São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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LIVROS

Reedição da obra do jornalista e escritor, com suas críticas e traduções publicadas na imprensa, deve ter cinco volumes

Poesia devolve Mário Faustino aos livros

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

Revisada e reeditada com alguns inéditos, a obra em versos de Mário Faustino reunida em "O Homem e Sua Hora e Outros Poemas" começa uma série de cinco volumes que deve conter ainda os textos críticos e as traduções publicados na imprensa desse escritor e jornalista que construiu sua própria poética, não se filiando a nenhuma escola literária.
Produzindo em plena ebulição da chamada Geração de 45, que tinha em seus quadros Carlos Drummond de Andrade, o compromisso de Faustino (1930 - 1962) era com "elevar o padrão da poesia brasileira", explica a organizadora da série e professora de literatura brasileira na Unicamp Maria Eugenia Boaventura.
Para isso, esse poeta de Teresina, no Piauí, tinha à disposição a imprensa e seus próprios poemas. Com essas armas, ficava livre para criticar impiedosamente as letras nacionais, apresentar os novos autores, divulgar os estrangeiros e teorizar sobre o fazer poético.
A porta de saída para as idéias era o suplemento literário do "Jornal do Brasil", mais especificamente a página intitulada "Poesia-Experiência", da qual foi o responsável entre 1956 e 1958. Foi nesse espaço que os concretistas foram carinhosamente abrigados.
"Faustino não era simpático à Geração de 45, estava mais próximo do concretismo, achava-o fundamental, mas não aceitava todos seus preceitos", diz Boaventura. No seu único livro de poesias publicado, "O Homem e Sua Hora", de 1955, já se observa como a guerra ao verso empreendida pelos concretos de primeira época não fazia parte de sua criação.
Trabalhando a métrica com rigor, o poeta aborda temas grandiosos, como a morte, o amor, a angústia e a perplexidade. "Coisas pelas quais os concretos daquele momento não se interessavam. Faustino dizia que o concretismo estava voltado para o futuro, não ele", lembra Boaventura. O elo principal entre o escritor e os concretos era a experimentação e o "background", principalmente a admiração pelos poetas Ezra Pound e T.S. Eliot.
Os "Cantos" de Pound, obra que constrói uma espécie de épica, influenciou o desenvolvimento do poema "O Homem e Sua Hora" -que deu nome ao livro- e do sonho que norteou a produção faustiniana: fazer um longo poema. "Era uma forma de o autor realizar-se artisticamente", explica Boaventura.
Na segunda parte do volume, "Fragmentos de uma Obra em Progresso", pode-se assistir à construção das densas etapas que comporiam os versos dessa obra máxima, interrompida pela morte prematura de Faustino, então funcionário da ONU, aos 32 anos, quando o avião em que estava explodiu sobre os Andes.
Os textos que o autor publicou na imprensa foram reunidos na última parte do livro. Com eles, estão inéditos colhidos entre seus manuscritos. "Todos os textos (críticos ou poéticos) são checados com os originais", explica a pesquisadora.
Por isso, pequenas diferenças podem ser encontradas se forem confrontados os textos da edição atual dos poemas reunidos com os da primeira, de 1966. Mais que nuances, Boaventura introduziu poemas completamente inéditos, não editados em 1966.
A rigorosa prosa do piauiense será editada a partir de abril e começa com a reunião de críticas "De Anchieta aos Concretos".


O HOMEM E SUA HORA E OUTROS POEMAS. Autor: Mário Faustino. Editora: Companhia das Letras. Quanto: R$ 34 (272 págs.).



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