São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Após quatro anos de reformas, museu reabre amanhã como novo marco arquitetônico de Nova York

Remodelado, novo MoMA "rouba" a cena

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Em um amplo salão no meio de Manhattan, Yoshio Taniguchi, o arquiteto japonês por trás da reconfiguração do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), diz que sua obra não vai competir com as peças que nela são exibidas. Mentira. Pelas galerias do novo prédio, é tão comum ver gente olhando embevecida para paredes vazias, escadarias, vidraças e mezaninos quanto para obras de Pablo Picasso, Vincent van Gogh e Jackson Pollock.
Quando o MoMA reabrir, amanhã, após quatro anos de reformas e US$ 858 milhões consumidos, os nova-iorquinos ganharão não apenas seu querido museu de volta, mas um novo marco arquitetônico. Valeu a pena esperar.
O endereço continua o mesmo, na rua 53 com a Quinta Avenida -nos últimos dois anos, quando o prédio em Manhattan teve de fechar, o museu funcionou provisoriamente em um galpão no bairro de Queens. Mas o projeto, que consumiu sete anos de trabalho de Taniguchi, renovou completamente a instituição para seu 75º aniversário.
A área total passou de 35 mil m2 para 58,5 mil m2. A parte dedicada a exposições -há ainda um cinema, um centro educacional, teatros e um restaurante, além da parte administrativa- cresceu de 7.800 m2 para 11,6 mil m2. E o ganho não se limitou ao espaço.
"Queríamos transformar o museu em um grande laboratório", explica Glenn Lowry, que dirige a instituição desde 1995. "Agora está mais fluido, com múltiplas entradas para as galerias, possibilitando ao visitante diferentes leituras do acervo."
A idéia de avivar o MoMA foi concretizada com maestria. As galerias estão mais amplas, com espaços vazados e inúmeras entradas. Há paredes móveis nas salas de exposições temporárias, e a luz natural banha boa parte do prédio. No chão, o acanhado carpete deu lugar a um piso de madeira clara que casa perfeitamente com o traço simples e sofisticado do arquiteto.
Também aumentou o espaço dedicado à arte contemporânea, que ficava escondida no prédio anterior. Novas obras foram compradas. Segundo a direção, com as novas aquisições feitas durante a reforma, a representatividade dos artistas sul-americanos "aumentou sensivelmente".
Na nova configuração, ganharam destaque as obras de alguns artistas brasileiros. O paisagista Roberto Burle Marx tem o projeto de um de seus jardins exibidos no setor de arquitetura, os irmãos Fernando e Humberto Campana têm sua cadeira Vermelha em cima de uma plataforma na área de design, e Vik Muniz, uma imensa tela com uma foto em chocolate na parte de design gráfico.

Microcosmo
"Cobrimos três séculos de arte. Passamos por sete expansões arquitetônicas, cada uma motivada pela necessidade intelectual de mudar a natureza da instituição. Continuaremos a fazer isso até quando pudermos, ainda que uma hora sejamos obrigados a nos tornar uma instituição mais tradicional", afirma Lowry.
Com um acervo em contínua expansão -o museu possui hoje mais de 100 mil peças, das quais "umas poucas mil" estão em exibição-, recriar o espaço era um desafio fora do convencional. A aposta de deixá-lo com o antes pouco conhecido Taniguchi, que nunca assinara um projeto fora do Japão, provou-se certeira.
Aos 67 anos, ele é a quarta (e última) geração de uma família de arquitetos. "Acho que entendo um pouco do assunto", brinca. O MoMA é seu nono museu.
Taniguchi usa sobretudo linhas retas. "Eu gosto de ser original. Agora todos os arquitetos estão usando linhas curvas, ovaladas, e isso virou um tremendo clichê", diz. Ele, que também privilegia os espaços contínuos, criou um lobby que conecta o andar térreo e permite a entrada por duas ruas.
A fachada em vidro, que buscou preservar o traçado original, paredes vazadas por dentro e clarabóias permitem um bom aproveitamento da luz natural. "A luz do sol transforma totalmente um lugar", afirma. Mais importante, permitem admirar o jardim de esculturas, desenhado em 1953 por Philip Johnson, da maioria dos corredores e mezaninos.
"Eu tentei preservar a harmonia com a vizinhança", diz Taniguchi. "O local do MoMA é um microcosmo de Manhattan, que é uma cidade construída em torno de um parque. Tentei preservar isso. Se não houvesse um jardim, eu teria de incluir um."


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