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CRÍTICA
Trama intrincada conduz ao vazio
da Redação
Quase todo mundo já ouviu falar do MacGuffin, essa instituição celebrizada por Hitchcock.
O MacGuffin é, em linhas gerais,
o pretexto que faz os personagens se moverem ao longo de
um filme. Pode ser um objeto,
uma pilha de papéis, uma bomba. O MacGuffin de "Ronin" é
uma misteriosa e cobiçada maleta. Sabe-se que ela é preciosa, interessa a terroristas e que por ela
se mata e se morre. Hitchcock,
mestre no uso desse artifício, dizia que o MacGuffin tinha muita
importância para os personagens, mas nenhuma para ele, o
narrador. Era um pretexto por
trás do qual se desenvolvia a história que o interessava.
O curioso em "Ronin" é que
estamos diante de um puro MacGuffin. Isto é: tudo que interessa
na história -para os personagens, o narrador e o público- é,
na verdade, a maleta e seu conteúdo explosivo.
O restante vem antes da apresentação: no Japão feudal, os ronin eram os samurais errantes
que, após a derrota de seu chefe,
deviam vagar sem ocupação.
Aqui, a história é transposta
para o mundo pós-Guerra Fria.
Os ronin em questão são os
membros dos antigos serviços
secretos que, após a queda do
comunismo, dedicam-se a cumprir missões cujo conteúdo desconhecem, ou então trabalham
para mafiosos, cujas atividades
(e a finalidade dessas atividades)
é pelo menos brumosa.
O possível interesse do longa
vem da tentativa de reciclar o filme de espionagem, transportando-o para um quadro atual. A
novidade consiste em John
Frankenheimer ter realizado um
filme de ação sem recorrer obsessivamente aos efeitos especiais, reencontrando a tradição
do filme de ação.
Sua empreitada é parcialmente
bem-sucedida, e basta olhar as
cenas de perseguição nas ruas de
Nice, entre outras, para perceber
ali uma "velha escola" de filmagem. É como se voltássemos 30
anos no tempo para reencontrar
as cenas de corrida de "Grand
Prix" -filme de 65 que é, até hoje, um paradigma do gênero.
Nesse sentido, o sucesso de
"Ronin" nos EUA não deixa de
ser um sintoma animador de
que o público talvez esteja se
cansando dos filmes-maquete.
No entanto, "Ronin" não difere tanto assim da maioria das
aventuras atuais. Seus personagens parecem existir apenas como convenções necessárias para
que a trama vá em frente.
Na coluna dos méritos de "Ronin" pode-se colocar menos a
trama extremamente intrincada
do que essa sensação -que o
público divide com os protagonistas- de que ninguém sabe
exatamente o que está acontecendo e no que está metido.
É uma pena que essa sensação
estimulante -muito parecida
com a que se tem vendo "À Beira
do Abismo" (1946), de Howard
Hawks- termine por projetar o
espectador em um vazio atroz.
Ao final, pensamos, aquilo tudo que aconteceu levou a quê? E
por que aconteceu? E esse tipo
de pergunta não é tão estimulante.
(INÁCIO ARAUJO)
²
Filme: Ronin
Produção: EUA, 1998
Direção: John Frankenheimer
Com: Robert De Niro, Jean Reno e
Natascha McElhone
Quando: pré-estréia hoje no Metrô
Tatuapé 6, Iguatemi 2, Top Cine 1, SP
Market 3, Interlagos Cinemark 10 e
circuito; estréia nacional amanhã
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