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George Clinton
especial para a Folha
George Clinton não faz show,
promove cultos. Autênticas festas
pagãs em que mais de 20 pessoas,
entre músicos, vocalistas e dançarinos, entoam um mantra poderoso, composto por fartas doses de
funk, soul e psicodelia.
Celebrações que chegam a durar
três, quatro horas e que tornaram
Clinton um dos pilares da música
negra americana, ao lado de James
Brown e Sly & The Family Stone.
Uma dessas festas ambulantes
acaba de chegar ao Brasil, via Paradoxx. O álbum duplo "Live... And
Kickin'" traz diversas performances de Clinton, gravadas em 29 cidades americanas.
Nelas, o papa do funk lisérgico se
apresenta com a P-Funk All Stars,
que reúne integrantes das duas
principais encarnações de Clinton:
o Parliament e o Funkadelic.
O disco é uma boa introdução ao
trabalho desse visionário do funk,
cuja discografia em CD é praticamente inédita no Brasil. São 15
composições, pinçadas do repertório de Parliament/Funkadelic e
da carreira solo, além de três músicas novas.
A P-Funk All Stars pisa nos palcos desfalcada de seus dois integrantes mais celebrados. O soberbo baixista Bootsy Collins e o tecladista Bernie Worrell há muito
deixaram a banda.
Mas, em compensação, o grupo
mantém seus guitarristas (Garry
Shider, Blackbyrd McKnight e Michael "Kid Funkadelic" Hampton, todos feras) e tem em sua formação dois herdeiros naturais de
Clinton: o filho, Tracey Lewd, e a
neta, Shonda Clinton, ambos rappers de boa cepa.
De posse de todos esses ingredientes, George Clinton faz a festa.
Coloca o público para viajar com
"Cosmic Slop" e "Maggot's
Brain" -um maravilhoso lamento guitarrístico, mas cujo "grand
finale" foi cortado pelos produtores do disco e mostra as mumunhas do P-Funk em "Give Up the
Funk (Tear the Roof Off)" e "Make My Funk the P-Funk".
As curiosidades ficam por conta
de "Atomic Dog" e "Aquaboogie". A primeira foi escandalosamente reutilizada pelo rapper
Snoop Doggy Dogg -virou
"What's My Name", deixou o
rapper milionário, mas não tem
um décimo do poder de fogo do
clássico de Clinton.
"Aquaboogie", composição de
78, traz embutida o novo grito de
guerra da galera funk carioca: um
"a-há", parecido com o barulho
de uma águia.
Entre as novas canções, o destaque é "Good Love". Instrumental, ela lembra bastante o som da
primeira fase de Funkadelic,
quando a banda investia numa sonoridade mais psicodélica.
"Live... And Kickin'" tem apenas um defeito: não há no encarte
nenhuma informação sobre os
músicos da banda nem sobre os locais em que foram gravados os
shows. Mas dá uma boa idéia de
como Clinton virou o funk de cabeça para baixo.
(SM)
Disco: "Live... And Kickin'" (duplo)
Artista: George Clinton
Lançamento: Paradoxx
Quanto: R$ 36
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