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LIVROS
Reedição da obra do jornalista e escritor, com suas críticas e traduções publicadas na imprensa, deve ter cinco volumes
Poesia devolve Mário Faustino aos livros
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
Revisada e reeditada com alguns inéditos, a obra em versos de
Mário Faustino reunida em "O
Homem e Sua Hora e Outros Poemas" começa uma série de cinco
volumes que deve conter ainda os
textos críticos e as traduções publicados na imprensa desse escritor e jornalista que construiu sua
própria poética, não se filiando a
nenhuma escola literária.
Produzindo em plena ebulição
da chamada Geração de 45, que tinha em seus quadros Carlos
Drummond de Andrade, o compromisso de Faustino (1930
- 1962) era com "elevar o padrão
da poesia brasileira", explica a organizadora da série e professora
de literatura brasileira na Unicamp Maria Eugenia Boaventura.
Para isso, esse poeta de Teresina, no Piauí, tinha à disposição a
imprensa e seus próprios poemas.
Com essas armas, ficava livre para
criticar impiedosamente as letras
nacionais, apresentar os novos
autores, divulgar os estrangeiros e
teorizar sobre o fazer poético.
A porta de saída para as idéias
era o suplemento literário do
"Jornal do Brasil", mais especificamente a página intitulada "Poesia-Experiência", da qual foi o responsável entre 1956 e 1958. Foi
nesse espaço que os concretistas
foram carinhosamente abrigados.
"Faustino não era simpático à
Geração de 45, estava mais próximo do concretismo, achava-o
fundamental, mas não aceitava
todos seus preceitos", diz Boaventura. No seu único livro de poesias
publicado, "O Homem e Sua Hora", de 1955, já se observa como a
guerra ao verso empreendida pelos concretos de primeira época
não fazia parte de sua criação.
Trabalhando a métrica com rigor, o poeta aborda temas grandiosos, como a morte, o amor, a
angústia e a perplexidade. "Coisas
pelas quais os concretos daquele
momento não se interessavam.
Faustino dizia que o concretismo
estava voltado para o futuro, não
ele", lembra Boaventura. O elo
principal entre o escritor e os concretos era a experimentação e o
"background", principalmente a
admiração pelos poetas Ezra
Pound e T.S. Eliot.
Os "Cantos" de Pound, obra
que constrói uma espécie de épica, influenciou o desenvolvimento do poema "O Homem e Sua
Hora" -que deu nome ao livro- e do sonho que norteou a
produção faustiniana: fazer um
longo poema. "Era uma forma de
o autor realizar-se artisticamente", explica Boaventura.
Na segunda parte do volume,
"Fragmentos de uma Obra em
Progresso", pode-se assistir à
construção das densas etapas que
comporiam os versos dessa obra
máxima, interrompida pela morte prematura de Faustino, então
funcionário da ONU, aos 32 anos,
quando o avião em que estava explodiu sobre os Andes.
Os textos que o autor publicou
na imprensa foram reunidos na
última parte do livro. Com eles,
estão inéditos colhidos entre seus
manuscritos. "Todos os textos
(críticos ou poéticos) são checados com os originais", explica a
pesquisadora.
Por isso, pequenas diferenças
podem ser encontradas se forem
confrontados os textos da edição
atual dos poemas reunidos com
os da primeira, de 1966. Mais que
nuances, Boaventura introduziu
poemas completamente inéditos,
não editados em 1966.
A rigorosa prosa do piauiense
será editada a partir de abril e começa com a reunião de críticas
"De Anchieta aos Concretos".
O HOMEM E SUA HORA E OUTROS
POEMAS. Autor: Mário Faustino. Editora:
Companhia das Letras. Quanto: R$ 34
(272 págs.).
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