéia do que seria um
concerto voltado para o gospel.
Quem abriu a noite de sábado foi
o jovem saxofonista e compositor
Antonio Hart, que, ao contrário de
seu ex-parceiro Marc Cary, agradou a platéia com um repertório puramente jazzístico.
Antonio Hart entrou no palco com cabelo rasta e uma camiseta verde-amarela, sugerindo como Cary que o visual
Armani da geração Marsalis já
está em baixa.
Mas a mensagem mais musical veio nos solos de "You
Know What I Mean" (de Bill
Evans) e em sua composição
"The Community": duas demonstrações de que Hart está
mesmo interessado em orientar seu jazz para o futuro, diferentemente da "fusion" elétrica e "viajandona" de Cary"
-pura nostalgia dos anos 70.
Já em "Somewhere" (do musical "West Side Story"), foi a vez
do pianista Orrin Evans exibir
seu talento num solo "funky" e
cheio de contrastes.
Pena que Hart tenha caído na
velho gafe de querer homenagear
o público brasileiro com uma
mistura de jazz, salsa e pitadas de
samba, intitulada "Capuccino".
Mas a intenção pareceu sincera.
(Carlos Calado)
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