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MÚSICA ERUDITA
Sir Simon Rattle vira pop com sinfonia de Mahler
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há algo de inusitado no
mercado mundial do CD
clássico. A lista dos mais vendidos
traz há seis semanas, em primeiro
lugar, uma sinfonia de verdade. É
a "Quinta", de Gustav Mahler
(1860-1911), e não gravação que,
segundo o cáustico musicólogo
Norman Lebrecht, se assemelha a
um karaokê adocicado.
Mas não é desta vez uma "Quinta" qualquer. Ela traz a Filarmônica de Berlim, regida pela primeira
vez por seu novo diretor musical,
sir Simon Rattle, 48. O concerto
foi gravado ao vivo a 7 de setembro. A EMI foi ágil e esperta ao
apressar o lançamento.
Rattle é uma das poucas unanimidades entre os regentes ainda
vivos. Em 18 anos como diretor,
operou uma bela cirurgia na Sinfônica da Cidade de Birmingham.
Transformou-a de orquestra provinciana e tímida em uma espécie
de laboratório para a experimentação de pequenas heterodoxias.
Ex-percussionista, violinista e
pianista, ele rejeitou convites para
empregos de alto prestígio, até
que os músicos da Filarmônica de
Berlim o elegeram em 1999 como
sucessor do italiano Cláudio Abbado. Rattle assumiu apenas agora seu novo posto.
A Berlim traz essa espécie de
perfeição genética que faz dela a
melhor sinfônica do mundo. E
Rattle concebe cada partitura como um desses jogos de quebra-cabeças que é preciso desmontar
para pôr à luz certas sutilezas, que
em seguida reenriquecerão a leitura do conjunto remontado.
Sua "Quinta" de Mahler é intrigante, diferente. Não tem o celebralismo demonstrado pela Filarmônica de Viena, na versão de
Pierre Boulez (1996). Nem o lirismo eloquente (Karajan, 1973) ou
a ênfase formal (Abbado, 1993)
que a mesma Berlim forneceu em
gravações passadas.
Leonard Bernstein (1918-1990),
um dos grandes intérpretes de
Mahler e autor de duas gravações
da "Quinta", a concebia de uma
forma que se tornou padrão a
partir dos anos 60. A "Marcha Fúnebre" (primeiro movimento)
deveria ser taciturna, trágica.
E o conhecidíssimo "Adagietto"
(quarto e penúltimo movimento),
aproveitado como trilha sonora
do "Morte em Veneza" (1971), de
Luchino Visconti, se tornou com
Bernstein a tradução da leveza
triste. Aquele maestro regeu em
1963 esse movimento nos funerais
de John Kennedy.
Mas para sir Simon Rattle não é
nada disso. A "Quinta" é para ele
a síntese musical de sensações leves, intensas, cristalinas. Nas dez
horas de ensaio com a orquestra,
ele, por exemplo, recomendou
aos músicos que concebessem o
"Adagietto" como a dimensão
carnal de uma cena de amor. Mas
sem nenhuma vulgaridade.
Foi também a primeira execução de uma edição revista da
"Quinta", feita por Reinhoild Kubik, da Fundação Gustav Mahler.
São 30 notas corrigidas e 800 mudanças menores.
Simon Rattle com a Orquestra
Filarmônica de Berlim
Lançamento: EMI
Quanto: cerca de R$ 59
Onde encomendar: www.amazon.com
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