São Paulo, Sexta-feira, 19 de Novembro de 1999
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CINEMA/DESTINOS CRUZADOS

Harrison Ford procura se livrar das palavras

CLÁUDIO CASTILHO
especial para a Folha,
em Los Angeles

Se existe uma semelhança entre Harrison Ford em pessoa e o personagem interpretado por ele em seu último filme, "Destinos Cruzados", é a tremenda capacidade de ambos de se comunicar mais com a expressão dos olhos do que com excesso de palavras.
O filme, baseado na novela homônima de Warren Adler, que estréia hoje nos cinemas, é o 34º da carreira de Ford. Ele faz o papel do sargento do Departamento de Polícia de Washington, Dutch Van Den Broeck, que perde a mulher num acidente de avião para descobrir, em seguida, que estava sendo traído por ela.
Ford, que pela primeira vez contracena com a atriz Kristin Scott Thomas -que faz o papel de uma congressista que fica viúva em consequência da mesma tragédia aérea- é dirigido pela segunda vez por Pollack (trabalharam juntos na comédia romântica "Sabrina", de 1995).
Quando o protagonista de "Destinos Cruzados" recebeu a Folha em um cinco estrelas de Beverly Hills, ele exibia na orelha esquerda o mesmo brinco de pedra redonda preta com o qual ele aparece no filme. O cabelo grisalho está bem curto, espetadinho, exatamente como no filme.
Aparências à parte, o ator não consegue esconder uma certa timidez regada a charme ao responder cautelosa e pausadamente às perguntas que lhe são feitas.

Folha - Como foi o processo de construção do personagem?
Harrison Ford -
O que fazemos, na realidade, é coletar nossas próprias experiências e bagagem emocional e utilizá-las em nossas interpretações. Me identifiquei rapidamente com o dilema vivido pelo policial Dutch Van Den Broeck, o que facilitou a compreensão de suas ações.

Folha - Dutch parece atormentado por dentro. De onde você tirou esse sentimento?
Ford -
Acho que eu ainda experimento momentos de raiva quando observo injustiça, seres humanos sendo mal tratados, certas desigualdades em diversos aspectos da vida.

Folha - Você vê seu personagem como um masoquista?
Ford -
Não. Ele não tem outra escolha senão fazer o que ele precisa para descobrir o que procura saber. Ele não busca causar dor a si próprio ou na vida dos outros. O que ele deseja somente é um pouco de ajuda para desvendar o mistério que o atormenta.

Folha - O que motiva seu personagem a ir até o fim?
Ford -
Ele não somente investiga a infidelidade da mulher dele. Ele quer saber a razão de seu próprio fracasso para compreender o que faltou na relação do casal.

Folha - O que há de especial em Sydney Pollack?
Ford -
Como escritor e diretor ele gasta bastante tempo nos projetos que resolve levar adiante, consertando aqui ou ali, retocando, discutindo com outros escritores. Quando ele apresenta um material para mim, chega com tamanha confiança no que tem nas mãos que dificilmente faz alterações drásticas no texto. Me traz um certo alívio saber que estarei trabalhando com um roteiro que já está praticamente concluído.

Folha - Você acha que Steven Spielberg voltará um dia a filmar "Indiana Jones"?
Ford -
Talvez sim. Acho que o público ficaria muito feliz com o retorno de Indiana Jones. Ele é um aventureiro romântico por quem a platéia facilmente se identifica. Mas estou certo de que jamais poderia voltar a interpretar Indiana Jones. Ele ficou no passado de minha carreira, que tomou rumo diferente. Me sinto hoje mais próximo de personagens como Jack Ryan do que Han-Solo e Indiana Jones.

Folha - Você parece preferir se expressar mais com os olhos do que com palavras.
Ford -
Acho que estou sempre procurando oportunidades para me livrar das palavras. Cinema é um medium visual e, além do mais, conversando é que você acaba se vendo em apuros (risos).


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