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FERNANDA MONTENEGRO
Atriz acha impossível indicação ao Oscar
MARIANE MORISAWA
da Redação
"Uma das maiores performances
do ano." "Atuação extraordinária." "Trabalho de clareza e profundidade surpreendentes." Com
adjetivos assim, a imprensa americana tem saudado a interpretação
da atriz Fernanda Montenegro como Dora no filme "Central do Brasil", dirigido por Walter Salles.
A revista "Time" incluiu o filme
entre os dez melhores do ano e
chama Fernanda de "impressionante".
A atriz, dama do teatro brasileiro, vai conquistando seu espaço
também no panorama cinematográfico mundial. Fernanda começou sua carreira de sucesso com
"Central do Brasil" em fevereiro,
quando recebeu o Urso de Prata
em Berlim por sua atuação.
Neste mês, depois de receber
prêmios da Associação Americana
de Críticos e da Associação de Críticos de Los Angeles, a atriz acaba
de ser indicada ao Globo de Ouro
-considerado a mais segura prévia do Oscar.
Vai concorrer com duas atrizes
consagradas de Hollywood, Meryl
Streep e Susan Sarandon, e as britânicas Cate Blanchett e Emily
Watson. Apesar de muitos acreditarem que uma indicação sua ao
Oscar já está garantida, ela se dá o
direito de "não conjeturar sobre o
futuro".
Prefere viver "cada dia". "No
meu caso, acho impossível uma indicação", disse a atriz, em entrevista ontem, por telefone, de Hamburgo (Alemanha), onde promovia "Central do Brasil", final de
uma turnê -"gloriosa", segundo a
atriz- de dois meses pelos Estados Unidos e Europa.
Folha - Como você se sentiu ao
ser indicada ao Globo de Ouro?
Fernanda Montenegro - É uma
notícia muito boa. Eu fiz "Central
do Brasil" porque gostei do que me
apresentaram. Os resultados são a
consequência desse trabalho.
Folha - Qual a importância dessa
indicação e dos prêmios que você
vem recebendo?
Montenegro - É uma coisa interessante de observar nessa altura
da minha vida. Fico feliz, mas não
sou deslumbrada. Porque prêmio,
às vezes, é um acidente. Você pode
ser o melhor e ganhar, ou também
pode ser o melhor e perder. Não
posso ser estúpida de dizer que não
gostei, até pelo que isso representa
para o cinema brasileiro. Mas vamos esperar as conclusões.
Folha - Sempre se diz que o brasileiro em geral precisa da aprovação externa para ser reconhecido
no país. Você concorda?
Montenegro - Concordo. A chancela internacional facilita a divulgação e dá prestígio.
Folha - Criou-se no Brasil uma expectativa muito grande em relação
a um Oscar. Vocês sentem essa
pressão?
Montenegro - Mesmo no exterior, perguntam muito, porque o
Oscar é feito um bezerro de ouro, é
um ícone. Eu vivo cada dia. O que
me aconteceu é ótimo, mas, no
meu caso, acho impossível uma indicação ao Oscar. Como diz o produtor internacional do filme, Arthur Cohn, "se você for indicada ao
Oscar, diga que está feliz. Se ganhar, diga que está muito, muito,
muito feliz". No Brasil, a gente está
sempre em busca do referencial
máximo de aceitação. Ou é ser
campeão do mundo de futebol, ou
é ganhar o Oscar, que é o máximo
de reconhecimento no mercado cinematográfico externo. Acaba ficando para trás tudo o que você fez
até aquele momento.
Folha - No Brasil, seu trabalho é
reconhecido há muito tempo. Como é ser reconhecida em um mercado tão fechado ao estrangeiro
como o americano?
Montenegro - Acho que tivemos
um produtor internacional, uma
distribuidora que fez um trabalho
primoroso, com uma penetração
importante no mercado externo.
Por isso o trabalho apareceu. Precisamos desse trânsito. É difícil se
espalhar pelo mundo.
Folha - Você foi indicada ao Globo de Ouro ao lado de atrizes ícones de Hollywood. O que você acha
dessas atrizes?
Montenegro -São atrizes conceituadíssimas, respeitadíssimas.
Mas nós também temos uma presença artístico-cultural importante. Eu fico com os pés no chão.
Folha - Mas você realmente não
acredita na possibilidade de uma
indicação ao Oscar?
Montenegro - Não sei. Eu me dou
o direito de não conjeturar. Só sei
que fiz um filme bom, tive um papel maravilhoso.
Folha - Por que Dora toca tanto
as pessoas?
Montenegro - Eu quis fazê-la da
forma mais objetiva, mais limpa de
histrionismo, mais verdadeira,
mais honesta possível. Senti logo
no início que o filme ia pelo caminho do documental. Tive de fazer
um trabalho de desestruturação
interpretativa, sem histrionismos,
sem golpes. Entrei de cabeça, não
me poupei.
Folha - Como tem sido a maratona de divulgação do filme no exterior?
Montenegro - Gloriosa. A cada
noite, temos uma experiência com
platéias as mais diferentes possíveis. Em Milão era um tipo de gente, em Roma, outro, completamente diverso, na Basiléia era um público de nível econômico mais elevado, em Bonn eram trabalhadores. Por algum mistério qualquer,
o filme toca as platéias de forma especial. Por sermos tão nós mesmos, acabamos nos tornando universais. É um filme brasileiro sem
ser folclórico, doutrinário. É emotivo, mas não melado; sensível,
mas não melodramático. Eu costumo dizer que cada país tem um
"Central do Brasil" dentro dele, em
suas periferias.
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