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Crítica/"Folha Explica Villa-Lobos"
Violonista Fabio Zanon relativiza as lendas e a revisão do mito Villa-Lobos
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Villa-Lobos é o gigante
musical do qual muito
se fala, mas cuja música
pouco se toca, e o cinquentenário de sua morte parece reforçar essa dicotomia. Se os lançamentos fonográficos foram
quase inexistentes, e as atividades de concerto também deixaram a desejar, as melhores homenagens à efeméride vieram
da área editorial.
Bons livros sobre o compositor não faltaram ao longo do
ano e, dentre eles, vale destacar
"Folha Explica Villa-Lobos",
uma profunda, informada,
atualizada e muito bem escrita
síntese da vida e da obra do
maior músico brasileiro de todos os tempos, útil tanto para
leigos quanto para especialistas, feita por um de seus melhores intérpretes: Fabio Zanon.
Dotado de técnica apurada e
musicalidade superlativa, Zanon exprime-se verbalmente
com a mesma fluência e naturalidade com que o faz ao dedilhar seu instrumento, o violão,
como bem sabem os ouvintes
que acompanhavam seu extinto programa de rádio "A Arte do
Violão".
Com uma erudição que passa
bem longe do pedantismo, ele
empenha sua prosa agradável e
acessível na tarefa de elucidar o
universo do autor das "Bachianas Brasileiras", um compositor que criou sua própria imagem em vida e que, portanto,
nem sempre é a fonte mais confiável a respeito de si mesmo.
Muitos estudos a respeito do
músico já buscaram desconstruir os mitos sobre ele, e um
dos méritos de Zanon é relativizar tanto as lendas quanto sua
desconstrução.
Assim, por um lado, ele mostra o quão pouco há de comprovado nas inúmeras viagens que
Villa-Lobos teria feito pelo Brasil na juventude e coloca em dúvida a existência de muitas partituras do compositor tidas como "perdidas". Por outro, rejeita a visão de um Villa-Lobos
oportunista que, quando esteve
em Paris, nos anos 1920, "investiu como um touro louco em
sua autopromoção".
Mais louvável ainda é seu esforço de aquilatar a produção
do compositor, superando a superficial discussão do caráter
"nacional" de sua obra e mostrando como a visão altamente
pessoal que ele tinha dos mesmos problemas que afligiam
seus contemporâneos faz com
que sua música mereça figurar
nos programas de concertos
com a mesma frequência de
Bartók, Stravinski ou Falla.
Para Zanon, "não é o fato de
se servir da cultura popular que
fez dele um compositor único,
mas a maneira como conseguiu
encontrar nessa cultura os fios
mais adequados e os entrelaçou
à sua complexa trama composicional".
Foi nesse processo que
ele acabou elaborando "uma
maneira brasileira de se expressar em música, que imprimiria uma marca forte a outros
processos culturais".
A conclusão não poderia ser
mais clara nem mais pertinente: "Villa-Lobos criou uma possibilidade de música brasileira,
em vez de ser criado por ela. Ele
tornou-se folclore".
FOLHA EXPLICA VILLA-LOBOS
Autor: Fabio Zanon
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 18,90 (120 págs.)
Avaliação: ótimo
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