São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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MAVIS STAPLES
O soul irresistível de Mavis Staples levanta a platéia

especial para a Folha


Os poucos fãs que já conheciam a cantora norte-americana Mavis Staples sabiam bem: ela tinha tudo para ser a maior surpresa da segunda noite do Free Jazz paulista.
Não deu outra: a irresistível soul music comandada pela ex-integrante do grupo vocal Staple Singers levantou a platéia, que acompanhou seus últimos números, dançando, cantando e batendo palmas.
Nem mesmo a sonorização deficiente da sala New Directions -um melhor tratamento acústico tem que estar entre as prioridades da próxima edição do evento- impediu que o show virasse baile.
Com seu vozeirão rouco, Mavis mostrou seu lado "soul", lembrando os maiores sucessos dos Staples Singers, acompanhada inclusive pelos "backing vocals" da irmã Cleotha Staples.
A festa começou com a dançante "Come Go With Me", seguida por "Do It Again" -sucesso assinado pelo "soulman" Curtis Mayfield, um dos mestres do gênero.
Mas a temperatura subiu mesmo com "Respect Yourself" e "I'll Take You There", os dois maiores hits da família Staples, nos anos 70, época em que gravaram para o influente selo Stax.
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Mais soul do que gospel A lamentar só mesmo o fato de Mavis Staples ter exibido muito pouco o seu lado "gospel", em favor de sua face mais pop. O público do Free Jazz perdeu assim a chance de conhecer uma das cantoras mais carismáticas da música religiosa afro-americana.
Mesmo assim, quem acompanhou sua emocionante performance de "Reach Out and Touch" teve uma boa idéia do que seria um concerto voltado para o gospel.
Quem abriu a noite de sábado foi o jovem saxofonista e compositor Antonio Hart, que, ao contrário de seu ex-parceiro Marc Cary, agradou a platéia com um repertório puramente jazzístico.
Antonio Hart entrou no palco com cabelo rasta e uma camiseta verde-amarela, sugerindo como Cary que o visual Armani da geração Marsalis já está em baixa.
Mas a mensagem mais musical veio nos solos de "You Know What I Mean" (de Bill Evans) e em sua composição "The Community": duas demonstrações de que Hart está mesmo interessado em orientar seu jazz para o futuro, diferentemente da "fusion" elétrica e "viajandona" de Cary" -pura nostalgia dos anos 70.
Já em "Somewhere" (do musical "West Side Story"), foi a vez do pianista Orrin Evans exibir seu talento num solo "funky" e cheio de contrastes.
Pena que Hart tenha caído na velho gafe de querer homenagear o público brasileiro com uma mistura de jazz, salsa e pitadas de samba, intitulada "Capuccino". Mas a intenção pareceu sincera. (Carlos Calado)



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