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Órfãos da Guerra Fria são os 'heróis' de Ronin
O diretor John Frankenheimer fala à Folha sobre seu mais recente filme, que pré-estréia hoje em São Paulo e traz Robert De Niro e Jean Reno no elenco
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BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local
"Ronin", filme mais recente do
cineasta norte-americano John
Frankenheimer, 68, e que tem pré-estréia hoje e estréia nacional amanhã, mostra o cineasta mais uma
vez às voltas com uma galeria de
personagens que frequentemente
habitam sua cinematografia: seres
que, por diferentes razões, são
conduzidos à margem do sistema.
Assim foi em "Sob o Domínio do
Mal" (62), que mostrava um oficial
americano vítima de lavagem cerebral na guerra da Coréia, e em
"Amazônia em Chamas" (94), que
narrava a vida do líder sindical
brasileiro Chico Mendes.
Assim é também em "Ronin",
thriller que trata de agentes secretos governamentais que se tornam
mercenários com o fim da Guerra
Fria.
Em entrevista à Folha por telefone, de Madri, onde esteve para divulgar o filme, Frankenheimer falou de sua obra e de seu filme mais
recente.
Folha - Um de seus mais célebres
filmes, "Sob o Domínio do Mal",
tratava da Guerra Fria. Agora o sr.
se volta para os despojos do conflito em "Ronin". É um de seus temas
prediletos?
John Frankenheimer - É um assunto que me fascina. Sempre gostei de John Le Carré (autor de livros de espionagem, como "O Espião Que Saiu do Frio") e meu próximo filme, "The Good Sheppard",
será sobre os primeiros 20 anos da
CIA. "Ronin" não trata diretamente da Guerra Fria, mas de agentes
altamente treinados que, no passado, trabalhavam a mando de governos e que, agora, na ausência
destes, tornaram-se mercenários.
Folha - Por que o sr. optou por revelar pouco ou nada sobre o passado dos personagens de "Ronin"?
Frankenheimer - Odeio filmes
que precisam explicar tudo. Não
necessito de vários flashbacks. Tudo que o público precisa saber é
elucidado no final.
Folha - O sr. iniciou sua carreira
em uma época em que os cineastas
americanos faziam filmes de conteúdo social com baixos orçamentos. Hoje em dia, prevalecem superproduções que muitas vezes
têm argumentos simplistas. Como
se deu essa mudança?
Frankenheimer - O público se
tornou menos exigente. A geração
que vai atualmente aos cinemas foi
criada assistindo à MTV e vive em
busca da gratificação visual. Para
eles, grandiloquência é sinônimo
de qualidade. Gostaria que os filmes de ação contemporâneos fossem melhores, mas, quanto mais
pessoas se tenta agradar, menor a
qualidade do produto.
Folha - Parte do sucesso de público de "Ronin" pode ser creditada a Robert De Niro?
Frankenheimer - Sem dúvida. A
presença dele em um filme traz
credibilidade, a expectativa de que
se trata de uma obra de qualidade.
Folha - Um tema sempre presente em sua obra é a luta de um só
homem contra o sistema. Foi isso
que o levou a filmar a vida de Chico Mendes?
Frankenheimer - Sim, tenho
muito orgulho desse filme. Ele jamais poderia ter sido feito por um
grande estúdio de cinema. Foi um
executivo da (TV paga) HBO que
me apresentou o roteiro. Nas produções que fiz para a TV a cabo,
sempre tive muito mais liberdade
criativa e pude trabalhar com atores de minha escolha.
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