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CINEMA/DESTINOS CRUZADOS
Harrison Ford procura se livrar das palavras
CLÁUDIO CASTILHO
especial para a Folha,
em Los Angeles
Se existe uma semelhança entre
Harrison Ford em pessoa e o personagem interpretado por ele em
seu último filme, "Destinos Cruzados", é a tremenda capacidade
de ambos de se comunicar mais
com a expressão dos olhos do que
com excesso de palavras.
O filme, baseado na novela homônima de Warren Adler, que
estréia hoje nos cinemas, é o 34º
da carreira de Ford. Ele faz o papel do sargento do Departamento
de Polícia de Washington, Dutch
Van Den Broeck, que perde a
mulher num acidente de avião
para descobrir, em seguida, que
estava sendo traído por ela.
Ford, que pela primeira vez
contracena com a atriz Kristin
Scott Thomas -que faz o papel
de uma congressista que fica viúva em consequência da mesma
tragédia aérea- é dirigido pela
segunda vez por Pollack (trabalharam juntos na comédia romântica "Sabrina", de 1995).
Quando o protagonista de
"Destinos Cruzados" recebeu a
Folha em um cinco estrelas de
Beverly Hills, ele exibia na orelha
esquerda o mesmo brinco de pedra redonda preta com o qual ele
aparece no filme. O cabelo grisalho está bem curto, espetadinho,
exatamente como no filme.
Aparências à parte, o ator não
consegue esconder uma certa timidez regada a charme ao responder cautelosa e pausadamente às perguntas que lhe são feitas.
Folha - Como foi o processo de
construção do personagem?
Harrison Ford - O que fazemos,
na realidade, é coletar nossas próprias experiências e bagagem
emocional e utilizá-las em nossas
interpretações. Me identifiquei
rapidamente com o dilema vivido
pelo policial Dutch Van Den
Broeck, o que facilitou a compreensão de suas ações.
Folha - Dutch parece atormentado por dentro. De onde você
tirou esse sentimento?
Ford - Acho que eu ainda experimento momentos de raiva
quando observo injustiça, seres
humanos sendo mal tratados,
certas desigualdades em diversos
aspectos da vida.
Folha - Você vê seu personagem como um masoquista?
Ford - Não. Ele não tem outra
escolha senão fazer o que ele precisa para descobrir o que procura
saber. Ele não busca causar dor a
si próprio ou na vida dos outros.
O que ele deseja somente é um
pouco de ajuda para desvendar o
mistério que o atormenta.
Folha - O que motiva seu personagem a ir até o fim?
Ford - Ele não somente investiga a infidelidade da mulher dele.
Ele quer saber a razão de seu próprio fracasso para compreender o
que faltou na relação do casal.
Folha - O que há de especial
em Sydney Pollack?
Ford - Como escritor e diretor
ele gasta bastante tempo nos projetos que resolve levar adiante,
consertando aqui ou ali, retocando, discutindo com outros escritores. Quando ele apresenta um
material para mim, chega com tamanha confiança no que tem nas
mãos que dificilmente faz alterações drásticas no texto. Me traz
um certo alívio saber que estarei
trabalhando com um roteiro que
já está praticamente concluído.
Folha - Você acha que Steven
Spielberg voltará um dia a filmar "Indiana Jones"?
Ford - Talvez sim. Acho que o
público ficaria muito feliz com o
retorno de Indiana Jones. Ele é
um aventureiro romântico por
quem a platéia facilmente se identifica. Mas estou certo de que jamais poderia voltar a interpretar
Indiana Jones. Ele ficou no passado de minha carreira, que tomou
rumo diferente. Me sinto hoje
mais próximo de personagens como Jack Ryan do que Han-Solo e
Indiana Jones.
Folha - Você parece preferir se
expressar mais com os olhos do
que com palavras.
Ford - Acho que estou sempre
procurando oportunidades para
me livrar das palavras. Cinema é
um medium visual e, além do
mais, conversando é que você
acaba se vendo em apuros (risos).
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