São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Análise

Adjetivos contra ritmo dizem mais sobre os críticos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sexo, palavrões, perversões, culto às drogas, machismo, preconceito contra gays. Os primeiros textos que li sobre reggaeton, e lá se vão uns dez anos, pareciam descrever não um novo gênero musical, mas a besta do apocalipse. Ao ouvir as primeiras músicas, comecei a desconfiar que as toneladas de adjetivos contra o reggaeton diziam mais sobre os críticos do que sobre a própria música.
Sexo? É matéria-prima da música de entretenimento desde os anos 20 do século 20, pelo menos. Palavrões e preconceitos sempre existiram na música popular. O que a crítica não suportava era o atrevimento dos negros e mulatos latinos -e pobres- se comportando como rappers americanos.
Esse preconceito é cíclico e volta sempre que os negros colocam algum ritmo novo em circulação -foi assim com o jazz, com o rock, com o funk (o original e o carioca) e com o rap. No caso do reggaeton, porém, há um agravante: os países da América Latina onde o reggaeton reina são mais preconceituosos contra os negros do que o Brasil.
O reggaeton virou uma mania que atravessa a América, de Nova York à Patagônia, por uma questão geracional -os jovens estavam órfãos de uma música que tivesse a cara deles. Nada contra salsa, merengue ou calipso. Mas, para os mais jovens, o mundo só parece fazer sentido se vier embalado no ritmo que cultuam.
Agora esse mundo meio cafajeste faz parte do passado. O reggaeton virou música respeitável. O Calle 13 é formado por garotos que fizeram universidade. O ritmo está nos discos de MIA, de Santigold e de Major Lazer. Como sempre acontece, enquadraram a malandragem.


Texto Anterior: Escracho latino
Próximo Texto: Sérgio Cardoso terá reforma e reocupação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.