São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2010

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OPINIÃO

Geração atual vive em múltiplas tarefas com tudo ao mesmo tempo agora

MÁRION STRECKER
COLUNISTA DA FOLHA

Os nativos digitais não pensam em tecnologia. Para os que nasceram com o mouse na mão, tecnologia é algo normal, faz parte da vida, não é nem assunto.
Tecnicamente falando, dizem que os nativos digitais são aqueles que nasceram depois de 1992. Uma população global de mais de 1,6 bilhão de pessoas. Outro dia, quando eu estava bem longe do Brasil, mandei um e-mail ao meu marido dizendo que achava nossa filha uma típica integrante da tal Geração Z, nada com que devêssemos nos preocupar excessivamente.
Seu e-mail de resposta veio com a seguinte afirmação em forma de "assunto": Márion é da Geração Z.
Ooops. O que é a Geração Z, afinal?
Tacham-nos de DDA, ou seja, portadores de um Distúrbio de Déficit de Atenção.
Também nos chamam de hiperativos, porque parecemos agitados ou ansiosos e fazemos um monte de coisas ao mesmo tempo.
Regras de etiqueta à parte, nós ficamos completamente à vontade ligados a três ou mais telas simultaneamente.
Se estou no computador trabalhando em alguma coisa específica, posso estar ao mesmo tempo com várias outras janelas do navegador abertas, pulando de uma para a outra frequentemente.
Ouço iPod e uso Outlook, um software que me pipoca um resumo de cada e-mail recebido em tempo real. Uma loucura, em termos de manter a concentração.
Minha filha, quando chego em casa, normalmente está assistindo a algum seriado de televisão, ao mesmo tempo em que troca SMSs com amigas, de computador no colo, com Skype, MSN, fazendo trabalho de escola e atualizando perfis no Orkut, Facebook ou Twitter. Ela só tem 12 anos.

CONCENTRAÇÃO
Não, não posso reclamar. Ela não ficou em recuperação em nenhuma matéria e sua menor nota foi um sete.
Será que ela tem algum déficit de atenção importante?
Não parece! Será que eu mesma tenho algum déficit de atenção? Bem, às vezes.
Concentrar-se é um processo complexo, que começa pelo interesse na atividade que estamos fazendo. Também passa pelos caminhos percorridos no cérebro, que não são fixos. Mas não sou psiquiatra e não vou me aprofundar nesse aspecto.
O que quero dizer é que a capacidade de exercer múltiplas tarefas simultaneamente ou mesmo alternadamente, só que numa sequência frenética, é uma realidade nos mais jovens e em muitos adultos também.
A vida em redes sociais estimula esse comportamento.
Em vez de estarmos numa só festa, interagindo com pessoas, estamos em várias festas simultaneamente, observando, sendo observados e interagindo com uma quantidade muito maior de gente.
Gera ansiedade? Claro! Mas são esses os tempos em que estamos vivendo.

MÁRION STRECKER , 50, é jornalista, foi crítica de arte, redatora e editora da Ilustrada nos anos 80 e é cofundadora e diretora de conteúdo do UOL desde 1996.


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