São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003 |
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Com novelas em crise, "A Casa das Sete Mulheres" sobe ibope e lucro da teledramaturgia da Globo Ambientada na Revolução Farroupilha, minissérie já começa a gerar polêmica entre historiadores Juntando os farrapos
LAURA MATTOS DA REPORTAGEM LOCAL Numa fase em que as três novelas da Globo estão frustrando as metas de audiência, a minissérie "A Casa das Sete Mulheres" começa a dar um certo fôlego à teledramaturgia da emissora. Além de ter batido até a novela das oito, "Esperança", na estréia (36 a 34), a trama de Maria Adelaide Amaral e Walter Negrão foi sintonizada, em seus sete primeiros capítulos, por mais da metade (52%) dos televisores ligados no horário, na Grande São Paulo, atingindo 31 de média no Ibope. São cerca de 1,5 milhão de domicílios, só na região metropolitana de SP, acompanhando a história. É mais do que conseguiram, no mesmo período, as polêmicas séries anteriores da Globo, "O Quinto dos Infernos" (2002) e "Presença de Anita" (2001), ambas com 29 pontos de média. Isso sem falar na comparação com "Os Maias" (2000/2001), a minissérie anterior de Maria Adelaide Amaral. Com o texto da autora e a direção de Luiz Fernando Carvalho, a série foi elogiada pela crítica, mas decepcionou no ibope, chegando a dar 13 de média. Em "A Casa das Sete Mulheres", outro parceiro foi escolhido para trabalhar com a autora. No lugar do diretor do elogiado "Lavoura Arcaica", entrou Jayme Monjardim, que dirigiu a novela "O Clone", um dos maiores fenômenos de audiência dos últimos anos. Antes mesmo de estrear, "A Casa" representava alívio para o clima pesado na dramaturgia da Globo, já que foram vendidas todas as cotas de patrocínio, num faturamento de R$ 7 milhões. O valor pagou o custo da série, em torno de R$ 5 milhões. Esse investimento, aliás, mostra outra realidade nas finanças da emissora, estando bem abaixo dos cerca de R$ 10 milhões (valor da época) gastos pela TV Globo na produção de "Os Maias", em 2000. Polêmica Bem de ibope e faturamento, "A Casa das Sete Mulheres" também voltou a dar repercussão à teledramaturgia da emissora. A minissérie é baseada no livro da escritora Leticia Wierzchowski, que romanceia a história da Revolução Farroupilha (1835-1845), movimento separatista antiimperial de habitantes da então província do Rio Grande. Segundo historiadores do Estado consultados pela Folha, algumas distorções históricas e geográficas que estariam sendo cometidas em "A Casa" (veja ao lado) incomodam gaúchos, já que este foi o episódio mais importante da história do RS e é motivo de orgulho da população. "Na universidade, ouvimos muitas reclamações pelo fato de a Globo estar exibindo batalhas onde elas não ocorreram e mostrar regiões muito distantes como se fossem vizinhas", diz o historiador Cesar Augusto Guazzelli, da Universidade Federal do RS, que deu uma palestra ao elenco da série. "Muita gente também está reclamando da maneira como os atores imitam o sotaque gaúcho", afirma Guazzelli, que acredita que as "pessoas cobram uma fidelidade impossível a uma minissérie". "Gaúchos são bairristas e essa guerra é a mais importante da história do RS. As distorções geográficas, necessárias à adaptação para a TV em minha opinião, geram críticas até por uma certa rixa entre moradores das duas regiões mostradas na série", diz o jornalista gaúcho Eduardo Bueno, consultor em história da Globo. A historiadora Hilda Hübner Flores (PUC-RS), que estudou o papel da mulher na Revolução Farroupilha, faz críticas à maneira como a Globo retrata o comportamento das mulheres. "Rosário, sobrinha de Bento Gonçalves, disse à mãe que ia tomar banho no rio, à noite, e saiu para ver um capitão do império. As pessoas raramente tomavam banho na época. Muito menos uma moça, no rio e à noite. E o romance entre alguém da família de Bento e um inimigo é inverossímil." O cineasta e escritor Tabajara Ruas, autor de dois romances sobre a Guerra dos Farrapos ("Os Varões Assinalados" e "Netto Perde a Sua Alma", que virou filme) defende a atração. "A minissérie se propõe a contar a mitologia e não a história do RS." Maria Aparecida de Aquino, historiadora da USP, acredita que, apesar de o ensino no Brasil ser deficiente, não é preocupante que a "A Casa" não seja fiel aos fatos. "As pessoas entenderão por que há uma cidade chamada Bento Gonçalves e podem se interessar mais por história. Verossimilhança não é função de minissérie." Sobre as críticas de gaúchos, diz a autora de "A Casa das Sete Mulheres": "É direito deles, mas é um aspecto insignificante perto do que representa a divulgação e difusão de um momento histórico". Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frase Índice |
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