São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELÂMPAGOS
Encontro no museu

JOÃO GILBERTO NOLL

Precisava me esconder. Entrei no museu. O acervo de borboletas microiluminadas na sala escura. Pronunciei algo como um mantra, sei lá, um langor imprevisto, espichado. Passei a mão na boca. Senti os dedos úmidos, um material mais denso que a saliva. Não dava para enxergar a cor naquela escuridão. A porta bateu. Fui ali. Trancada. Passos se aproximavam. Estocadas no breu. Cinco, seis golpes como se não arrebentassem em cima de mim. "Tantos anos sem dor física, não vai ser agora", pensei. Enquanto me apagavam, as asas de uma borboleta estremeceram, não sei se atrás do vidro ou na memória do assassino.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.