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ERUDITO NA MODA
No Ipiranga, saias continuam rodadas
LILIA MORITZ SCHWARCZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em meados do século 19, o Museu do Ipiranga pouco lembrava o
romântico ato da Independência
de 1822. Era conhecido como um
museu de etnografia. Nos entornos do museu construiu-se um
jardim francês, próprio para a
prática do "trotoir".
Mulheres freqüentavam os jardins com suas saias amplas, rodadas e longas, uma leve almofada a
arrebitar a parte traseira do corpo, enquanto o espartilho, bem
disfarçado, esculpia a silhueta.
Tudo fazia parte de um jogo simbólico bem jogado: o de pertencer
a uma sociedade que se queria européia. Tudo tinha de parecer natural e esconder o teatro que se
realizava sob o sol dos trópicos.
No desfile da Cavalera, as saias
continuam rodadas, mas subiram
acima dos joelhos; os braços, antes cobertos, agora permitem ver
o que já foi indecente; e até o passeio, que na época realizava-se ao
cair da tarde, foi feito sob o sol escaldante do meio-dia.
Os viajantes oitocentistas estranharam a cor mais morena da elite brasileira. No desfile, porém, a
brancura imperou e só para tentar
equilibrar surgiram duas modelos mulatas, duas negras e uma
nissei. Também nada de espartilhos, a moda gorducha foi substituída pela silhueta alongada. "São
gostos", dizia Adélia, vaidosa personagem de José de Alencar que
compartilhava daquela febre de
bailes, jardins e desfiles ao ar livre.
LILIA MORITZ SCHWARCZ é historiadora
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