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Sérgio Cardoso terá reforma e reocupação
Teatro, que completa 30 anos em outubro próximo, tem 15 salas de ensaio desocupadas e sérios problemas estruturais
Projeto de revitalização inclui transformação do espaço em centro cultural e montagem de uma ópera cômica sobre o Bexiga
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao assumir a direção artística da Associação Paulista dos
Amigos da Arte (Apaa), responsável pelo teatro Sérgio Cardoso, Mário Mazetti perguntou ao
ator Marcos Breda o que deveria fazer para recuperar o espaço que, um dia, integrou a chamada Broadway tupiniquim.
"Construa um shopping", provocou o ator, cansado de ver os
teatros encastelados em shoppings e centros empresariais.
Era tudo o que Mazetti precisava ouvir.
O contraexemplo deu o empurrão para que o desejo que
martelava na cabeça de Mazetti
se tornasse um projeto. "Temos que trazer as pessoas de
teatro de volta para cá e queremos nos reaproximar do bairro", diz Mazetti, ele próprio
mais dedicado à TV e ao cinema
do que ao teatro nos últimos
anos. "Este teatro definhou. Ele
acompanhou um pouco a decadência do bairro. É mais ou menos o que aconteceu com os cinemas de rua", diz, de costas
para uma das janelas do prédio
da rua Rui Barbosa.
"O que eu tinha de boa lembrança daqui era a efervescência. Mas o espaço foi sendo desocupado, parece que tinham
até um certo medo de que os
atores ocupassem o teatro",
brinca, sentado à mesa de reuniões da sala com cara de repartição pública.
A desocupação à qual se refere não diz respeito à agenda do
teatro, sempre tomada por
companhias que usam o palco
para grandes peças, musicais
ou espetáculos de dança. Mas
ao tipo de ocupação.
"O teatro passou, simplesmente, a ceder espaço para
companhias, por um custo que
tornava inviável a presença de
grupos menores", diz Mazetti.
"Como poder público, devemos
devolvê-lo para a classe teatral." Quem não puder bancar o
aluguel, explica, poderá negociar os custos ou até mesmo
oferecer contrapartidas -fazendo, por exemplo, oficinas.
Hoje, as 15 de salas de ensaio
são utilizadas como depósito
ou estão, simplesmente, fechadas. A Apaa -Organização Social que recebe recursos do governo estadual para manter o
teatro- quer vê-las de novo
ocupadas. Entre os planos, está
a transformação do teatro numa espécie de centro cultural,
com café, espaço para leitura e
exposições. As duas primeiras
terão como tema o ator Sérgio
Cardoso (1925-1972) e o diretor
e dramaturgo Paschoal Carlos
Magno (1906-1980), que dão
nome às duas salas do teatro, de
856 e 144 lugares.
Está em curso também a licitação para reforma da fachada e
do hall de entrada. "Você entrou pela frente? Correu risco
de levar um tijolinho na cabeça", disse, rindo, Mazetti.
Ópera do Bexiga
Para marcar a nova fase do
teatro, inaugurado pelo governo em 1980, depois de um vaivém de confusões, a Apaa montará a "Ópera do Bexiga", musical "cômico e brasileiro".
Para a composição da equipe,
serão realizadas oficinas de formação de técnicos -de contrarregras a maquiadores. "Um
dos erros que o mundo teatral
tem cometido é jogar apenas
atores no mercado, sem formar
técnicos." A montagem, que
reunirá histórias do bairro,
canções e humor, terá em cena
40 atores, bailarinos e uma dupla de cômicos.
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