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São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003

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Arte do diálogo

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

Num momento em que escasseiam as perspectivas de paz no Oriente Médio, artistas palestinos e israelenses tomam a iniciativa e demonstram que a integração é não apenas possível como também extremamente produtiva.
Como parte dos eventos culturais promovidos durante a realização do Fórum Social Mundial, entre a próxima quinta-feira e o dia 28, a Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, vai expor 35 gravuras de artistas plásticos de Israel (entre eles, Gershon Knispel, Sigalit Landau e Micha Ullman) e dos territórios palestinos (como Hossni Radwan, Hisham Muhsin e Bashir Abu-Rabia). As obras irão depois para São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, antes de percorrer outras cidades da Europa e dos Estados Unidos. A exposição também percorre Israel e os territórios palestinos. Foi aberta em Jaffa (na galeria Hagar) no último dia 5 e deve se iniciar em Jerusalém Oriental ainda nesta semana.
"Temos 35 artistas para representar os 35 anos de ocupação israelense da Cisjordânia, de Gaza e de Jerusalém Oriental. Atualmente, a fogueira da esperança está praticamente extinta, e estamos soprando a brasa para reacendê-la", explica Knispel, 70.
"A maioria dos intelectuais quer deixar claro que o que está acontecendo não é em nosso nome. Nós nos recusamos a viver na situação atual. Estamos fazendo de tudo para salvar o caminho do diálogo entre vizinhos."
A exibição atual é consequência de uma iniciativa do início dos anos 1980, quando Knispel era presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Israel. À época, ele, Suleiman Mansour e outros artistas promoveram as primeiras exposições -em Haifa (1980), Jerusalém (1981) e Tel Aviv (1982)- com o intuito de oferecer aos artistas palestinos uma oportunidade para exibir suas obras, que eram vetadas por autoridades israelenses. Eles também organizaram uma série de projetos conjuntos contra a ocupação e por um futuro baseado em uma convivência segura e igualitária, em que a cultura é vista como um elemento de aproximação.
A última exposição conjunta foi realizada em 1997, sob o título "Compartilhando Jerusalém".
Para a exposição atual, grupos de artistas palestinos e israelenses trabalharam em conjunto com a Coalizão da Paz Israelo-Palestina. Os princípios defendidos, segundo os organizadores, são: 1) fim da ocupação israelense de territórios palestinos; 2) dois Estados para dois povos; 3) Jerusalém compartilhada; e 4) apoio a meios não-violentos de resolver o conflito e de um diálogo pacífico.
"Quando o Likud [partido do premiê de Israel, Ariel Sharon" resolveu rejeitar publicamente o Estado Palestino, em maio do ano passado, nós nos assustamos. E agora estamos ainda mais preocupados com a possibilidade de reeleição de Sharon [nas eleições do próximo dia 28], apesar das acusações de corrupção que enfrenta. A solução para o conflito israelo-palestino é o fim da ocupação e a volta imediata ao diálogo", acredita Knispel.
As gravuras, impressas em silkscreen (100 x 75 centímetros), serão vendidas a US$ 6.000 a fim de pagar as despesas com a realização da obra e financiar outras atividades em prol da paz, de acordo com os organizadores.

Oscar Niemeyer
Além das 35 gravuras, obras de Oscar Niemeyer que passaram por uma intervenção de Gershon Knispel integram a exposição. Em uma delas, Niemeyer (que visitou Jerusalém em 1964) escreveu: "Por um mundo melhor. O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar. Quando a miséria se multiplica, e a esperança foge do coração dos homens... Só a revolução".



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