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HERMETO PASCOAL/JANE IRA BLOOM
Alagoano rouba noite
especial para a Folha
A história se repete: Hermeto
Pascoal é capaz de roubar as atenções em qualquer festival do mundo, e não foi diferente no Free Jazz
paulista, no sábado.
O músico alagoano só precisou
de alguns minutos, sozinho no palco, para surpreender a platéia, provocando sorrisos e expressões deslumbradas ao tocar instrumentos
inusitados como garrafas plásticas
e tubos de remédio.
O golpe final veio com um improviso ao piano: versão de
"Round Midnight" (de Thelonious
Monk) atravessada por dissonantes "clusters" e quebras rítmicas.
Só então a exuberante banda de
Hermeto entrou em cena para
transformar a exibição de criatividade bruta num concerto musical.
Preparadas especialmente para a
ocasião, composições como "Jazzão" e "Tendências" revelaram um
Hermeto um pouco mais jazzístico
que em seus últimos shows. Sem
falar no insólito solo de chaleira,
em "Pro Dizzy".
E embora não precisasse explicar
nada do que exibiu no palco, o
"bruxo" não saiu sem deixar uma
definição perfeita de suas misturas musicais: "Tudo é jazz,
tudo é forró e tudo é música",
disse, aplaudido.
Escolha perfeita para abrir a
noite de Hermeto, a saxofonista norte-americana Jane Ira
Bloom mostrou que encara a
música com o mesmo espírito
de liberdade do multiinstrumentista brasileiro.
Em composições originais,
como "Gateway to Progress" e
"Flat G Bop", Bloom recusa os
clichês do gênero, aproximando-se das arritmias e atonalidades do "free jazz".
Sua banda, que reúne a bateria do virtuose Bobby Previte,
o piano de Vincent Bourgeyx e
o contrabaixo preciso de Mark
Dresser, esbanjou criatividade
e coragem musical.
Originais também são os
movimentos súbitos e circulares que a saxofonista faz com o
corpo, para modular o som do
instrumento ao distanciá-lo
do microfone. Uma sacada
que só poderia partir de alguém que vê a música como
uma descoberta permanente.
(CARLOS CALADO)
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