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CRÍTICA
Caça-níquel natalino tem só "Baile Show" como novidade
DO ENVIADO AO RIO
O que diriam os filhos bastardos de Paulo Francis -estas
criaturas da imprensa que não vivem sem assentar o relho do escárnio no lombo do baiano- se
recebessem de Papai Noel uma
caixa com 40 discos de Caetano
Veloso? O bom velhinho seguramente não sairia vivo desse trote.
E para os seres humanos que
apreciam, qual a novidade desse
balaio? O que tem de inédito? Que
diabo de comércio natalino é esse? E o precinho, é bom? Uns cinco salários mínimos, rapaziada.
"Luxo" para os fãs da cumeeira
da pirâmide. De inédito tem o
"Bicho Baile Show", ao vivo, disco
dos anos 70, em companhia da
Banda Black Rio. Mandaram tirar
as cadeiras do teatro Carlos Gomes e promoveram o xenhenhém
dançante. A tal da crítica caiu de
pau na época: um disco alienado,
para dizer o mínimo.
Caetano acreditava nos deuses
que dançam, como havia sugado
do cabecismo nietzscheano. Os
Paulos Francis de então não perdoavam o samba com a Black Rio
em plena repressão braba. Houve
quem também visse algum oportunismo artístico do novidadeiro
compositor baiano, que antevia,
no momento, a fundação do funk
carioca, gênero que conta com o
seu apreço e consideração.
O achado tem seu valor. Quem
quiser agora, porém, tem de levar
todo o Caetano. Mais adiante é
que a gravadora vai vender os discos isoladamente. A caixa tem
ainda o "Muito Mais", coletânea
apresentada no DVD-áudio que
vem de lambuja. Supérfluo -tiragem de 3.000- para poucos.
O que há de novo, como esmiuça Charles Gavin, músico que se
firma como um apanhador vigilante do baú da MPB, é a ourivesaria que foi feita com os discos. A
remasterização e remixagem na
safra pré-1987 reconstruíram algumas canções. A voz aparece
mais firme, os instrumentos são
mais intensos e personalizados
nos discos de 60 e 70, como no
"Tropicália ou Panis et Circencis"
de tantos Mutantes. E Caetano &
Chico Juntos e ao Vivo", no dia do
suicídio do poeta piauiense Torquato Neto (1972), segue velho e
tão bom. Independentemente dos
adornos tecnológicos.
Mas aqui julga-se a caixa, a coisa, não a obra do homem, que já
estava, de alguma forma, na praça. É aquele tipo de produto que
nego diz assim: "Para colecionadores". E bacanas endinheirados
que pretendem fazer uma graça
natalina para a noiva. Os que notarem o dedo de Gavin e suas restaurações terão um papo-cabeça a
mais -""você ouviu o "Transa"
restaurado?"- para sobremesas
caras dos restaurantes metidos de
Rio e São Paulo. O resto, seu garçom, é café pequeno.
(XICO SÁ)
Todo o Caetano 2002
Artista: Caetano Veloso Lançamento: Universal Quanto: R$ 950, em média
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