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Análise
Adjetivos contra ritmo dizem mais sobre os críticos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sexo, palavrões, perversões,
culto às drogas, machismo, preconceito contra gays. Os primeiros textos que li sobre reggaeton, e lá se vão uns dez anos,
pareciam descrever não um novo gênero musical, mas a besta
do apocalipse. Ao ouvir as primeiras músicas, comecei a desconfiar que as toneladas de adjetivos contra o reggaeton diziam mais sobre os críticos do
que sobre a própria música.
Sexo? É matéria-prima da
música de entretenimento desde os anos 20 do século 20, pelo
menos. Palavrões e preconceitos sempre existiram na música popular. O que a crítica não
suportava era o atrevimento
dos negros e mulatos latinos -e
pobres- se comportando como
rappers americanos.
Esse preconceito é cíclico e
volta sempre que os negros colocam algum ritmo novo em
circulação -foi assim com o
jazz, com o rock, com o funk (o
original e o carioca) e com o
rap. No caso do reggaeton, porém, há um agravante: os países
da América Latina onde o reggaeton reina são mais preconceituosos contra os negros do
que o Brasil.
O reggaeton virou uma mania que atravessa a América, de
Nova York à Patagônia, por
uma questão geracional -os jovens estavam órfãos de uma
música que tivesse a cara deles.
Nada contra salsa, merengue
ou calipso. Mas, para os mais
jovens, o mundo só parece fazer sentido se vier embalado no
ritmo que cultuam.
Agora esse mundo meio cafajeste faz parte do passado. O
reggaeton virou música respeitável. O Calle 13 é formado por
garotos que fizeram universidade. O ritmo está nos discos de
MIA, de Santigold e de Major
Lazer. Como sempre acontece,
enquadraram a malandragem.
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