São Paulo, terça, 20 de janeiro de 1998.



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George Clinton

especial para a Folha

George Clinton não faz show, promove cultos. Autênticas festas pagãs em que mais de 20 pessoas, entre músicos, vocalistas e dançarinos, entoam um mantra poderoso, composto por fartas doses de funk, soul e psicodelia.
Celebrações que chegam a durar três, quatro horas e que tornaram Clinton um dos pilares da música negra americana, ao lado de James Brown e Sly & The Family Stone.
Uma dessas festas ambulantes acaba de chegar ao Brasil, via Paradoxx. O álbum duplo "Live... And Kickin'" traz diversas performances de Clinton, gravadas em 29 cidades americanas.
Nelas, o papa do funk lisérgico se apresenta com a P-Funk All Stars, que reúne integrantes das duas principais encarnações de Clinton: o Parliament e o Funkadelic.
O disco é uma boa introdução ao trabalho desse visionário do funk, cuja discografia em CD é praticamente inédita no Brasil. São 15 composições, pinçadas do repertório de Parliament/Funkadelic e da carreira solo, além de três músicas novas.
A P-Funk All Stars pisa nos palcos desfalcada de seus dois integrantes mais celebrados. O soberbo baixista Bootsy Collins e o tecladista Bernie Worrell há muito deixaram a banda.
Mas, em compensação, o grupo mantém seus guitarristas (Garry Shider, Blackbyrd McKnight e Michael "Kid Funkadelic" Hampton, todos feras) e tem em sua formação dois herdeiros naturais de Clinton: o filho, Tracey Lewd, e a neta, Shonda Clinton, ambos rappers de boa cepa.
De posse de todos esses ingredientes, George Clinton faz a festa. Coloca o público para viajar com "Cosmic Slop" e "Maggot's Brain" -um maravilhoso lamento guitarrístico, mas cujo "grand finale" foi cortado pelos produtores do disco e mostra as mumunhas do P-Funk em "Give Up the Funk (Tear the Roof Off)" e "Make My Funk the P-Funk".
As curiosidades ficam por conta de "Atomic Dog" e "Aquaboogie". A primeira foi escandalosamente reutilizada pelo rapper Snoop Doggy Dogg -virou "What's My Name", deixou o rapper milionário, mas não tem um décimo do poder de fogo do clássico de Clinton.
"Aquaboogie", composição de 78, traz embutida o novo grito de guerra da galera funk carioca: um "a-há", parecido com o barulho de uma águia.
Entre as novas canções, o destaque é "Good Love". Instrumental, ela lembra bastante o som da primeira fase de Funkadelic, quando a banda investia numa sonoridade mais psicodélica.
"Live... And Kickin'" tem apenas um defeito: não há no encarte nenhuma informação sobre os músicos da banda nem sobre os locais em que foram gravados os shows. Mas dá uma boa idéia de como Clinton virou o funk de cabeça para baixo. (SM)

Disco: "Live... And Kickin'" (duplo) Artista: George Clinton Lançamento: Paradoxx Quanto: R$ 36


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