São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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Órfãos da Guerra Fria são os 'heróis' de Ronin


O diretor John Frankenheimer fala à Folha sobre seu mais recente filme, que pré-estréia hoje em São Paulo e traz Robert De Niro e Jean Reno no elenco


BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local

"Ronin", filme mais recente do cineasta norte-americano John Frankenheimer, 68, e que tem pré-estréia hoje e estréia nacional amanhã, mostra o cineasta mais uma vez às voltas com uma galeria de personagens que frequentemente habitam sua cinematografia: seres que, por diferentes razões, são conduzidos à margem do sistema.
Assim foi em "Sob o Domínio do Mal" (62), que mostrava um oficial americano vítima de lavagem cerebral na guerra da Coréia, e em "Amazônia em Chamas" (94), que narrava a vida do líder sindical brasileiro Chico Mendes.
Assim é também em "Ronin", thriller que trata de agentes secretos governamentais que se tornam mercenários com o fim da Guerra Fria.
Em entrevista à Folha por telefone, de Madri, onde esteve para divulgar o filme, Frankenheimer falou de sua obra e de seu filme mais recente.

Folha - Um de seus mais célebres filmes, "Sob o Domínio do Mal", tratava da Guerra Fria. Agora o sr. se volta para os despojos do conflito em "Ronin". É um de seus temas prediletos?
John Frankenheimer -
É um assunto que me fascina. Sempre gostei de John Le Carré (autor de livros de espionagem, como "O Espião Que Saiu do Frio") e meu próximo filme, "The Good Sheppard", será sobre os primeiros 20 anos da CIA. "Ronin" não trata diretamente da Guerra Fria, mas de agentes altamente treinados que, no passado, trabalhavam a mando de governos e que, agora, na ausência destes, tornaram-se mercenários.
Folha - Por que o sr. optou por revelar pouco ou nada sobre o passado dos personagens de "Ronin"?
Frankenheimer -
Odeio filmes que precisam explicar tudo. Não necessito de vários flashbacks. Tudo que o público precisa saber é elucidado no final.
Folha - O sr. iniciou sua carreira em uma época em que os cineastas americanos faziam filmes de conteúdo social com baixos orçamentos. Hoje em dia, prevalecem superproduções que muitas vezes têm argumentos simplistas. Como se deu essa mudança?
Frankenheimer -
O público se tornou menos exigente. A geração que vai atualmente aos cinemas foi criada assistindo à MTV e vive em busca da gratificação visual. Para eles, grandiloquência é sinônimo de qualidade. Gostaria que os filmes de ação contemporâneos fossem melhores, mas, quanto mais pessoas se tenta agradar, menor a qualidade do produto.
Folha - Parte do sucesso de público de "Ronin" pode ser creditada a Robert De Niro?
Frankenheimer -
Sem dúvida. A presença dele em um filme traz credibilidade, a expectativa de que se trata de uma obra de qualidade.
Folha - Um tema sempre presente em sua obra é a luta de um só homem contra o sistema. Foi isso que o levou a filmar a vida de Chico Mendes?
Frankenheimer -
Sim, tenho muito orgulho desse filme. Ele jamais poderia ter sido feito por um grande estúdio de cinema. Foi um executivo da (TV paga) HBO que me apresentou o roteiro. Nas produções que fiz para a TV a cabo, sempre tive muito mais liberdade criativa e pude trabalhar com atores de minha escolha.



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