|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SHOW CRÍTICA
Homenagem da Mangueira a Chico traz frustrações
LUIZ CAVERSAN
diretor da Sucursal do Rio
Com o objetivo de engrossar os
recursos para seu Carnaval, alegrar os fãs e fazer festa -porque,
afinal, samba é sobretudo festa-,
a escola de samba Estação Primeira de Mangueira realizou anteontem no Rio e realiza hoje em São
Paulo shows reunindo diversos
nomes ligados à escola, todos em
torno do homenageado por ela em
98, Chico Buarque de Hollanda.
O show do Rio durou 1 hora e 30
minutos e, como todo evento dessa natureza -que mistura artistas
de perfis distintos, saudosismos e
improvisação-, teve altos e baixos. Além de algumas frustrações.
A maior foi presenciar a avareza
de Chico Buarque, que limitou a
atuação solo no palco a só quatro
canções ("Alvorada", "Folhas
Secas", "Chão de Esmeraldas" e
"Divina Dama"). Muito pouco
para quem emprestava o nome ao
show, era sem dúvida a grande
atração da noite e, além de tudo,
recebia as homenagens por ter sido escolhido tema do samba-enredo da escola no próximo Carnaval.
OK que no disco que deu origem
ao show -o repertório e convidados são basicamente os mesmos-
já tinha sido assim. Mas esperava-se que, ao vivo e diante do calor
da platéia, a improvisação e a descontração inerentes ao samba prevalecessem, o que não ocorreu.
Repetiram-se fórmulas do disco
que pioraram ao vivo, como o
dueto entre Carlinhos Vergueiro e
Christina Buarque, ambos com
potencial vocal restrito e cujas limitações se acentuaram ao vivo.
Os demais convidados -Lecy
Brandão, João Nogueira, Beth
Carvalho, Alcione, Nelson Sargento, Jamelão e a Velha Guarda da
Escola- deram o que o público
queria: rememoraram sambas históricos relacionados à escola mais
famosa do país e foram recompensados com muito aplauso.
Apesar de -ou talvez por causa
disso- alguns exageros. Como
Beth Carvalho cantar "As Rosas
Não Falam", de Cartola, ajoelhada. Ou os malabarismos vocais de
Alcione na maravilhosa "Sei Lá
Mangueira", de Paulinho da Viola
e Hermínio Belo de Carvalho.
O ponto alto ficou para o fim,
com Jamelão. Bastou que aquele
negro forte e cuja voz está ligada ao
samba há muitas décadas soltasse
a primeira nota em "Quatro Estações" para que todos os demais ficassem reduzidos a um patamar
menor. Ele é, há muito, a grande
voz do samba e a grande voz da
Mangueira. Um show à parte.
O espetáculo "Chico Buarque da
Mangueira" resumiu-se a um painel irregular da produção musical
que reverencia a escola de samba.
Satisfaz os fãs inveterados da Mangueira e deixa com água na boca os
admiradores de Chico Buarque.
Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna "Netvox".
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|